Criando legendas automáticas para vídeos, e futuramente, tradução para LIBRAS, projeto Access quer garantir aulas online acessíveis.
A pandemia do novo coronavírus mudou radicalmente as nossas vidas. O processo de se adaptar às atividades remotas, estudar conteúdos online e cumprir prazos de entrega de lições e trabalhos foi desafiador. Agora, imagine ter que fazer tudo isso sem ter acesso a materiais traduzidos para a sua língua. Esta é a realidade vivida por milhares de pessoas surdas no país, que passaram a lidar com desafios ainda maiores para acessar informações, conteúdos escolares e, também, formas de lazer e entretenimento com as medidas de isolamento social.
Esta situação chamou a atenção de um grupo de estudantes do Ensino Médio do Colégio COPE, de Goiânia (GO). Pensando em formas de reduzir a desigualdade no acesso às plataformas digitais, os estudantes criaram o Projeto Access, que cria legendas para vídeos automaticamente, além de traduzi-los para a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Uma das 50 iniciativas premiadas do Desafio Criativos da Escola 2020, o projeto tem como objetivo tornar estes conteúdos acessíveis a pessoas surdas ou com alguma deficiência auditiva.
Chamado sensível para uma pauta urgente
A ideia de pensar em algo para melhorar o problema da acessibilidade digital surgiu depois que Ana Gabriela Santana (17 anos), Luca Moreira (16 anos), Lorenzo Mezencio (17 anos), Luiza Santos (17 anos) e Eduardo Barra (17 anos) assistiram a um vídeo de uma jovem surda da Universidade Estadual de Goiás (UEG). No depoimento, a universitária conta sobre as dificuldades que enfrenta para acompanhar as aulas online, já que, tanto as plataformas de ensino à distância quanto os conteúdos, não são legendados ou têm tradução para a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

“Eu achei um absurdo a estudante não conseguir aprender por causa da falta de acessibilidade nas aulas. Se as aulas on-line estavam sendo difíceis para mim, que sou ouvinte, imagina para ela que não conseguia aprender por limitações da plataforma”, comenta Ana Gabriela Santana, de 17 anos, uma das integrantes do projeto Access.
Diante da indignação com a falta de acessibilidade para pessoas surdas, Ana procurou um amigo com habilidades de programação e, junto de outros colegas, criaram um algoritmo capaz de criar legendas automaticamente para videoaulas. Com o apoio do educador LucasLucas D’Nillo Sousa, os adolescentes desenvolveram o site do Projeto Access, que está no ar em sua versão beta.
“Os estudantes fizeram um trabalho autônomo incrível que envolve valores muito caros, como diversidade e inclusão. Foi uma alegria, um prazer fazer parte de tudo isso”, comenta o professor Lucas.
Acessibilidade digital é para todas e todos!
O estudante Luca Moreira, que foi responsável pela programação do site, conta que o funcionamento é de fácil compreensão para quem desejar utilizá-lo.
“Ao acessar o site, o usuário pode fazer o upload de uma videoaula ou de qualquer outro vídeo que queira legendar. Depois, basta selecionar um dos dois idiomas de transcrição – inglês ou português. Por fim, é só clicar em enviar, e o site transcreve automaticamente o áudio do vídeo para texto e disponibiliza o vídeo legendado”, explica.
Para a elaboração do projeto, os estudantes fizeram uma pesquisa junto à comunidade surda e descobriram que, além das ações práticas de acessibilidade digital, também seria preciso pensar em ações para conscientizar a comunidade ouvinte: “Neste sentido, as páginas nas redes sociais e o portal de notícias foram planejados como estratégia de mobilização de toda a sociedade”, ressalta Luca.
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Inclusão é uma forma de protagonismo
Os estudantes ainda têm muito trabalho a fazer. A partir de agora, querem lançar um portal dentro do próprio site para disponibilizar notícias sobre acessibilidade digital e outras produções protagonizadas por surdos. O grupo também tem um perfil no Instagram, no qual traz uma série de conteúdos sobre acessibilidade digital.
Para Elisa Machado, coordenadora da escola, o grupo se destacou tanto pela sensibilidade em lidar com um tema tão importante, quanto pela qualidade no desenvolvimento das ferramentas. A coordenadora ainda reforça que, além de propor soluções para problemas reais da sociedade, o projeto Access despertou a vontade de transformar em outros estudantes.
Para o estudante Luca, a primeira recompensa por participar do projeto veio quando o grupo percebeu o potencial de transformação tanto das ações. Já a segunda recompensa veio quando a equipe participou do Desafio Criativos da Escola 2020 e foi premiada. Ana Gabriela compartilha do mesmo sentimento de realização com o colega e, hoje, dedica parte de sua rotina para aprender a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
“Construir e pôr em prática as ações do projeto Access foi extremamente impactante pra mim. Sentir que o que eu faço causa impacto em alguém é uma sensação incrível. Juntar mais pessoas com o objetivo de promover transformações e criar uma pequena comunidade de agentes de mudança é inexplicável”, finaliza Ana.
Para saber mais sobre o Projeto Access, acesse o site do grupo aqui!
Redação: Laura Fontana
Edição: Helisa Ignácio