Estudantes de Minas Gerais e São Paulo se unem para criar festival e incentivar teatro estudantil.
Um mais um é sempre mais que dois. A frase que matematicamente poderia ser contestada, é verdadeira quando se trata da soma dos grupos de teatro estudantil Brinquedo Torto, de Santo André (SP), e Tatu Bola, de Pará de Minas (MG). As equipes são as criadoras do festival de teatro Potência que, desde 2013, tem edições anuais em uma das duas cidades e reúne jovens e professores para oficinas, discussões e, claro, espetáculos.
“Teatro é muito mais que entrar no palco e fazer uma cena”, conta a estudante Gabrielle Lima, que concluiu o 3º ano do Ensino Médio em 2017 no Colégio Central Casa Branca, sede do grupo Brinquedo Torto. “O Potência é um acontecimento fantástico que une gente com idades variadas, culturas diferentes, com o único propósito de discutir o teatro estudantil”, diz a jovem, que participou das três últimas edições do evento. O festival, que já teve cinco encontros, foi finalista do Desafio Criativos da Escola 2017.
Organizado e idealizado pelos alunos e professores paulistas e mineiros (respectivamente do Colégio Central Casa Branca e da Escola Municipal Dona Cotinha), o Potência reúne, por exemplo, oficinas com temas como escrita criativa, palhaçaria, dramaturgia, expressão corporal, entre outras. O objetivo é trocar conhecimentos relativos à dramaturgia e ao crescimento pessoal dos alunos, como explica Gabrielle: “participei da aula de palhaçaria e trago o que aprendi, também, para minha vida fora do teatro. Posso usar as técnicas em uma entrevista de emprego, por exemplo”.
Um festival para chamar de nosso
O Potência surgiu a partir de uma inquietação identificada em 2012, durante o Festival de Teatro Estudantil de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Apesar de viverem a quase 600 quilômetros de distância, os grupos Brinquedo Torto e Tatu Bola se conheceram na ocasião e, entre uma apresentação e outra, criaram laços de amizade. “Uma hora depois que fomos apresentados, já estávamos fazendo jogos na rua em frente ao hotel. Logo percebemos que não precisávamos depender de um grande festival para nos encontrarmos”, lembra o diretor do grupo paulista, Varlei Xavier.
No ano seguinte, 2013, nenhum dos grupos foi aprovado para o festival que acontece na capital mineira – era o que faltava para que criassem um evento próprio e autoral. “A vontade de nos encontrarmos permanecia. Sentimos a necessidade de criar algo que fosse socialmente interessante e trouxesse novas visões sobre teatro, sem depender de terceiros”, lembra Miguel Fagundes, que participou das primeiras edições do Potência como aluno do Colégio Central Casa Branca e, atualmente, trabalha como instrutor teatral.
Para Miguel, a principal qualidade dos encontros teatrais é a possibilidade de aprender a partir das experiências dos outros. Segundo ele, “o festival te apresenta novas perspectivas de arte e dá a chance de entrar em contato com vivências que agregam à construção teatral. Culturalmente é muito rico e um grupo passa a influenciar o outro”.
Por que falar sobre teatro estudantil?
“O projeto Potência se tornou um movimento de valorização do teatro estudantil”, explica o professor Varlei. Segundo ele, por estar dividido entre as artes e a escola, esse tipo de teatro, muitas vezes, não é valorizado por nenhuma das duas áreas. “Temos um manifesto que é lido antes de cada espetáculo, pois acreditamos que o Potência acaba sendo um movimento político”, defende o educador.
“Nossa arte parte das ativas mentes de jovens inquietos, perambula pelos corredores, pulula dentro das classes, se alimenta da efervescência dos recreios e intervalos, vem de corações revolucionários por natureza”, diz o início do Manifesto do projeto Potência. “É na escola que se trabalha. Na escola, ou qualquer ambiente destinado à prática pedagógica. Sim, é neste terreno fértil, neste espaço de construção do sujeito e do ser social que plantamos sementes de uma educação dos sentidos e das emoções”, diz, ainda, o texto que inaugura os espetáculos.
O professor Varlei explica também que fazer teatro estudantil é diferente de apenas fazer teatro que acontece dentro do ambiente de um colégio. Isso acontece pois o teatro estudantil, além de estar dentro da estrutura escolar, também enfatiza o foco no estudante. Nele, os grupos têm uma participação decisiva em toda jornada de aprendizagem que culmina no espetáculo.
Apesar dos cinco anos de existência do festival, os grupos ainda enfrentam dificuldades para a arrecadação de dinheiro para realizar o encontro anual. “Todo ano é uma luta: a gente praticamente faz isso sozinho e é um projeto que escolhemos fazer por acreditar que muda a vida dos jovens e das comunidades”, conta a estudante Gabrielle, explicando que os gastos incluem “transporte, acomodação, [por meio de] financiamento coletivo, campanhas e rifas”.
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Redação: Júlia Matravolgyi
Edição: Gabriel Maia Salgado
Imagens: Divulgação