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Como estudantes estão falando sobre feminismo com crianças

Temas

  • arte e cultura
  • bullying e discriminação
  • cidadania e direitos humanos
  • educação
  • gênero e sexualidade

Venâncio Aires - RS

Ano de Inscrição: 2020

status Premiado

ODS

13/01/2020 - Por Criativos

Audiolivro sobre mulheres na História já foi entregue para 28 escolas e apresentado em diversos países da América do Sul

Como apresentar às crianças narrativas de mulheres que fogem do estereótipo mostrado nos contos de fada? A partir de reflexões trazidas por uma professora e também incomodados com as histórias de mulheres apresentadas como frágeis e dependentes de um príncipe encantado para encontrar a felicidade, um grupo de estudantes do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Alfredo Scherer, em Venâncio (RS), transformaram o incômodo no projeto “Elas por elas: o protagonismo feminino em histórias reais narradas para crianças em um audiolivro“.

+ Acesse o “Elas por elas: um audiolivro infantil”

“Selecionamos as mulheres, juntamente com a turma e decidimos fazer histórias sobre elas para que fossem contadas para as crianças de menor idade. E assim surgiu a ideia do audiolivro”, conta a aluna Kellen Hoffmann, uma das participantes do projeto e hoje aluna do 1º ano do Ensino Médio em outra escola, que, junto aos seus colegas, pensou em um formato que pudesse sensibilizar os colegas menores de maneira lúdica.

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Os primeiros passos foram dados em 2017, a partir de discussões sobre o tema por meio de músicas e vídeos. As meninas e meninos envolvidos ficaram tão tocados pela temática que começaram a refletir como aquilo que estavam vendo na escola acontecia na vida das mulheres hoje e a importância de multiplicar seus conhecimentos para os colegas mais novos.

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Kellen conta que a experiência colaborou também em seu crescimento enquanto jovem, expandindo os conhecimentos. “O projeto representa grande parte da minha vida. Cada partezinha do projeto me deixa imensamente feliz em realizá-la, desde contar  história para crianças, até viajar para fora”. 

Para outra aluna participante, Kelli Guterres, agora estudante do 2º ano do Ensino Médio, mas que também continua atuando na escola, foi preciso muita persistência para dar continuidade à ideia, já que o grupo ouvia que não iriam conseguir seguir na construção da iniciativa, por ser um tema tabu na sociedade.  “Falavam que ninguém iria querer discutir isso.O que fez com que eu criasse ainda mais força e mais determinação para seguir em frente”, conta.

Mãos na massa e investigação

Histórias de mulheres para crianças na escola

Histórias de mulheres para crianças na escola

Para conseguir contar as mais diferentes histórias às crianças, o grupo mergulhou em pesquisas bibliográficas sobre mulheres incríveis em suas áreas de atuação. Destas, cinco foram selecionadas como personagens principais para o audiolivro: Carolina Maria de Jesus, Malala, Anne Frank, Caá-Yari e Frida Kahlo. Para cada uma delas, foram escritas biografias adaptadas para o público infantil.

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O processo de pesquisa foi tão rico, que permitiu a aprendizagem dos mais diversos temas e habilidades. Para além do mergulho nas histórias das mulheres e de criarem novos meios linguísticos para contar as narrativas colhidas, o grupo passou a entender o que era o feminismo e sua importância na sociedade. “Muitas coisas sobre feminismo eu não sabia, fiquei sabendo através desse projeto, porque no início a gente começou trabalhar primeiro o que é o feminismo para depois focar mais nas histórias”. 

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Para a professora de Artes e orientadora do projeto, Fernanda Saldanha, o feminismo pode ser um tema transversal na escola, passando por todas as disciplinas e colaborando para que meninos e meninas tenham dimensões sobre as questões de gênero que os rondam. “Acredito que essa discussão precisa estar presente em todos os momentos, em qualquer aula, precisamos falar sobre feminismo, condenar práticas machistas, empoderar as meninas, trazer os meninos para a luta conosco”.

Após esta etapa, as cinco histórias ganharam narrações produzidas pelas próprias estudantes em seus celulares e contaram com o apoio de um colega do grupo para a produção dos efeitos sonoros, recurso utilizado com o objetivo de tornar o material ainda mais interessante para os alunos que iriam escutá-lo.

Para a aluna Kellen, essa fase foi uma das partes mais especiais do processo de criação do audiolivro, já que os estudantes puderam ampliar os laços de amizade uns com os outros, assim também com a educadora orientadora. “A turma começou a se relacionar muito melhor, pensar, escrever, produzir e apresentar oralmente com mais facilidade. E a relação alunos-professores acabou se tornando uma grande amizade com muito amor e reciprocidade”, diz. 

Compartilhando ideias

Ao finalizar o audiolivro, os e as  estudantes tiveram a ideia de distribuir o material em outras unidades de ensino da cidade e circularam por todas as 28 escolas municipais de Venâncio, com a colaboração da Secretaria Municipal de Educação. Para além da simples distribuição, fizeram também uma contação de história ao vivo durante o ato de entrega.

“Dava pra ver no rostinho delas [crianças] que elas viam que as histórias não eram de um conto de fadas. Elas mesmas falavam ‘nossa, essa história não tem um príncipe encantado’. Isso a gente notou muito e fez total diferença pra mim”, conta, orgulhosa, a estudante Kelli. “Se vestir para apresentar o trabalho em feiras também foi algo encantador, que me fez evoluir muito. Eu era uma pessoa que não sabia falar em público, eu tinha muita vergonha. A partir do projeto eu consigo me expressar melhor”, complementa.

Para Fernanda, o projeto driblou os muros da escola e ampliou para toda a cidade de Venâncio Aires as histórias de mulheres “fortes e corajosas”, que antes não eram conhecidas por boa parte do público que recebeu o audiolivro ou, então, participou de eventos de contação de história.

Estudantes contam histórias de mulheres para crianças/ Divulgação

Estudantes contam histórias de mulheres para crianças/ Divulgação

Heroínas de Venâncio Aires

Com o objetivo de contar as histórias das mulheres da própria cidade, o grupo decidiu produzir a segunda versão do audiolivro. Por meio de um chamado nas redes sociais, os alunos e alunas receberam diversas histórias em 2019 e selecionaram quatro delas para pesquisar, entrevistar e torná-las acessíveis em áudio. A edição já está pronta e também vem sendo apresentada nas demais escolas da região.

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“A gente pode ver que, em nossa cidade, também existem mulheres empoderadas e que passaram por grandes dificuldades. Das doze mulheres inscritas, contamos as histórias da Sara da Rosa, Maria Philomena Miranda, Locrécia da Cruz e a Rosa Riedel”, explica Kelli. 

Para a produção do segundo volume, as alunas visitaram a casa dos familiares dessas mulheres e resgataram suas memórias, já que muitas delas já haviam falecido, a partir de um rico processo de escuta e aprendizado, onde as trajetórias pessoais se mesclam com a própria história do município.

Meninas contam histórias de mulheres para crianças/ Divulgação

Meninas contam histórias de mulheres para crianças/ Divulgação

“Marcamos encontros com as famílias e entrevistamos os mais próximos das mulheres selecionadas. [Eles] nos mostravam fotos, falavam do que eles mais gostavam e, a  partir disso, a gente transcreveu todos os áudios, produzidos com celular, e montamos as histórias das quatro mulheres”, explica Kelli, que acredita que todas as mulheres têm histórias de vida para contar. “Tanto nossas avós, mães e tias têm histórias como essas do audiolivro pra contar. Então o principal foco dos audiolivros é mostrar que os contos de fadas não são a realidade dos nossos dias”.

De Venâncio para o mundo

Segundo o grupo, o material já chegou a mais de mil pessoas e possui até uma versão em espanhol. Com a ajuda da professora de idiomas na escola, os estudantes traduziram o material e o apresentaram em diversos países da América do Sul, como a Feira de Ciências en Encarnación, no Paraguai, em 2018, e em 2019, na Feria Internacional de Ciências e Tecnologia (Cientec), em Lima, no Peru. Com a participação no evento peruano, o grupo garantiu credenciamento para participar em uma feira similar em Porto Rico, em abril de 2020.

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“O projeto motivou muito as e os estudantes da escola a quererem desenvolver projetos e também foi importante para toda a comunidade venancioairense, visto que, esse foi o primeiro da rede municipal a representar a cidade em uma mostra/feira internacional”, diz  Fernanda, que conta que o grupo já está se preparando para o próximo evento  internacional e segue distribuindo o segundo audiolivro para as demais escolas da região durante o ano de 2020.

Texto: Jéssica Moreira e Andrea Xavier
Imagens: Divulgação

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