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Plantas medicinais e conhecimento ancestral na palma da mão

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Duas jovens negras analisam uma planta em um laboratório de ciências
Duas jovens negras analisam uma planta em um laboratório de ciências

Salgueiro - PE

Ano de Inscrição: 2020

status Premiado

ODS

14/05/2021 - Por Helisa Ignácio

A partir de estudo com plantas medicinais, jovens de Salgueiro (PE) criam app para repassar conhecimento de comunidade quilombola para novas gerações.

Mais do que dividir o mesmo planeta, pessoas e plantas interagem enquanto um sistema dinâmico, com interferências mútuas. É o que acontece, por exemplo, nas comunidades que cultivam e utilizam plantas medicinais. Investigar relações como essas é objeto de estudo da etnobotânica.

A partir de um levantamento etnobotânico feito na Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Aura Sampaio Parente Muniz, o grupo percebeu a falta de interesse dos jovens na cultura das plantas medicinais. Foi quando usaram a criatividade para enfrentar o problema, desenvolveram um aplicativo para compartilhar estes saberes de maneira lúdica, nascendo assim, o Projeto IECQ: Interação Etnobotânica na Comunidade Quilombola de Conceição das Crioulas, que foi premiado no Desafio Criativos da Escola 2020.

Como tudo começou

A Iniciação Científica Júnior faz parte da grade curricular da escola, e, então, os estudantes partiram para a escolha do objeto de pesquisa. Decidiram investigar o cultivo e uso da medicina natural pela comunidade quilombola de Conceição das Crioulas, um distrito que fica a 40km do centro de Salgueiro (PE). 

Um jovem de óculos faz anotações em frente a uma árvore

O estudante Lucas Matheus durante levantamento – Foto: Reprodução

“A história da formação da comunidade é muito interessante. Escravizados fugidos chegaram lá, encontraram com indígenas e eles tiveram uma convivência harmoniosa durante décadas. Trocaram saberes e experiências, a partir dessa troca se formou uma cultura muito rica”, conta Lucas do Nascimento, de 18 anos.

Conhecendo Conceição de Crioulas

Instigados pela história quilombola, os jovens se prepararam para o trabalho de campo. “O desafio começou antes mesmo do primeiro contato com a comunidade. Fizemos todo um trabalho anterior, lemos artigos para entender o que é uma pesquisa etnobotânica e o que precisaria ser perguntado aos moradores.”, lembra Euzemberg de Oliveira, hoje com 18 anos.

Chegando a Conceição das Crioulas, os estudantes bateram de porta em porta para aplicar um questionário e conhecer as plantas utilizadas pelos moradores. Perceberam que a medicina natural faz parte do cotidiano: as plantas são cultivadas nos quintais e algumas pessoas as utilizam para fabricar produtos e até gerar renda.

Foto de uma bancada com 11 tipos de plantas diferentes e seus respectivos nomes.

Plantas medicinais coletadas no levantamento etnobotânico – Foto: Reprodução

“O contato com a comunidade foi muito bom, encontramos um povo muito acolhedor. Eu tinha receio de me apresentar como pesquisador. Existe um preconceito porque muita gente chega lá, extrai aquele conhecimento e não dá retorno nenhum. Não foi o caso, nós conseguimos conhecer a cultura deles, ouvimos o que tinham a falar e demos retorno”, diz Lucas Matheus.

Desafio entre gerações

Os estudantes notaram que os entrevistados sempre comentavam sobre a dificuldade de passar o conhecimento para as novas gerações. Instigados por este problema, levaram o assunto para uma conversa com a orientadora, Uanne Bezerra. “Eles chegaram dizendo que a juventude só quer saber de celular, aí os provoquei: se os mais jovens não estão valorizando e perpetuando essa cultura, como podemos tentar resolver isso?”, conta a educadora. 

Foi aí que tiveram a ideia de usar a própria tecnologia para aproximar os jovens dessa sabedoria, explica Lucas. “A gente vive numa sociedade bem conectada e tecnológica, por isso passamos a pensar em como usar o celular para repassar esse conhecimento às novas gerações. Decidimos criar um aplicativo de celular com um jogo sobre as plantas medicinais”.

Partindo dos dados levantados pela pesquisa, o grupo estudou os nomes e propriedades das plantas. Depois, organizou um livreto e um blog que serviu de base para a criação de um jogo em formato de quiz. Você pode conhecer o blog do IECQ clicando aqui!

Um app que ensina e fortalece a cultura local

“Eu acho que o maior desafio que a gente encontrou foi o fato de não conhecermos nada de programação pra poder produzir o jogo”, conta Valternandes Silva, 18 anos. “Fomos pesquisar no youtube, conversar com pessoas que tinham conhecimento na área e no final deu tudo certo”. 

O app foi um sucesso entre os jovens. A comunidade quilombola Conceição de Crioulas se beneficiou fortalecendo sua cultura e pessoas de fora puderam ter contato com esse conhecimento ancestral. 

“Um momento muito interessante foi quando apresentamos o aplicativo na nossa escola. Percebi que os alunos terminavam o jogo e voltavam pra jogar de novo, dessa vez acertando a resposta. Assim eles estavam aprendendo de fato!”, conta Valternandes.

Disciplinas diversas em um só projeto

Ao refletir sobre o sucesso e importância do aplicativo, a educadora Uanne chama a atenção para a multidisciplinaridade da iniciativa. “A gente acaba compartimentalizando tudo e esse projeto mostrou a união entre as ciências. Na vida é assim, a gente não separa, trabalha com tudo junto. Eles perceberam que tinham muitas áreas envolvidas numa mesma problemática.”

Lucas Matheus concorda: “O projeto une pelo menos três áreas distintas. Primeiro, as ciências biológicas, com a botânica da local. Depois as ciências sociais, a antropologia, que vai estudar a cultura da comunidade. Por fim, a tecnologia vem para unir essas duas áreas. A união de todas elas foi o que acabou causando todo esse impacto dentro e fora da comunidade.”

Agora, o grupo quer popularizar o aplicativo e torná-lo mais acessível, levando a cultura popular e a sabedoria a respeito das plantas medicinais para todo o mundo. Confira o perfil do projeto no Instagram!

E você? Conhece quais são as plantas medicinais mais comuns na sua região?

Redação: Marina Finicelli
Edição: Helisa Ignácio

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