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Por uma escola antirracista: jovens criam canal para falar sobre África

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  • relações étnico-raciais
Uma adolescente negra apresenta um jogo de tabuleiro para crianças menores

Ano de Inscrição: 2020

status Premiado

ODS

28/10/2021 - Por Nayra Teles da Silva

O projeto África Novos Olhares, de Monte Mor (SP), traz um acervo digital com a diversidade da cultura e da história dos 54 países do continente africano.

Novembro é marcado pelas ações voltadas ao Dia da Consciência Negra nas escolas do Brasil. Na Escola Técnica Estadual da cidade de Monte Mor, no interior de São Paulo, não é diferente. Durante todo o mês acontecem debates e palestras para falar sobre o racismo e a luta pela igualdade racial e social.

Porém, por que tais ações só acontecem uma vez ao ano? Essa foi a pergunta feita pelas estudantes Thamara Silva e Rayanne Aguiar, de 18 anos, e que deu origem ao projeto África Novos Olhares. A iniciativa foi premiada na 6ª edição do Desafio Criativos da Escola.

A ideia do projeto surgiu em sala de aula, quando nós percebemos que pouco se falava sobre o continente africano comparado ao que se falava sobre os outros continentes. Quando se falava em África, era sempre de forma pejorativa, falando sobre guerras, pobreza, fome e dificilmente sobre as culturas.

conta Thamara.

O objetivo do projeto é compartilhar com toda a comunidade escolar um saber sobre o continente africano para desconstruir preconceitos do imaginário social. Estigmas esses que são marcados pela colonização, que tem como base o processo de escravidão e o apagamento das culturas africanas.

Durante uma pesquisa sobre as questões raciais, Thamara e suas colegas de turma conheceram a Lei 10.639/03. A legislação que determina a obrigatoriedade da inclusão da temática História e Cultura Afro-Brasileira no currículo da rede de ensino do país.

A partir de então, as estudantes decidiram buscar formas de introduzir os estudos e saberes da cultura e história africana na escola. Para isso, contaram com o apoio do professor de história Roney Staianov. “A ideia partiu das próprias alunas e juntos nós conseguimos levar a proposta aos demais professores e alunos que abraçaram a ideia”. 

Com mais pessoas envolvidas e engajadas com o projeto, estudantes e professores de toda a escola desenvolvem práticas pedagógicas, como palestras e debates, para falar sobre as riquezas e belezas da cultura africana, a fim de demonstrar como a cultura brasileira também é formada a partir de influências da África. 

“Eu amo demais o projeto e o considero super importante e necessário nas escolas. Durante todo o processo, a gente vai aprendendo muitas coisas, vendo muito da nossa própria cultura, que tem muita influência da cultura africana, conhecendo os povos, a arte. Não consigo nem por em palavras o quão bom é o conhecimento que tiramos a cada pesquisa”, declarou a aluna Rayanne Aguiar. 

Um acervo virtual sobre a África

Com a chegada da pandemia e a suspensão das aulas presenciais, o projeto África Novos Olhares ganhou um novo formato, totalmente virtual. Se antes, as pesquisas sobre a cultura do continente africano resultavam em palestras e debates realizados dentro da escola, agora elas viraram conteúdo multimídia disponibilizado gratuitamente no YouTube e nas redes sociais. 

+ Conheça o perfil do Instagram do África Novos Olhares

A adaptação trouxe diversos resultados positivos para o projeto, como a criação de um acervo virtual sobre a cultura africana que pode ser acessado por todos a qualquer hora. Para o professor Roney Staianov, o ajuste aos meios digitais é uma forma também de ampliar o acesso à educação.

Mostra a força do projeto em oferecer algo que pode ser usado por toda a sociedade e não só dentro das escolas.

celebra o educador.

A novidade também gerou um maior engajamento dos próprios alunos com o projeto, como contou Rayanne Aguiar: “durante as postagens nas redes sociais recebemos muitos feedbacks dos próprios alunos que comentavam como foi legal conhecer e descobrir sobre assuntos que eles não conheciam e, entre eles, ainda havia pessoas que acreditavam que a África era um país e não um continente”.

O canal do YouTube do projeto reúne mais de mil inscritos e conta com mais de trinta vídeos com conteúdos de diversos temas sobre a cultura africana, todos produzidos por alunos e professores da Etec Monte Mor. A playlist do canal com o maior número de vídeos e visualizações é intitulada “África Play” e reúne produções sobre jogos e brincadeiras típicas da África. 

Ampliando o diálogo e rompendo fronteiras

A equipe está em contato direto com o continente africano. Os moradores dos países compartilham suas experiências pessoais e cotidianas de seus países com os estudantes da iniciativa, o que possibilita uma forma de aprender bastante atrativa para os estudantes. “Foi algo que impactou muito a minha vida, pois, por meio do projeto, eu pude conhecer culturas e povos com histórias incríveis, e que eram muito parecidas com o meu cotidiano, já que o Brasil e os países da África têm uma conexão gigantesca”. 

Para produzir o vídeo mais recente – Diálogos Brasil – Moçambique: conexões para uma educação antirracista – o grupo convidou influenciadores digitais de Moçambique para gravar seu dia a dia e responder às dúvidas dos estudantes. “Um dos influenciadores foi muito solícito e abriu até a possibilidade de gravar uma cerimônia de casamento que vai acontecer lá em Moçambique para que possamos postar”, declarou o professor. 

As ações do projeto não se limitam na produção do conteúdo em vídeo, mas também no seu compartilhamento com outras escolas e na possibilidade de fazer do África Novos Olhares um acervo de práticas pedagógicas que podem ser utilizadas e replicadas por todos. 

Para mim, algo marcante do projeto foi produzir os conteúdos de práticas pedagógicas – especificamente, o de jogos e brincadeiras africanas -, e ter professores de outras escolas entrando em contato conosco pedindo permissão para usar o nosso conteúdo, que pode ser trabalhado em matérias que, às vezes, a gente nem imagina, como matemática e educação física.

compartilha a estudante Rayanne.

Práticas pedagógicas antirracistas para todo mundo e todas as escolas

Como mulheres negras, as estudantes também reconhecem a importância de promover o debate sobre questões étnico-raciais frequentemente nas escolas, e não apenas no mês de novembro, como acontece na maioria vezes. Além disso, elas trabalham para que a autoestima dos estudantes negros e negras seja fortalecida. 

“Outro aspecto que eu considero muito impactante no projeto, foram os livros infantis, porque nos faz refletir sobre a importância de debater uma educação antirracista também na infância, além de incluir o trabalho com autoestima de muitas crianças que acabam se identificando com os personagens da história. Todas as práticas pedagógicas que o projeto traz são importantes para incluir a temática em todas as escolas, sejam elas públicas ou particulares”, afirma Rayanne. 

A Escola Monte Mor é formada por uma maioria branca. Diante disso, o projeto contribuiu muito para que esses alunos tenham mais consciência e conhecimento sobre a África, pois, ainda hoje, existe uma enorme generalização e preconceito que envolve as culturas e povos africanos”, declarou Thamara Silva.  

Para as jovens, o projeto é fundamental como uma ferramenta pedagógica que vai influenciar nas práticas antirracistas. pois impacta não apenas crianças e adolescentes negros, mas, sim, toda a comunidade escolar. 

Redação: Giovanna Carneiro
Edição: Helisa Ignácio

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