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Jovens querem acabar com a evasão escolar no interior da Bahia

Temas

  • ambiente escolar
  • bullying e discriminação
  • educação
Três jovens brancas de cabelos escuros e lisos e um homem negro de cabelos curtos sorriem na escadaria de uma igreja católica antiga em uma praça.

Paripiranga - BA

Ano de Inscrição: 2020

status Premiado

ODS

24/11/2021 - Por Helisa Ignácio

Projeto Raízes do Meu Sertão cria ações para incentivar o retorno de alunos do município de Paripiranga que deixaram a escola durante a pandemia.

De acordo com uma pesquisa divulgada em agosto deste ano pelo Atlas da Juventude, a porcentagem de jovens na faixa dos 15 aos 29 anos que não estão estudando passou de 26%, em 2020, para 36% em 2021. Pelo menos metade destes alunos trancaram ou cancelaram suas matrículas após março de 2020, com a chegada da pandemia de Covid-19 no Brasil.

A alta expressiva da evasão escolar também foi sentida na Escola Municipal Maria Dias Trindade, na cidade de Paripiranga, no interior da Bahia. Por isso, três adolescentes encararam a tarefa de começar, junto com seu educador, uma busca ativa pelos estudantes que tinham deixado a escola. Nascia, assim, o projeto Raízes do Meu Sertão, premiado na 6ª edição do Desafio Criativos da Escola.

A iniciativa realizada por Alice Suelen Santana, Emilly Bárbara Gonçalves e Mariana Menezes, de 15 anos, e seu professor, José Souza, tem como tema Evasão escolar, uma peleja nordestina: Maria Dias Trindade na busca pelos que se foram e seu objetivo principal é fazer um levantamento com a ajuda de órgãos públicos, como a Secretaria da Educação do município, a comunidade e a própria escola. 

Desigualdade social e bullying tiram pessoas da escola

Com o retorno das aulas que ainda estão acontecendo de forma remota, as estudantes entrevistaram os colegas que deixaram a escola para compreender quais as razões do abandono. As jovens verificaram que todos os seis entrevistados estavam com a idade-série defasada, como o Vitor, por exemplo, que, com 16 anos, cursa o 5º ano do Ensino Fundamental. Cinco deles disseram sofrer bullying por serem mais velhos que o restante de suas turmas. 

A ideia inicial era realizar um projeto chamado “Todo Mundo Dentro”. Todos os envolvidos seriam responsáveis por buscar estratégias de resgate e manutenção da vida escolar dos alunos evadidos em eventos que envolveriam toda a comunidade local. Com as medidas de segurança e de distanciamento social adotadas na pandemia, as ações presenciais, como eventos e encontros, não puderam ser executadas. Dessa forma, a equipe buscou novas maneiras de entender a situação desses jovens e de trazer ideias de como minimizar o problema. 

Outras causas da evasão escolar se dão pela situação de vulnerabilidade social em que esses jovens estão inseridos. Muitos acabam deixando os estudos para trabalhar com seus pais na agricultura, outros têm filhos e acabam se casando muito cedo.

Esse último exemplo é o caso de uma amiga de Emilly, que abandonou os estudos assim que ficou noiva.

Depois de um longo percurso, os dois [a amiga e o noivo] voltaram para estudar apesar das críticas que imagino que não foram fáceis! Aí, ela ficou grávida e teve que sair do colégio infelizmente. E esse ano, com as plataformas de estudos on-line, ela voltou e meu coração explodiu de felicidade!

compartilha Emily.

Obstáculos da pandemia

Enquanto outras cidades do estado da Bahia continuaram as atividades escolares à distância no ano de 2020, na cidade de Paripiranga, as aulas foram suspensas e só retornaram remotamente em 2021. 

Segundo o professor orientador do Raízes, José Souza, de 34 anos, um dos fatores responsáveis pelo aumento da evasão escolar na cidade foi a falta de estrutura para o ensino à distância, como smartphones e internet.  “Alguns pais venderam seus objetos pessoais para comprar um smartphone para o filho não ficar de fora”, testemunhou o professor. 

E mesmo em meio a tantas dificuldades, as ações virtuais realizadas pelo Raízes do Meu Sertão surtiram efeito. De entrevistas a conversas via mensagem ou ligações telefônicas, as alunas do projeto conseguiram plantar a vontade do retorno aos estudos em alguns de seus colegas evadidos e semearam retornos.

As meninas fizeram com que esses alunos tivessem vontade de retornar e até conseguiram que alguns voltassem para a escola, fazendo a evasão escolar ficar um pouco mais controlada.

comenta José.

O perfil no Instagram de outro projeto desenvolvido na Escola Municipal Maria Dias Trindade também foi utilizado no desenvolvimento das ações. O Vamos Conversar foi mais um dos canais de comunicação e de promoção do incentivo ao retorno escolar. 

Para Alice Suelen, outra estudante do projeto, é muito importante conscientizar os alunos sobre a importância dos estudos e mostrar todas as oportunidades que eles têm a oferecer. Poder ver alguns alunos de volta foi o que mais inspirou a continuidade do projeto. “O maior impacto foi ver algumas pessoas voltando, e as ações terão ainda mais impacto quando voltarmos ao presencial”, disse.

Três jovens brancas de cabelos escuros e lisos e um homem negro de cabelos curtos sorriem em frente a uma igreja católica antiga em uma praça.
Da esquerda para a direita estão José Souza, Emilly, Alice e Mariana. Foto: Divulgação

Já para Mariana Menezes, também integrante do grupo, as conversas, o diálogo e as discussões voltadas ao meio geral do projeto foram todas incríveis. “Fico sem palavras para descrever a tamanha gratidão de ter participado desse belo projeto”, relatou. 

O retorno para voltar a sonhar

Já encontrei vários colegas e amigos do colégio que desistiram [de estudar] e foi muito bom saber que o nosso projeto deu forças para eles que eles pudessem retornar.

celebra Emilly.

A adolescente vibrou a cada conquista do grupo durante as etapas do projeto. Segundo ela, os efeitos da pandemia ainda estão “pesados” na região onde vivem, e conseguir resultados mesmo com toda as ações online foi emocionante.

“Ver pessoas parabenizando nosso grupo por todo trabalho e dizendo que era um projeto incrível foi gratificante. Até hoje não sei reagir e nem sei por onde começar agradecer a todo mundo por terem depositado toda confiança na gente. Parece um sonho!”, completou a aluna.

Para José Souza, quando o aluno evade, “ele perde, a escola perde e a comunidade perde”, e é por isso que o Raízes do Meu Sertão não vai para por aí.

O projeto será continuado, e tanto as estudantes quanto o professor esperam ansiosamente o abrandamento da pandemia e dias mais seguros para que as estratégias presenciais envolvendo a comunidade de Paripiranga sejam executadas.

Redação: Debora Castro
Edição: Helisa Ignácio

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