O Movimento Democratizou foi criado por estudantes de Aracaju (SE) com objetivo de ampliar o acesso à educação política e fortalecer a democracia pelas mãos dos jovens. O projeto se espalhou pelo Brasil e chegou a países como Estados Unidos e Paraguai.
A primeira organização política baseada na democracia surgiu na Antiguidade, mais especificamente em Atenas (Grécia), quando os cidadãos começaram a se reunir para discutir e tomar decisões em conjunto. Porém, ser cidadão se limitava a um pequeno grupo social: apenas homens com mais de 21 anos e atenienses.
Felizmente, as coisas mudaram e, hoje, a democracia que conhecemos é firmada em leis que asseguram que todo mundo possa fazer parte dessa conversa. Inclusive as crianças e adolescentes. O inciso VI do artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) caracteriza participar da vida política, na forma da Lei como um dos aspectos do direito à liberdade das infâncias e adolescências.
Em meados de 2020, ocorreram manifestações antidemocráticas contra Supremo Tribunal Federal e o Congresso, e pediam intervenção militar na frente do Palácio do Planalto em Brasília (DF). Atos que ameaçavam não só o direito à participação, como todos aqueles assegurados na Constituição de 1988. Estudantes do Centro de Excelência Master, Aracaju (SE), ficaram preocupados com a situação.
Nessa mesma época, os alunos estavam estudando sobre a Ditadura Militar e sendo instigados pelo professor Paulo Teles a pensarem soluções para as problemáticas que estavam percebendo no seu entorno.
As provocações resultaram na criação do Movimento Democratizou, idealizado por Luana Prado Oliveira, de 18 anos, para espalhar educação política e fortalecer a democracia juntamente com Maria Augusta Espinola e Renato de Souza, de 18 anos, e outros colegas embaixadores. A iniciativa foi umas das 50 premiadas na última edição do Desafio Criativos da Escola.
Por onde começar a cuidar da democracia brasileira?
Do incômodo e da constante sensação de ameaça a seus direitos de expressão, o grupo começou a realizar pesquisas na internet para entender o contexto. Com ajuda do professor e orientador Paulo Teles, o pessoal se aprofundou ainda mais em materiais e leituras sobre a democracia para de fato entender as raízes desse problema.
Discutiram desde o que é democracia e os tipos existentes, até que grupos são mais afetados pela falta de educação política. Assim, chegaram à constatação de que a cultura democrática no Brasil estava enfraquecida e que nem todo mundo tinha acesso ao conhecimento político que eles mesmos tinham.
Maria Augusta enfatiza que o conhecimento superficial sobre política provoca, nos jovens, aversão a qualquer assunto relacionado.
Só que não tem para onde fugir. Política é tudo que está ao nosso redor e ela impacta diretamente a nossa vida. Por isso, é necessário quebrar o preconceito e democratizar esse conhecimento urgentemente. Só assim conseguiremos avançar e evoluir como sociedade.
Também, por causa disso, algumas atitudes que prejudicam a prática democrática podem passar despercebidas. Coisas que, antes do projeto, ela também não notava. “Eu lembro que eu fui fazer as unhas e a manicure falou que, desde os seus 18, ela só vota nulo. E, naquele momento, eu não vi problema, mas, depois do movimento, eu pude perceber como aquela frase era problemática para a democracia brasileira e para tudo que ela representa” relatou a jovem.
Ficou claro que o Movimento Democratizou precisava atuar por meio da Educação e a ideia era trabalhar diretamente dentro da sala de aula nas escolas. Mas, o começo foi difícil. Por causa do contexto polarizado e do medo de o projeto ser partidário, nem todas as escolas estavam de portas abertas para essa discussão. Foi preciso pensar em outras estratégias e alternativas.
Jovens que viralizam causas
Já que fazer parcerias com escolas estava sendo um desafio, os estudantes decidiram falar diretamente com os jovens, e que lugar melhor se não a internet? O Movimento Democratizou mantém um perfil no Instagram, por meio do qual pode se conectar com uma rede de adolescentes e compartilhar conteúdos que simplificam a política.
De forma online, o projeto organizou a “Semana Democrática” que impactou cerca de 1500 pessoas. Tanto no evento, como nas demais publicações, os estudantes abordam temas como a polarização, mulheres na política, Constituição Federal e direitos humanos, a história do voto no Brasil e muito mais. Para diversificar os formatos e conteúdos, lançaram uma revista digital escrita pelos embaixadores do movimento, que, em sua primeira edição, teve como principal temática “Os Alicerces da Democracia”.
Com as ações online, o projeto conseguiu se estabelecer e ganhar mais espaço, chegando a realizar algumas das atividades em escolas do município de Aracaju e caminhando para fazer ainda mais.
Esses garotos são capazes de se juntar não só para viralizar danças no TikTok, trending topics no Twitter e trends no Instagram, mas também para viralizar causas!
Foram cerca de 35 debates, e 30 aulas e palestras de política e cidadania promovidos para ensinar democracia online. A partir disso, o Movimento cria espaços seguros em que os jovens expõem, exploram o seu próprio posicionamento político e, assim, descobrem sua voz.
Sem fronteiras: um clube de estudos internacional sobre política!
Hoje, o projeto tem cerca de 100 embaixadores de norte a sul do Brasil, com idades entre 14 e 17 anos. E tem mais: o Movimento Democratizou passa por uma expansão internacional. Clubes de estudos juvenis sobre política estão nascendo em países como o Estados Unidos e o Paraguai. E o objetivo é crescer ainda mais!
Além disso, os jovens pretendem lançar o site do Movimento Democratizou, que incluirá uma plataforma com projetos de leis escritos por jovens que visam fortalecer e proteger a democracia. A ideia é criar um espaço para que os estudantes também possam pressionar a aprovação de tais projetos. Enquanto isso não acontece, os embaixadores seguem publicando materiais via Instagram e textos por meio de um perfil no Medium.
Meu sonho é que o propósito do movimento atinja todos os jovens brasileiros, para que, assim, possamos viver em uma democracia mais inclusiva!
No momento, o Movimento Democratizou está em recesso para pensar novas ações e possibilidades para fortalecer a democracia e transformar o olhar dos jovens sobre a política, e logo retornará com grandes novidades!
Redação: Nayra Teles
Revisão e edição: Helisa Ignácio
Durante a quarentena, eu pude ver de perto como a crise partidária tinha afetado a democracia brasileira e, consequentemente, o nosso cotidiano.
relata Maria Augusta