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Dia da Mulher Negra: celebrar potências e debater raça e gênero na escola

Quinze jovens mulheres posam em uma área aberta e arborizada. Elas usam vestidos e saias estampadas
Quinze jovens mulheres posam em uma área aberta e arborizada. Elas usam vestidos e saias estampadas

22/07/2021 - Por Helisa Ignácio

Conheça 5 projetos de crianças e adolescentes que estão promovendo conhecimento, cultura e história afro-brasileira a partir de uma perspectiva de raça e gênero em suas escolas

O dia 25 de Julho celebra as lutas, saberes e potências das diversas mulheres negras, latinas e caribenhas. Em 1992, nesse mesmo dia, mulheres negras se reuniram na cidade de São Domingos, na República Dominicana, e organizaram o primeiro Encontro de Mulheres Negras, Latinas e Caribenhas. O intuito deste grupo pioneiro era discutir e combater a opressão de gênero, a exploração e o racismo. A data, então, é instituída pela Organização das Nações Unidas como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.

No Brasil, país com altos índices de desigualdade racial e de gênero, mulheres como a antropóloga Lélia Gonzalez (1935-1994) ou a escritora Conceição Evaristo são mulheres que promovem a luta de lideranças históricas como Dandara (falecida em 1694), liderança corajosa do célebre Quilombo dos Palmares. No ano de 2014, foi instituído por meio da Lei nº 12.987, o dia 25 de julho como o Mulher Negra e Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola símbolo de luta e resistência do povo negro.

Não por acaso, a figura heróica de Dandara nomeia o projeto Filhas de Dandara, uma das iniciativas premiadas na última edição do Desafio Criativos da Escola. Realizado por três estudantes do colégio Instituto Federal de Minas Gerais, na cidade de Ribeirão das Neves (MG), o projeto se dedica ao letramento racial dos alunos, criando conteúdos a partir da realidade local do município que, como tantos outros na América Latina e no Caribe, tem uma maioria de população negra. 

Montagem de 4 fotos com 3 adolescentes e uma mulher negra. Três delas sorriem para a câmera e outra olha para o lado.
Projeto Filhas de Dandara promove formações no IFNMG em Ribeirão das Neves – Foto: Divulgação

“Em Ribeirão Neves, têm várias pessoas pretas engajadas em movimentos culturais, e queríamos trazer isso para nossa escola. Começamos então a fazer este curso de letramento racial para os estudantes”, explica Rayane Souza, de 17 anos, também ela uma das próprias artistas do território em que vive. 

Para trabalhar temas como solidão da mulher negra, cultura afro, racismo e branquitude, as jovens optaram por trazer, além das referências teóricas, referências culturais do seu cotidiano e do lugar onde vivem, por meio de formações online.

“Nossas referências de aprendizagem têm que partir das nossas vivências. Aqui em Neves, o pessoal é muito talentoso, e pelo fato de ser uma cidade periférica, nem sempre tem reconhecimento. Então, quisemos mostrar o que as pessoas produzem aqui”

complementa a estudante Rayane.

A estudante Lidia Nataly, de 18 anos, que, hoje, cursa História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), conta que, em uma das aulas do projeto, elas também apresentaram a experiência de ser mulher negra no mundo para outros alunos. “Na aula sobre Mulheridades, trouxemos temas como a solidão da mulher negra, o racismo estrutural, com referências como a pesquisadora e artista Grada Kilomba. Ao trazer essas temáticas para as pessoas, falamos a partir de nossa experiência, trazendo essa carga teórica para dentro da realidade.”

Print de uma chamada de vídeo. Um slide laranja sobre Racismo Estrutural ocupa mais que a metade da tela e ao lado há uma jovem negra falando.
Estudantes protagonizam formações sobre racismo – Foto: Divulgação

Para fazer as intersecções e os diálogos mais fluidos entre as estudantes, a professora Juliana Ventura teve papel fundamental. Docente de História, ela também faz parte do NEABI (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas) da escola.

Minha principal função como educadora é potencializar o diálogo entre saberes e repertórios que os estudantes já possuem, com outros que contribuem para o letramento racial, como as autorias negras e indígenas na academia, por exemplo. Minha função é contribuir para que esses saberes conversem e possam ajudar na construção de práticas de letramento racial contextualizadas às experiências de estudantes participantes, na troca de experiências entre pessoas com diferentes lugares e pertencimentos raciais”, reforça Juliana.

+ Leia também: 5 projetos de estudantes negras que enfrentam o racismo e elevam a autoestima

O projeto Filhas de Dandara também é chamado de Histórias da Nossa Área, em homenagem à música do rapper Djonga. Nos próximos meses, as jovens querem compilar este conhecimento em um produto audiovisual, como finaliza Ana Luiza Rocha, de 18 anos: “Queremos mostrar o que acontece na cena do rap local, como a Batalha do Parque, um slam improvisado que tem aqui em Ribeirão das Neves!” 

Confira abaixo mais quatro projetos de estudantes que também estão falando sobre raça e gênero em suas escolas!

Movimento Meninas Crespas
Quinze jovens mulheres posam em uma área aberta e arborizada. Elas usam vestidos e saias estampadas
Movimento Meninas Crespas atua nas periferias de Porto Alegre – Foto: Divulgação

Um dos finalistas da quinta edição do Desafio Criativos da Escola, o Movimento Meninas Crespas nasceu de um desejo de resgatar e fomentar a autoestima dos estudantes da EMEF Mário Quintana, em Porto Alegre (RS). Aliando danças afro-brasileiras, performances poéticas, o idioma iorubá e também rodas de acolhimento, as estudantes criaram um espaço de acolhimento e reafirmação de valores. 

+ Conheça: Meninas negras criam movimento e enfrentam racismo por meio da arte no RS

África Novos Olhares


A África é um continente vasto e diverso. Cada um dos 54 países possui línguas, tecnologias, culturas e saberes que merecem ser conhecidos em profundidade. Todas essas nações têm muito mais a oferecer do que qualquer narrativa colonial ou que só apresenta as vulnerabilidades destes territórios. É nessa intenção que os estudantes da ETEC Monte Mor, na cidade de Monte Mor (SP), criaram o projeto África Novos Olhares, com um perfil no Instagram e um canal no Youtube, que conta com cerca de 1 mil inscritos e mais de 50 mil visualizações.

Chama Preta

 

 
 
 
 
 
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É também com um perfil no Instagram que o coletivo Chama Preta está discutindo sobre as perspectivas profissionais para pessoas negras e o racismo no mercado de trabalho. Nos encontros “Vozes que Apretecem”, os jovens do Colégio Estadual do Rio do Antônio, na cidade de mesmo nome (BA), discutem seus anseios para futuro, mercado de trabalho e outros temas, convidando pessoas da escola e fora dela para refletir em conjunto. 

+ Confira: Estudantes promovem valorização de profissionais negros na BA

Dice, será que a sociedade ainda não entendeu
Foto de três varais com livretos de cordéis pendurados por pregadores.
Literatura de cordel – Foto: Wikipedia

A literatura de cordel é um patrimônio da cultura nordestina. Pensando em como abordar temáticas de gênero e raça de uma maneira acessível, estudantes da escola Estadual de Educação Profissional Edson Queiroz, localizada em Cascavel (CE), lançaram um projeto que utiliza esta expressão popular para falar sobre machismo, preconceito e outras temáticas transversais a estes grandes temas.

+ Saiba mais: No CE, literatura de cordel é ferramenta contra o machismo na escola

 

Redação: Cecília Garcia
Edição: Helisa Ignácio

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