Estudantes de Imperatriz (MA) criaram plataforma digital para orientar população ribeirinha sobre descarte correto de resíduos sólidos no rio, reciclagem e compostagem.
Com a expansão do acesso à internet, as pessoas têm tido a possibilidade de compreenderem os impactos de suas ações para o meio ambiente. Porém, somente a informação não basta. O cuidado com a natureza só tem sua importância reconhecida quando a prática é acompanhada de políticas públicas para garantir a proteção da flora e da fauna regionais. Pensando nisso, um trio de adolescentes da cidade de Imperatriz, no Maranhão, quis fazer algo pelo Rio Tocantins.
Após realizarem uma visita de observação ao leito do rio, os estudantes do Colégio Militar Tiradentes desenvolveram o projeto Tríplice Coroa. Premiada na sexta edição do Desafio Criativos da Escola, a iniciativa consistiu na criação de uma plataforma digital com informações sobre o descarte correto de resíduos sólidos, reciclagem e compostagem.
No ano de 2019, o grupo fez uma visita aos pontos turísticos de Imperatriz. A expedição incluiu também a ida a algumas praias de água doce formadas na época de intervalo de chuvas nos leitos do rio Tocantins.
“Essas praias se transformam em áreas de lazer para toda a cidade. Ali, percebemos uma natureza sensivelmente comprometida pela poluição e pelo descarte incorreto de resíduos sólidos”, afirma a estudante Joana Linda, de 14 anos.
Estreitando laços: pesquisa de campo e escuta ativa da população ribeirinha
O Rio Tocantins é o segundo maior rio que fica inteiramente no território nacional, atrás somente do gigante São Francisco. O Tocantins nasce no estado de Goiás e depois passa pelos estados do Tocantins, Pará e Maranhão, até se unir às águas do Amazonas. Quase todo o seu leito é navegável e o movimento de suas águas possui grande potencial hidrelétrico e abriga uma das maiores usinas geradoras de energia do mundo.
A bacia hidrográfica tem uma fauna e flora ricas em espécies típicas tanto do cerrado quanto da floresta amazônica. O rio ainda oferece um generoso leque de possibilidades de subsistência à população ribeirinha, que se beneficia das águas tanto para a pesca e quanto para a agricultura.
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Apesar de todo esse potencial do Tocantins, “o desenvolvimento desordenado das cidades que margeiam o rio, o aumento do número de indústrias, a exploração de recursos naturais sem fiscalização e a falta de políticas públicas sólidas de descarte de resíduos sólidos comprometem a biodiversidade e o bem estar da população que depende do rio para sobreviver”, afirma o estudante Iderlan Ferreira, de 15 anos.
A partir dessas constatações, os estudantes decidiram, então, mapear as formas como a população local descartava o lixo. Ouviram 137 ribeirinhos e moradores das áreas próximas ao rio Tocantins e se surpreenderam com os resultados recolhidos.
Para o grupo, ficou evidente que faltava informação e incentivo para que a população local cuidasse do descarte dos resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos produzidos em suas casas. Para reverter o problema, criaram um projeto que envolveu toda a comunidade.
Uma plataforma, múltiplas soluções
O grupo começou projetando uma plataforma digital que pudessem reunir informações didáticas e confiáveis sobre formas de descarte de lixo, técnicas de compostagem para reaproveitamento de resíduos orgânicos e informações sobre reciclagem. O trio decidiu incluir no projeto tanto representantes do poder público quanto alguns representantes do comércio local, que também são co-responsáveis pela preservação do Rio Tocantins.
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“A plataforma digital foi criada como um meio de comunicação entre os componentes do grupo, moradores e empresas. Nela, incluímos informações sobre pontos de coleta de lixo e opções de técnicas de reaproveitamento de resíduos orgânicos e recicláveis”, explica Iderlan. A ideia era que os moradores pudessem, inclusive, obter alguma renda extra com a reciclagem de seu próprio lixo.
Outro ponto de destaque da plataforma é a possibilidade do usuário acionar o atendimento presencial da equipe para que possa receber uma orientação mais precisa sobre o manuseio do lixo. Agora, o objetivo do grupo é direcionar esforços para o mobilização social: “quando as atividades presenciais forem normalizadas, pretendemos expandir o acesso à plataforma a todos os ribeirinhos, garantindo, assim, o suporte adequado a todos os moradores que vivem próximos ao rio”, comenta Joana.
Protagonismo encoraja estudantes e transforma a realidade local
Para a professora Oselania Santos, orientadora do Tríplice Coroa, a conquista da premiação do Criativos da Escola 2020 foi motivo de muito orgulho. “São estudantes dedicados, caprichosos e curiosos, que procuram as soluções e respostas para os problemas que enxergam com seus próprios olhos. É maravilhoso ver os estudantes conquistado o espaço deles na sociedade”, comenta Oselania.
Para Iderlan, receber a premiação foi uma sensação especial. O estudante se encantou com a proposta do Desafio: “Fomos selecionados por uma nobre iniciativa que reconhece os esforços de quem pensa na mudança. Agora, queremos fazer mais. Queremos expandir o projeto para outras áreas afluentes e impactar positivamente mais pessoas”.
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Redação: Laura Fontana
Edição: Helisa Ignácio
“Nossa pesquisa apontou que 82% dos participantes consideravam regular ou insuficiente o suporte público para o descarte correto do lixo produzido. Já 66,5% dos entrevistados achavam insuficiente o suporte recebido para o reaproveitamento de resíduos, reciclagem e compostagem”
completa Iderlan.