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Como alunos migrantes estudam em meio à pandemia?

04/06/2020 - Por Helisa Ignácio

Desafios de uma educação intercultural se tornam ainda mais evidentes durante isolamento social. Diante disso, confira dez audiolivros voltados a crianças que falam espanhol

A educação enfrenta um desafio contínuo quando se fala na incorporação das diversidades étnicas, culturais e linguísticas dos seus estudantes. De acordo com dados do último Censo Escolar da Educação Básica (2019), produzido pelo Inep, o Brasil possui, hoje, 47,8 milhões de estudantes matriculados na educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.

Dentro dessa multiplicidade de sujeitos, alunos migrantes e refugiados trazem a urgência de se fortalecer uma perspectiva intercultural na escola. As iniciativas ainda são pontuais e são raros os exemplos institucionais voltados especificamente a esse público. 

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Com a chegada da pandemia de covid-19, o cenário se mostrou ainda mais problemático. Essa é a opinião da doutoranda em psicologia social pela Universidade de São Paulo e integrante do Projeto Canicas, Rocio Bravo Shuña.

“Se já é difícil para as pessoas que falam português acompanharem as atividades escolares de seus filhos em casa, considerando que não estão preparadas profissionalmente para substituir os professores, isto é ainda mais evidenciado em famílias migrantes pela barreira da língua, diferenças culturais e falta de familiaridade com as tecnologias educativas atuais”, explica.

Criança se esconde atrás de tecidos coloridos. - Foto: Nicolas Neves dos Santos

Criança se esconde atrás de tecidos coloridos. – Foto: Nicolas Neves dos Santos

O último levantamento realizado pelo Instituto Unibanco, com base nos dados do Censo Escolar de 2016, mostra que o Brasil possuía 73 mil estudantes registrados como migrantes ou refugiados. O número, levando em consideração o aumento do fluxo migratório nos últimos anos, tende a ser mais elevado.

Em 2017, um dos projetos premiados no Desafio Criativos da Escola buscou uma alternativa para romper justamente com as barreiras encontradas por estudantes migrantes e refugiados nas escolas. Três amigas que são da segunda geração de migrantes bolivianos no país decidiram oferecer aulas de espanhol para os colegas brasileiros da Escola Municipal de Ensino Fundamental Infante Dom Henrique / Escritora Carolina Maria de Jesus, localizada na Zona Norte de São Paulo.

Denominada de “Sí, yo te entiendo!”, a iniciativa chegou a reunir mais de 70 alunos do 5º ao 8º ano, em aulas dentro da escola e também fora dela. Uma das aulas práticas foi realizada na Praça Kantuta, uma tradicional feira boliviana que ocorre aos domingos no bairro do Canindé.  

Estudantes do projeto Sí, yo te entiendo!

Estudantes do projeto Sí, yo te entiendo!

 

Estudantes migrantes: o caso de São Paulo

Um exemplo que evidencia o desafio do atendimento à distância aos estudantes migrantes é o de escolas das redes estadual e municipal de São Paulo. As aulas foram retomadas no dia 27 de abril por meios digitais, depois de mais de um mês de paralisação. A estratégia foi antecipar as férias de inverno, para evitar o contágio do coronavírus e não atrasar o ano letivo.

No caso da rede estadual, o governo anunciou a distribuição de kits com material impresso para subsidiar o estudo à distância dos cerca de 3,5 milhões de estudantes. O pacote inclui livros de língua portuguesa e matemática, além de gibis da Turma da Mônica.

Professora conta história a crianças - Foto: Nicolas Neves dos Santos

Professora conta história a crianças – Foto: Nicolas Neves dos Santos

Segundo a Secretaria Educação do Estado de São Paulo (Seduc), também estão sendo disponibilizadas aulas pela televisão por dois canais digitais – TV Univesp (2.2) e TV Educação (2.3) – e pelo aplicativo Centro de Mídias SP (CMSP), acessível sem a utilização de dados móveis para sistemas operacionais Android e iOS.

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Já na Rede Municipal de Ensino (RME) da capital paulista, a Secretaria Municipal de Educação (SME) disponibilizou 27 materiais direcionados aos educadores e educadoras. Os chamados Cadernos da Cidade do Professor contém orientações pedagógicas e respostas de atividades para o ensino do 1º ao 9º ano, nas áreas de língua portuguesa, matemática e ciências naturais.

Assim como o governo estadual, a prefeitura também está enviando material pedagógico bimestral para as casas dos cerca de um milhão de estudantes que se cadastrarem no site. No início, apenas 15% dos endereços estavam atualizados.

Esse esforço, entretanto, não consegue incorporar as especificidades de cada um dos diferentes territórios e sujeitos que estão presentes nas milhares de escolas espalhadas pelo estado. De acordo com dados da Seduc, São Paulo possui aproximadamente 12 mil estudantes não brasileiros, de 120 nacionalidades distintas. Dos 645 municípios do estado, 295 possuem estudantes migrantes ou refugiados cadastrados. Todavia, a capital paulista concentra grande parte do número absoluto – 78,8%.

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Do total, quase a metade são bolivianos (44%). A lista é encabeçada ainda por estudantes japoneses (9,78%), haitianos (9,44%), venezuelanos (5,19%), angolanos (4,32%) e paraguaios (3,99%).

Estudante mostra desenho feito em aula. - Foto: Nicolas Neves dos Santos

Estudante mostra desenho feito em aula. – Foto: Nicolas Neves dos Santos

Pensando nesse público, a SME traduziu os Cadernos “Trilhas de Aprendizagem” para os idiomas espanhol, inglês e francês – que abarcam cerca de 66% dos estudantes da rede municipal. O material é voltado para bebês de 0 a 3 anos, crianças de 4 e 5 anos, e estudantes dos 1º, 2º e 3º anos do ensino fundamental.

“Embora esta iniciativa não seja suficiente para desenvolver habilidades pedagógicas nestas famílias migrantes, constitui um avanço institucional em relação à diversidade cultural e linguística que envolve a comunidade educativa atual”, opina Rocio. 

+ Saiba mais: Projeto “Sí, yo te entiendo!”

Entretanto, o desafio de incluir a diversidade linguística e cultural de estudantes migrantes e refugiados ainda é muito grande. Por isso, a assessora do Projeto Canicas selecionou materiais educativos em espanhol para crianças, disponíveis gratuitamente na internet, para servir como fonte para professores professoras e/ou demais interessados em trabalhar com alunos e alunas migrantes

Confira abaixo uma lista com 10 audiolivros em espanhol para crianças:
Para acessá-los, basta clicar no título.

 1. A girafa que tinha medo das alturas
Título em espanhol: La jirafa que tenía miedo a las alturas

Audiolivro_JirafaMiedoAlturas_AlunosMigrantes

Sinopse: Uma girafa que tinha medo das alturas conhece outros animais que também têm seus próprios temores para vencer. Que passará se eles trabalharem juntos para superar esses medos?
Autor: David A. Ufer
Duração: 6 minutos

 2. Alvoroço na granja 
Título em espanhol: Algarabia en la granja

Audiolivro Algarabia en la granja - Alunos MigrantesSinopse: Cantoria e dança conduzida por uma criança que apresenta diferentes membros de sua família junto a novos animais de uma granja. Esta história é inspirada em um conto popular chileno.
Autora: Margaret Read MacDonald
Duração: 7 minutos e 36 segundos


3. 
Olha quem toca Calypso
Título em espanhol: Mira quien toca Calypso

Audiolivro_MiraQuienTocaCalipso_EstudantesMigrantesSinopse: História de uma barulhenta banda de insetos que tocam diversos instrumentos musicais.
Autor: Tony Langham
Duração: 3 minutos e 8 segundos

 


4. 
O detetive dedutivo 
Título em espanhol: El Detective Deductivo

Audiolivro Detective Deductivo_Estudantes MigrantesSinopse: Alguém roubou um bolo de um concurso de bolos. O detetive Pato utiliza suas habilidades de raciocínio dedutivo para resolver “o caso”. A história segue enquanto o detetive descarta cada um dos suspeitos, um de cada vez, para descobrir quem foi o culpado.
Autor: Brian Rock
Duração: 11 minutos

5. Newton e eu
Título em espanhol: Newton y Yo

Audiolivro Newton y yo _Estudantes MigrantesSinopse: Uma criança descobre, enquanto brincava com seu cachorro, as leis da força e do movimento de Isaac Newton.
Autora: Lynne Mayer
Duração: 4 minutos

 

6. Tubarões e golfinhos: Um livro de comparação e contraste
Título em espanhol: Tiburones y delfines: Un libro de comparación y contraste

Audiolivro Tiburones y delfines_EstudantesMigrantesSinopse: Os tubarões e os golfinhos têm corpos em forma de torpedos, com barbatanas nas suas costas. Mas, apesar da suas semelhanças, os tubarões e os golfinhos pertencem a diferentes espécies de animais.
Autor: Kevin Kurtz
Duração: 3 minutos

 

7. Detetive Pocoyo 
Título em espanhol: Detective Pocoyó: Las aventuras de Pocoyó

Audiolivro Las aventuras de pocoyo Estudantes MigrantesSinopse: Elly perdeu sua boneca e está muito preocupada porque não sabe onde buscá-la. Por sorte, Pocoyó é um grande detetive e propõe a Elly resolver esse difícil enigma. Que fará Pocoyo para encontrar sua boneca?
Autor: Zinkia
Duração: 9 minutos.


8. Pedro e o bosque
Título em espanhol: Pedro y el bosque

Audiolivro Pedro y el bosque_EstudantesMigrantesSinopse: Um menino que se chama Pedro saiu da sua casa à noite e entrou no bosque para recuperar seu caminhão de bombeiros. Vários animais o observam com curiosidade. O que é capaz de fazer Pedro para recuperar seu caminhão de bombeiros?
Autores: Jaume Cabré, Concha Cardeñoso
Duração: 19 minutos

9. Contos com beijo para as boas noites
Título em espanhol: Cuentos con beso para las buenas noches

Audiolivro Cuentos con beso para las buenas noches _Estudantes MigrantesSinopse: Seleção de 15 contos para crianças. Recomendamos: A ovelha que sabia contar (La oveja que sabía contar) – capítulo 3; O gênio da lâmpada bagunçada (El genio de la lámpara desordenada) – capítulo 5; A ratinha Pérez (La ratoncita Pérez) – capítulo 8 e Quando a lua era bebê (Cuando la luna era bebe) – capítulo 11.
Autora: Vanesa Pérez-Sauquillo
Duração: 60 minutos

10. Eloísa e os bichos
Título em espanhol: Eloísa y los bichos

Autores: Jairo Buitagro y Rafael Yockteng
Interpretação: Rocio Bravo Shuña

Nas próximas semanas, o Canicas disponibilizará outros materiais educativos em suas redes sociais para servir como subsídios a professores e responsáveis por crianças migrantes.

 

Redação: Guilherme Weimann
Edição: Helisa Ignácio

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