Além de informações acessíveis sobre o novo coronavírus, app desenvolvido por adolescentes disponibiliza depoimentos de farmacêuticos, agentes de saúde e médicos.
Em 2020, à medida que a pandemia de covid-19 avançava pelo país, avançava também um torrencial de desinformações referentes à doença. Uso impróprio de remédios para combater o vírus, falsos sintomas após a vacinação e outras fake news encontraram espaço nas redes sociais, deixando pessoas confusas e mal informadas.
Foi durante esse período de falta de informações e confusão generalizada que um grupo de estudantes da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Waldemiro Hemerley, em Rio Novo do Sul (ES), decidiu que queria outra realidade para seu município. Sem experiência prévia com tecnologia, eles se lançaram na empreitada de criar o aplicativo CuidaApp – A Saúde na Palma da Mão. O projeto foi um dos premiados na sexta edição do Desafio Criativos da Escola.

Brenno Alves, Pietra Távora e Sara Bayerl criaram o projeto CuidaApp – Foto: Divulgação
“Com o surto de coronavírus, percebemos que as pessoas estavam perdidas em relação às informações que estavam chegando, não sabiam filtrar o que era verdade ou mentira”, explica Pietra Távora, de 16 anos. “O nosso grupo resolveu, então, fazer algo que pudesse ser oferecido à população e dentro da nossa realidade, para que as pessoas tivessem acesso à informação de forma simples, clara e segura.”
Um app funcional e em diálogo com as disciplinas da escola
Entre as funcionalidades do app, que pode ser acessado em qualquer navegador da internet, é possível encontrar entrevistas com farmacêuticos, agentes de saúde, médicos e diretores de escola; informações sobre remédios; e também boletins sobre a situação da pandemia na cidade.
O grupo de estudantes teve que se desdobrar em leituras e pesquisas para acompanhar as atualizações frequentes sobre o combate à pandemia. “A cada minuto, surgia uma nova informação, algum alimento, chá, medicamento milagroso contra a covid-19. Íamos atrás da informação verdadeira para poder levá-la para quem acessava o nosso aplicativo”, explica Breno.
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Para fazer uma ponte com educação formal, os jovens também prepararam um questionário para os outros estudantes relacionando a temática da pandemia com conteúdos de Química, Biologia e Física, por exemplo. Um dos saldos positivos de tanta pesquisa foi a oportunidade tornar as disciplinas que estavam estudando no Ensino Médio, mais tangíveis.

Estudantes do CuidaApp participam de reportagem na televisão – Foto: Divulgação
“Além do contato com a área de tecnologia, eu adorei me aprofundar nos estudos sobre Química”, recorda Sara Bayerl, de 16 anos. “Vi química orgânica para entender a composição dos remédios. Vi também as relações entre Química e Biologia para estudar os efeitos destes remédios no organismo, ou como nosso corpo reage às doenças.”
O conhecimento adquirido no processo está disponível no aplicativo em formato de questionário. Dentro dele, pessoas que quiserem saber mais têm informações sobre os processos químicos e biológicos pesquisados durante o desenvolvimento do app. Também estão disponíveis entrevistas com diretores de escolas locais sobre a volta às aulas e pandemia.
Pandemia, pesquisa, tecnologia e desafios
Não foram poucos os desafios enfrentados pelos jovens para criar o aplicativo. O primeiro deles teve a ver com ver com a própria tecnologia. Nenhum dos estudantes tinham familiaridade com desenvolvimento web. Durante os meses de criação do aplicativo, o grupo pôde contar com a ajuda de um desenvolvedor, mas foram responsáveis pela maior parte do trabalho.
“Montamos a interface do aplicativo, seu design, a programação, entendendo como encaixar cada código. Tínhamos que entender como disponibilizar de maneira mais acessível as entrevistas, os textos, e as informações, além do quiz que montamos para os outros estudantes”, relembra Breno Wetler, de 17 anos.

Apresentação do projeto CuidaApp – Foto: Divulgação
Outra parte desafiadora da criação foi a ida a campo para coletar informações com farmacêuticos, agentes de saúde e médicos. Os estudantes foram em inúmeras farmácias e consultórios para montar o banco de entrevistas com especialistas que deram respaldo científico ao conteúdo produzido no aplicativo.
“No início, foi complicado, porque as farmácias estavam muito sobrecarregadas, e não tinham tempo na agenda para nos receber”, relembra Breno. Também foi bastante desafiador a locomoção até farmácias e consultórios, o que envolvia realizar entrevistas seguras e que coubessem no tempo tantos dos profissionais de saúde quanto dos estudantes.
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O professor Tarcísio dos Santos Leite, que coordenou o projeto junto com educador Guilherme Ribeiro, explica que o próprio tema de fake news e covid-19 dificultava a abordagem. “Alguns profissionais de saúde tinham resistência para falar do tema. E não é uma resistência de não querer falar, é medo de falar errado. E isso é normal, porque era uma situação nova para todo mundo. Havia profissionais de saúde que tinham medo de falar que cloroquina não serve para combater a covid-19, por exemplo.”
Mesmo frente a estes desafios, os estudantes avaliam que a cidade foi bastante participativa no processo de construção do aplicativo. “Foi gratificante, porque, depois de um tempo de aplicativo, as pessoas começaram a nos acolher e a também se sentir acolhidas e cuidadas pelo aplicativo, num momento difícil que foi e está sendo a quarentena”, conclui Breno.
Redação: Cecília Garcia
Edição: Helisa Ignácio