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Sem tabu: jovens criam grupo de apoio para enfrentar depressão no DF

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Brasília - DF

Ano de Inscrição: 2019

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21/09/2020 - Por Criativos

Depois de um fato triste e irreversível, estudantes de Brasília se mobilizam e criam o Grupo de Enfrentamento à Depressão e ao Suicídio

Era um dia de prova, em agosto de 2018, quando chegou a notícia de que uma adolescente havia tirado a vida em um shopping próximo ao CEMEIT – Centro de Ensino Médio Escola Industrial de Taguatinga, em Brasília (DF). Impactados com o ocorrido e pensando em suas próprias questões, os adolescentes do CEMEIT se sentiram provocados a tomar alguma atitude e fazer algo pela saúde mental de todos. 

“Não era da nossa escola, mas era uma menina da nossa idade, poderia ter sido qualquer um de nós”, lembra Caroline Martins, que, na época, cursava o segundo ano do Ensino Médio na escola e, hoje, tem 18 anos.

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Ana Beatriz Garcia, 18 anos, reforça: “Todo mundo ficou comentando sobre isso e pensamos que faltava algo na escola que mostrasse pras pessoas que elas não estão sozinhas. Algo de jovem para jovem”. 

Foi aí que decidiram procurar o educador Gabriel Rodrigues, que sugeriu uma reunião com todos os interessados em participar da iniciativa. “Costumo dizer que sou o promotor e eles são os motores. Eu incentivo, mas a voz é toda deles”.

O projeto GEDS – Grupo de Enfrentamento à Depressão e ao Suicídio foi finalista da quinta edição do Desafio Criativos da Escola em 2019.

Dando vida ao projeto

Vitoria Kalil, que, hoje tem 20 anos e é coordenadora do GEDS, conta como foi o primeiro encontro. “A gente se surpreendeu, tinha mais de 80 pessoas na sala. Pensamos quais ações poderíamos tomar e foram surgindo várias ideias de atividades. Ali que o projeto começou a se formar.” Decidiram que Gerando Amor seria o nome do Grupo de Enfrentamento à Depressão e Suicídio, que ficou mais conhecido pela sigla GEDS.

Logotipo do projeto GEDS. Na parte superior da imagem, há o desenho de um coração amarelo, com as letras GE (em branco) dentro, e logo ao lado e fora do desenho, as letras DS em amarelo. O coração está sendo amparado por uma mão preta e, embaixo dela está escrito Gerando Amor.

O logotipo do GEDS foi escolhido por meio de um concurso na escola – Foto: Divulgação

Com o grupo formado, os estudantes viram a necessidade de buscar o apoio dos professores e funcionários. “Fizemos uma reunião com o corpo docente e esse foi o momento que mais mexeu comigo. Eu tinha uma visão muito diferente da que passei a ter sobre os professores, a coordenação e a direção.”, conta a estudante Caroline Martins.

“Você é especial!”

A primeira atividade ficou conhecida como o Dia do Acolhimento. Os estudantes produziram 2.600 mensagens à mão com frases como “você é especial”, “você é amado”, “você é importante”. Na porta da escola, recepcionaram as pessoas e distribuíram os bilhetes e também sorrisos e abraços.

Distribuição mensagens à mão e abraços no Dia do Acolhimento - Foto: Divulgação

Distribuição mensagens à mão e abraços no Dia do Acolhimento – Foto: Divulgação

Vitória conta que, na primeira vez, muita gente passava direto e com olhar de estranhamento. “Tem gente que não é acostumada a receber esse afeto. Depois, as pessoas já chegavam mais entusiasmadas e dispostas a interagir com a gente”. 

A reação dos estudantes variava bastante, lembra Caroline. “Eu nem consigo contar quantas pessoas choraram nos abraçando. Teve gente que disse que nem queria ir pra escola e estava pensando em desistir de tudo. Saber que tem alguém ali para poder abraçar é muito importante”.

Os próprios integrantes do grupo também foram impactados, como é o caso da Larissa Sousa, de 18 anos, aluna do terceiro ano: “Às vezes, as pessoas pensam que a gente só está lá dando força, mas a gente também precisa. Os abraços serviam pra gente também”.

A escola não é só para estudar

Um mês depois da criação do GEDS, os estudantes chamaram os pais da menina que suicidou para ouvir o depoimento deles e prestar solidariedade. O auditório estava lotado e foi um momento muito marcante. 

Na sequência, vieram outras atividades como oficinas de teatro, dança e música e seminários. Além disso, o grupo promoveu encontros com a participação do CVV – Centro de Valorização à Vida e rodas de conversa sobre diversos temas como autoconhecimento, empoderamento feminino, autoestima e masculinidade. 

Estudantes do projeto GEDS - Gerando Amor

Estudantes do projeto GEDS – Gerando Amor – Foto: Divulgação

Espalharam pela escola as “Caixinhas do Desabafo”, em que as pessoas podiam depositar por escrito seus sentimentos, sem a necessidade de se identificar. O grupo chegou a outras escolas e na Câmara Distrital e Federal para compartilhar a ideia do projeto e inspirar outras pessoas. 

Segundo o educador Gabriel, o papel do GEDS é fazer os estudantes enxergarem que eles não estão na escola não só para estudar. “Isso é importante, mas eles estão ali também para ser gente. Vão se descobrindo enquanto pessoa e nós vamos nos relacionando enquanto pessoas. A escola precisa ser um lugar de envolvimento e desenvolvimento”.

Educador também sente

“Fico até emocionada de falar. A gente, muitas vezes, vê o corpo docente resumido a apenas uma figura de autoridade, mas lembro que alguns professores, até dos mais rígidos, choraram contando suas histórias e ouvindo nossas preocupações e nosso pedido de apoio. Não foi só a gente que viu que eles sentiam, eles também viram que nós sentíamos”. 

Esse encontro trouxe outra perspectiva e os estudantes identificaram, então, a necessidade de um apoio mútuo, como explica Nicole Silva, 17 anos, aluna do 3º ano do Ensino Médio: “Eu acho importante o projeto de acolhimento não só para os alunos, mas também para os professores e funcionários, que estão na linha de frente lidando com várias realidades e personalidades diferentes”.

Quando ajudo, também recebo ajuda

Ao movimentar o projeto, os integrantes também foram impactados positivamente, o que fez com que muitos ex-alunos continuassem participando, como é o caso da Vitória, que, hoje, cursa Letras na UNB. “Com o GEDS, eu descobri que não sou um ser individual, eu me enxergo no outro. Dá sentido à minha existência perceber que eu posso e consigo ajudar com simples atitudes”.

Larissa concorda: “Nada melhor do que receber um ‘Muito obrigado, você me ajudou!’. Isso, para mim, foi a maior gratificação. Foi o que agregou na minha vida e tirou as minhas mágoas, por causa do GEDS, hoje, eu sei dizer um eu te amo”. 

Não foi diferente para o educador Gabriel: “Se resumir em duas palavras o impacto do GEDS na minha vida seria renovação e provocação. Me trouxe uma renovação profissional e também humana, ao ser provocado por adolescentes que, muitas vezes, são tão desacreditados. Ao ver que boas sementes estão sendo plantadas, faz todo o sentido meu papel de educador”.

De braços abertos além dos muros da escola

O GEDS se coloca como um projeto de voluntariado preocupado com saúde mental, aberto a quem quiser interagir com eles, seja para pedir ou oferecer ajuda, fazendo ou não parte da escola, como destaca Caroline: “Independentemente de ter surgido no CEMEIT, em Brasília, somos um projeto aberto e estamos aqui para todos aqueles que quiserem nos procurar. Temos algumas parcerias com profissionais, mesmo assim precisamos muito disso. Se alguém da área da saúde, da educação ou até mesmo de segurança pública se interessar pelo projeto, estamos abertos e vamos ficar muito gratos”. 

Para saber mais sobre a iniciativa, acesse a página do GEDS no Instagram.

O Gerando Amor em tempos difíceis

Com a interrupção das atividades presenciais e com o isolamento social, a internet ajudou a manter o grupo ativo. “O ser humano tem essa incrível capacidade de se reinventar e com o GEDS não podia ser diferente”, conta Vitória. 

Hoje, fazem rodas de conversa por videochamadas, lives no Instagram com a participação de psicólogos e desafios com atividades que podem ser feitas em casa, tais como cozinhar para a família, escrever uma mensagem de gratidão, ouvir uma música que traga bons sentimentos. Além disso, criaram também o Simplifica GEDS, um perfil no Instagram que compartilha conteúdos como resumos, dicas de estudo e de videoaulas para facilitar a aprendizagem no ensino à distância.

 

Redação: Marina Finicelli
Edição: Helisa Ignácio

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