Para preservar os recifes de corais, o grupo dá palestras e desenvolve atividades com pescadores e moradores
Sair dos muros da escola e entender a realidade dos arredores sempre é grande oportunidade educativa. Foi a partir de um olhar atento para os recifes de corais e sua importância para o município de Barroquinha (CE), que estudantes da Escola Estadual Jaime Laurindo da Silva criaram o projeto “Sou mais Coral Vivo”, finalista do Desafio Criativos da Escola 2019.
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Apesar da enorme importância, estas estruturas estão há anos em risco, principalmente devido à poluição das áreas costeiras, o que pode afetar todo o planeta. Sabendo disso, Maria Clara, José Francisco e outros colegas resolveram pensar um plano para chamar a atenção para esse problema no litoral da cidade, com ações de conscientização dentro e fora da escola, o que resultou até mesmo na criação de uma lei, aprovada por unanimidade pela Câmara Municipal para assegurar a preservação do ecossistema.
A importância dos corais
Formados a partir da decomposição de carbonato de cálcio por diversos organismos, como corais e algas, os recifes são responsáveis por quase 60% da produção do oxigênio do mundo e se constituem como o principal habitat aquático: são responsáveis por 25% da vida nos oceanos e 65% dos peixes dependem das suas estruturas para a sobrevivência.
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A estudante recém-egressa do Ensino Médio, Maria Clara, enxerga na proteção dos recifes uma grande ação de corresponsabilidade social. “Eles são altamente importantes para a região, porque abrigam uma biodiversidade enorme de espécies, as quais protegem a costa litorânea, contra erosão ou tempestades”.
Seu colega de grupo José Francisco, também formado em 2019, concorda. “Os corais atuam como uma proteção natural. Têm a capacidade biológica de impedir que a maré aumente, gerando um desastre social e ambiental para a comunidade”.
Articulando diferentes agentes
O primeiro passo do grupo foi mergulhar em uma pesquisa bibliográfica que desse maiores insumos para os eles e os demais estudantes entenderem o assunto. Com o estudo em mãos, a iniciativa iniciou um diálogo com o secretário de meio ambiente e com a bióloga responsável do município para entender qual era a atuação do poder público na preservação da costa marinha.
Depois disso, tiveram a oportunidade de visitar o projeto Peixe-Boi Marinho, sediado no município de Cajueiro da Praia, no Piauí. Com especial atenção para a preservação do peixe-boi, a iniciativa piauiense também oferece proteção aos corais e à fauna marinha como um todo, além de manter a limpeza periódica da praia, inspirando os alunos a prosseguirem em seu projeto por terras cearenses.
Na volta à cidade, o grupo promoveu encontros com pescadores da região e constatou que não existia um debate aprofundado sobre a necessidade de preservação dessa riqueza natural. Na comunidade, também coletaram amostras de corais que serviram como material de estudo nas atividades que promoveram com estudantes do ensino fundamental de outras escolas.
Nestes momentos, os jovens analisaram os corais e promoveram jogos e brincadeiras com foco na formação da consciência ecológica com os alunos e alunas mais novas. Para o professor orientador do projeto, Marcos Neves, durante as ações desenvolvidas no Distrito de Bitupita, em Barroquinha, foi possível perceber a satisfação dos estudantes em realizar a pesquisa in loco e em contato com os moradores e comunidade pesqueira. “A comunidade é o principal agente de nossa pesquisa. Tentar entender o mundo onde a comunidade está inserida e vivenciar seu cotidiano, torna o processo ainda mais eficaz”, afirma.
Maria Clara confirma. Para a aluna, estar ao lado da comunidade mudou sua forma de aprender e também de enxergar o mundo à sua volta. “É de extrema relevância ter o contato com os pescadores no ambiente de trabalho deles, levando nossos conhecimentos e adquirindo aprendizados de forma lúdica. Podemos falar sobre a realidade da nossa área litorânea e promover a conscientização sobre a problemática”, diz.
Durante a Semana de Meio Ambiente de Barroquinha, o grupo conseguiu mobilizar os moradores em um mutirão de limpeza da praia que recolheu uma grande quantidade de plástico, material que demora para se decompor e prejudica especialmente os recifes de corais.
Toda esta mobilização está registrada em um caderno que agrega informações sobre os mais de 100 encontros do projeto, com fotos e resumos dos principais momentos, além de um banner que acompanha o grupo nas palestras realizadas dentro e fora da escola.
Mobilização e ação junto à comunidade
No último semestre de 2019, os estudantes instalaram cestos de lixo em formato de peixes e feitos com arames coletados na praia, além de placas de conscientização sobre a importância de preservar os corais. Também confeccionaram apostilas informativas para serem distribuídas às crianças da cidade e construíram uma parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC).
No fim do ano passado, o grupo conseguiu ainda aprovar uma lei na Câmara dos Vereadores que tem como objetivo estabelecer a fiscalização da região costeira pela prefeitura. “Com a criação da lei e com as nossas palestras e intervenções, a comunidade começou a conhecer a importância do projeto e dos corais”, orgulha-se o aluno José.
Segundo o educador Marcos, os alunos passaram até mesmo a se interessar mais por política, quando viram que também poderiam construir uma lei e dizer como querem cuidar de seu município. “Levei os alunos em algumas sessões na Câmara Municipal, local onde muitos alunos nunca tinham ido. Após estas práticas percebi um maior interesse por parte dos alunos por questões políticas e também ambiental”.
Educação Ambiental e próximos passos
Sabendo do impacto positivo do projeto na cidade, o grupo pretende dar continuidade às ações já realizadas e, agora, implementar também estruturas metálicas próximas ao litoral, com o intuito de recuperar alguns dos recifes de corais.
Mas para além de toda a mobilização realizada, um dos maiores impactos foi o processo de ensino e aprendizagem criado entre os alunos, que passaram a entender a Educação Ambiental como algo que envolve vários fatores sociais. “Antes eu achava que a Educação Ambiental era só ter a consciência de não poluir, não degradar o meio ambiente, mas vai muito além dessa consciência, a educação ambiental é transmitir saberes, formar mentes sustentáveis, pessoas que entendam que a conservação do meio ambiente depende de nós e que usem o espírito de coletividade em prol desta causa.”, afirma Maria Clara.
Redação: Jéssica Moreira
Imagens: Divulgação