Estudantes e educadores podem conferir dicas para conseguirem recursos materiais, humanos e financeiros para suas propostas de mudança
Um dos principais desafios para colocar em prática uma ação transformadora é conseguir os recursos necessários. Seja para dar a largada ou para manter de pé um projeto, este é um tópico que precisará ser visto e revisitado muitas vezes conforme uma ideia avança e novas necessidades surgem.
Para auxiliar estudantes em seus planos de ação, a associação Quero na Escola levantou os principais pontos nos três tipos de recursos que o grupo pode buscar: dinheiro, gente para trabalhar ou bens materiais. Em muitos casos, um pode cobrir o outro. Para montar uma biblioteca, por exemplo, você pode levantar fundos para comprar os livros, pode pedir diretamente as obras a colegas e familiares ou pode mobilizar voluntários para criarem uma campanha de doação, fazer a logística e a separação dos livros.
Ao conhecer estas possibilidades, o grupo deve montar um plano dos recursos que pretende conseguir, mas não precisa se apegar a ele como única possibilidade para seguir adiantes. Uma das maiores especialistas do mundo em novos projetos, a autora indiana Saras Sarasvathy, explica que este mapeamento serve mais para mostrar a possíveis parceiros como vocês sabem do que precisam do que como um caminho fixo para o grupo. Ao invés disso, a dica é caminhar a partir do que você já tem – ou tem mais facilidade para conseguir.
Lembrem-se: conseguir recursos para o plano de ação tem tudo a ver com a mobilização em torno da causa. Quanto mais pessoas estiverem envolvidas, maiores as chances tanto de receber o apoio quanto de alguém sugerir uma ótima ideia de como obter os recursos necessários. Nesta matéria, há o detalhamento de diferentes possibilidades que podem ser feitas sozinhas ou de maneira combinada.
+ Participe do Desafio Criativos da Escola 2021
Recursos Materiais
1- Campanha de doações – Se o plano de ação exige materiais como tintas e tijolos para a reforma de um espaço, uma ótima opção é pedir os insumos diretamente. Pode ser com apoiadores pelas redes sociais ou procurando proprietários de casas de construção, por exemplo. Neste último caso, o grupo de estudantes pode falar com o responsável, marcar uma hora para a conversa, e contar a sua motivação. Os estudantes do projeto Além dos muros da Escola, de São Paulo (SP), por exemplo, conseguiram reformar o entorno do colégio com materiais doados pela comunidade.
Uma campanha neste formato também se encaixa muito bem quando vários equipamentos do mesmo tipo serão necessários, para estudantes registrarem imagens com celulares e máquinas fotográficas ou em uma arrecadação de materiais recicláveis ou retalhos, por exemplo. Neste caso, é interessante pedir apoio de divulgação para grupos universitários, associações de bairro ou mesmo Organizações da Sociedade Civil que podem se sensibilizar mais facilmente com a ação.
2- Verbas públicas – A prefeitura, a Câmara dos Vereadores e mesmo a Associação de Pais e Mestres da escola têm recursos que podem ser usados de diferentes formas. Uma delas pode ser a compra de materiais e equipamentos para projetos de estudantes.
Depois de mapear os possíveis parceiros do seu grupo, os estudantes podem enviar um e-mail, por exemplo, para registro formal da necessidade e depois procurar os responsáveis pela organização e tentar sensibilizá-los. Os estudantes do projeto Jovem Explorador e o Ecomuseu, de Pacoti (CE) mobilizaram tanto sua comunidade que conseguiram até um terreno para construírem o projeto. Confira abaixo como foi esta história:
Para aumentar a visibilidade de sua demanda ao poder público, o grupo pode usar estratégias diferentes como construir uma carta coletiva assinada por muitas pessoas ou organizações, solicitar a apresentação do projeto na Câmara dos Vereadores ou promover uma campanha nas redes sociais marcando o perfil de vereadores, deputados, prefeito ou governador, por exemplo.
Recursos Humanos
1 – Voluntários – Pessoas que possam ajudar a realizar um projeto são talvez os elementos mais preciosos em sua efetivação. Se bem organizadas e motivadas, podem atuar em muitas frentes: mutirões, divulgação em redes sociais, realização de oficinas, pinturas e produção de materiais de comunicação ou outros itens necessários para o grupo.
Neste sentido, é importante acionar os voluntários certos para aproveitar ao máximo o tempo e as oportunidades disponíveis. Para chegar até essas pessoas, uma alternativa é buscar ajuda de iniciativas como o Quero na Escola, que conta com uma rede de mais de 2 mil pessoas. As ajudas podem ser bastante variadas, desde o plantio de mudas até o ensino de instrumentos musicais ou do uso de ferramentas digitais (como trabalhar com planilhas).
Se a ideia é que os voluntários continuem ajudando o grupo é importante cultivar uma boa relação. Para isso, não se esqueça de informar sobre os passos do projeto, combinar claramente funções e prazos e comemorar com eles cada conquista. Para criar ainda mais vínculo, as crianças e adolescentes podem estabelecer um “termo de voluntariado” em que a pessoa que trabalha com o grupo ateste que o faz voluntariamente.
2 – Parceiros – Existem movimentos sociais e organizações não-governamentais, por exemplo, que podem atuar em problema parecido com o que os estudantes querem enfrentar. Estes grupos podem ser parceiros importantes para que as ideias saiam do papel. Se a proposta envolve meio ambiente, por exemplo, é possível procurar de organizações internacionais a grupos do bairro. Se há uma universidade na cidade, também pode ser possível achar universitários, representantes dos movimentos estudantis ou professores que se identifiquem com a causa do projeto.
Outra opção é procurar profissionais em equipamentos públicos, como postos de saúde, bibliotecas e museus. Em muitos casos, os projetos dos estudantes podem ser justamente a iniciativa que estas pessoas ou organizações estavam procurando.
Recursos Financeiros
Ainda que o grupo de estudantes tenha conseguido uma ampla rede de parceiros, a doação de materiais e o apoio de voluntários, é possível que algumas ações ainda necessitem de dinheiro para serem realizadas. Este recurso pode ser para demandas como o transporte para a realização de uma pesquisa de campo, o pagamento do custo de um servidor de internet ou mesmo para a compra de materiais que não foram possíveis de serem alcançados com doações.
Confira abaixo algumas estratégias para que o grupo consiga recursos financeiros:
1- Financiamento coletivo – Se você já tem uma boa história, se já conseguiu alguns resultados com o projeto e se já sabe quanto precisa arrecadar exatamente, o financiamento coletivo pode ser uma boa opção. Há diferentes sites e plataformas voltadas para auxiliar este processo de financiamento coletivo (Vakinha, Apoiase, Catarse, Benfeitoria, etc). Em geral, estas iniciativas cobram taxas sobre o valor arrecadado, mas também auxiliam na montagem da campanha e em sua divulgação. Se os estudantes optarem por este tipo de financiamento, vale entender bem como funciona cada site que oferece essa ferramenta. Um ponto importante é se existe uma meta de arrecadação e o que acontece se essa meta não for atingida.
Em geral, as pessoas podem escolher entre a modalidade recorrente, em que os doadores colaboram todo mês, e a modalidade com um prazo específico e uma meta única objetiva, em que a pessoa irá contribuir uma só vez. Em geral, a segunda opção tem mais chance de engajar doadores, porém exige que o grupo faça uma boa mobilização durante toda a campanha. Caso o grupo opte por este caminho, é importante que esteja preparado para divulgar e conversar todos os dias com pessoas que possam colaborar ou convidar outros amigos a ajudar.
2- Vendas e empreendedorismo – Um dos métodos mais tradicionais de conseguir dinheiro é a venda de produtos ou serviços em prol de uma causa. Pode ser uma rifa, um bazar, uma intervenção artística ou produtos bem específicos. Confira abaixo o vídeo sobre o projeto de estudantes de Sumaré (SP). No coletivo Naturalmente Cacheada, as meninas produziram e venderam camisetas para poderem comprar livros de autoras e autores negros para a biblioteca da escola.
3- Editais e prêmios – Muitas vezes não sabemos o quão incrível é um projeto até que ele seja reconhecido por alguém ou alguma organização que ofereça aos selecionados recursos e visibilidade. Como já sabemos, essa não é única opção, mas pode ser um meio interessante de conseguir recursos para o plano de ação ser realizado.
Uma dica importante é que o grupo fique atento em sites e redes sociais de organizações, empresas e universidades, por exemplo, que possam ter relação com o tema do projeto ou com o protagonismo de crianças e jovens. Uma dessas oportunidades é o Desafio Criativos da Escola. Em 2020, a terceira etapa do Desafio é a Premiação irá selecionar até 50 planos de ação que tenham o objetivo de criar um projeto ou de ampliar uma iniciativa transformadora feita por crianças e jovens do ensino fundamental ou médio. Clique aqui e confira mais informações.