Jovens ouvem catadores e tornam coleta seletiva responsabilidade coletiva, com separação do lixo e cronograma para coleta em rua de Juazeiro do Norte.
Quase 90% do lixo reciclado, no Brasil, é fruto do trabalho de catadoras e catadores. Grandes responsáveis pela salubridade de espaços urbanos e do meio ambiente, os mais de 600 mil trabalhadores – números do Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis – são pouco reconhecidos e, geralmente, mal remunerados.
São algumas dessas pessoas que a estudante Victória Mell, de 18 anos, assistia trabalharem na rua da sua casa, na cidade de Juazeiro do Norte (CE). Como a maioria da população, ela não tinha ideia de como os catadores exerciam seu ofício e também não sabia exatamente como era feita a coleta seletiva.
Mas foi justamente o interesse em se aproximar destes trabalhadores que fez com a jovem entrasse no projeto Reciclando Práticas, um dos ganhadores da 5ª edição do Desafio Criativos da Escola.
Iniciada após um debate dentro da aula de português no Colégio da Polícia Militar Coronel Hervano Macedo Júnior, a iniciativa realiza um trabalho de conscientização ambiental e territorial a partir da realidade de catadores e catadoras.
Escuta para fazer junto
Por conta da pandemia, o grupo passou a primeira parte do projeto planejando como seria a aproximação entre eles e os catadores de resíduos. Foi só em 2021, que eles tiveram a oportunidade de se aproximar da categoria, tendo como território piloto a rua onde Victória vive.

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Os estudantes imaginavam que as demandas dos catadores tinham a ver com as questões de insalubridade de seu trabalho. Porém, ao realizar um questionário e conversar com eles, perceberam que o desejo dos catadores para o projeto era outro. Quem conta isso é a educadora Veronica Rodrigues, responsável pela orientação da iniciativa.
“Fizemos uma pesquisa de campo com eles e as respostas foram bem diferentes do que nós imaginávamos. Eles responderam que um grande problema era o preconceito e a falta de informação que as pessoas tinham com relação ao trabalho de reciclagem”.
Dar fim ao preconceito
e começar novos hábitos
O projeto voltou, então, suas ações para a visibilidade do trabalho dos catadores. Os estudantes organizaram um cadastro com os catadores da rua piloto, fazendo um cronograma de coletas.
Na vizinhança, o esforço foi de apresentação do real trabalho dos catadores para os moradores e o ensinamento sobre como fazer a separação correta do lixo e, assim, apoiar a coleta seletiva.
Antes, os catadores tinham que acordar muito cedo para vir até a minha rua e tinham bastante trabalho para revirar o lixo e encontrar o que precisavam. Por causa do projeto, hoje eles não precisam fazer isso. Está tudo organizado, com um cronograma de coletas certinho. Os próprios moradores já sabem onde e como deixar o material.
O projeto também forneceu para os catadores materiais como luvas, blusas com mangas para evitar o sol, chapéus e outros utensílios para tornar o trabalho mais seguro. Acidentes com cortes se tornaram raros.
Depois de meses de ação, os resultados já são evidentes. “Este projeto é tão na prática que já estamos colhendo os resultados. Essa é a opinião do grupo e também dos moradores da rua onde eu moro. Aqui, antes tinha muito problema com plástico e também muito lixo revirado. Hoje, ela está muito mais limpa, e os esgotos não entopem com tanta frequência”, conclui a estudante Victória

Ação coletiva para transformar o território
Por conta da pandemia, o grupo do Reciclando Práticas concordou que as estudantes que não podiam estar na rua fariam parte da logística das ações. “A outra integrante e eu estamos nos bastidores, auxiliando com as redes sociais, estratégias e com a divulgação do projeto”, relata Melissa Karine, de 18 anos, uma das integrantes mais antigas do projeto.
O projeto começou com apresentações entre a vizinhança e os catadores. E, hoje, já conta com adesivos para identificar as casas e também redes de contato caso precise haver uma coleta específica. Na casa das estudantes e dos moradores da rua, a separação do lixo virou uma prática cotidiana.

Na escola, o projeto pretende instalar pontos de coleta de óleo e de pilhas, materiais que precisam ser descartados com cuidado. “Por causa da pandemia, não estávamos conseguindo ir à escola tanto quanto queríamos. Mas, sempre que possível nas reuniões de pais, a gente apresenta os objetivos do projeto, o tema da sensibilidade, para gerar mais engajamento”, explica Marynara Gonçalves, de 17 anos.
A estudante Melissa complementa: “Questões como meio ambiente, sustentabilidade, toda a cadeia de reciclagem e inclusão, são imprescindíveis na nossa sociedade. E principalmente, o olhar mais atento e justo aos catadores de resíduos, significa dar voz a essa parcela da população que desenvolve um importante e belíssimo trabalho na preservação ambiental! “
Para as três estudantes, o que fica dessa experiência prática é a possibilidade real de utilizar os conhecimentos dos jovens para ampliar vozes diversas na causa ambiental.
Redação: Cecília Garcia
Edição: Helisa Ignácio
A proposta do Reciclando Práticas é trabalhar com pessoas que são consideradas invisíveis pela sociedade. Atuamos não só na rua junto com os catadores, mas também em práticas para levar a questão da coleta seletiva para o ambiente escolar e para nossa comunidade.
explica Victória