Autoconhecimento, habilidades socioemocionais e desenvolvimento de projetos são temas abordados nas mentorias para jovens líderes realizadas por estudantes da região Norte do país.
Ao participar de uma iniciativa da Embaixada dos Estados Unidos para fortalecer perfis de liderança de alunos brasileiros, Lívia Maria Souza, de 18 anos, entrou em contato com outros 49 jovens líderes de diversos países. Depois da experiência internacional, a estudante retornou para sua cidade, Capanema (PA), com um olhar mais crítico para a participação juvenil na região.
“Um dos pontos que mais me intrigou foi o fato de que todos os jovens [da formação] estavam envolvidos com alguma causa e tinham desejo de gerar um impacto positivo na sua comunidade. Então, quando eu voltei, percebi essa falta de protagonismo juvenil na minha comunidade” conta a jovem.
O direito à participação de crianças e adolescentes é lei e está previsto no artigo 16° do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Já para os jovens, o artigo 4° do Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852) diz que “o jovem tem direito à participação social e política e na formulação, execução e avaliação das políticas públicas de juventude”.
Apesar disso, existem diversos desafios que impedem que adolescentes consigam participar efetivamente.
Foi com o objetivo de criar uma estrutura para desenvolver as habilidades de liderança dos jovens nortistas que Lívia mobilizou uma rede de colegas. Antonia Karolina Monteiro (17 anos) e Kaylany Lorena Damasceno (18 anos) estão entre os oito jovens que toparam pôr o projeto Levanta Jovem em prática. A iniciativa foi premiada na 7º edição do Desafio Criativos da Escola.
Os desafios do desenvolvimento da potência juvenil
O Levanta Jovem nasceu, principalmente, de uma percepção coletiva dos integrantes do projeto sobre a falta de espaços de participação para jovens. Mas era preciso entender a raiz do problema. Lívia, em conjunto com os colegas, realizou conversas com professores, secretarias de educação e um questionário para identificar os assuntos que os jovens se interessavam. Entre as mais de 70 respostas, se destacaram o desenvolvimento de projetos, a formação de liderança e o autoconhecimento.
“Deu para entender que os jovens tinham interesse em várias coisas, mas não tinham suporte para fazer isso, para aprender sobre esses assuntos e realmente ir a fundo.” explica Lívia.
Além da falta de suporte, Kaylany conta que a sociedade não reconhece que crianças, adolescentes e jovens têm maturidade ou capacidade para participar politicamente e isso os desencoraja.
Eu gosto de participar ativamente da política e eu sou apaixonada pela temática. Muitas vezes,, eu tentei me posicionar sobre, e as pessoas chegavam em mim e falavam: ’Ah, tu é muito jovem ainda, tu não aprendeu nada’. Isso invalidou muito as minhas ideias
Mesmo com esses desafios, o Levanta Jovem quer mostrar a potência que há nos estudantes. E, para isso, foca em desenvolver tanto o autoconhecimento dos jovens como habilidades interpessoais e técnicas.
Formar jovens líderes com um olhar humano
Para transformar o cenário, era preciso dar suporte aos jovens para que desenvolvessem seus talentos e descobrissem seus interesse. Por isso, os estudantes criaram uma mentoria, que já está na sua segunda edição, com cerca de 20 jovens do Pará e outros estados da região Norte.
As pessoas são selecionadas por meio de um formulário de inscrição no perfil do Instragam do projeto. Após essa etapa, é realizada uma conversa para explicar o funcionamento da mentoria e para entender a rotina e disponibilidade dos jovens interessados.
A primeira parte da formação foca na parte interna dos mentorados. Isso quer dizer entender quem são, o que querem fazer, quais são seus sonhos e propósitos. Nela, é desenvolvido o autoconhecimento e as habilidades interpessoais e socioemocionais dos jovens.
Depois, a mentoria se preocupa com as aptidões. Trabalham temas como liderança, oratória, desenvolvimento de projetos, empreendedorismo social e comunicação. A ideia é implementar também os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (Organização das Nações Unidas) nas formações.
O projeto quer te entender primeiro como ser humano, quer entender seus desafios e explorar a parte interna de quem você é. E, aí depois, trabalhar outros aspectos. A gente atua de uma forma holística, porque valorizamos todas as habilidades possíveis em desenvolvimento nos jovens
Além disso, a iniciativa convida profissionais ou estudantes com experiência em diversas áreas para darem palestras e oficinas sobre temas como networking, soft skills, oratória e protagonismo juvenil.
Aumentando o alcance para fortalecer mais jovens
O Levanta Jovem já impactou cerca de 120 pessoas. Lívia conta que “fazer o jovem reconhecer seu próprio potencial e despertar essa capacidade de sonhar, de entender suas causas é o maior impacto que o Levanta Jovem pode gerar na comunidade”.
E, para aumentar ainda mais esse impacto, a iniciativa já está desenvolvendo um site com os materiais da mentoria e também histórias de jovens que são inspirações. Além disso, o projeto tem um clube de atividades extracurriculares, no qual divulgam oportunidades e programas de interesse dos estudantes.
Com as novas ações em desenvolvimento, o projeto que se organiza em dois grupos: o que cuida do marketing e o que cuida da comunidade. E ainda será necessário criar mais um que ficará responsável pelo site. Em breve, estarão abertas inscrições para voluntários interessados em compor a equipe.
No Norte, tem lideranças, sim!
O projeto visa ampliar a relevância do protagonismo jovem na região Norte do país. “A gente quer que todos os estados do Norte tenham alguma iniciativa sendo promovida pelo jovem. Nós estamos, primeiro, trabalhando a estruturação dessas iniciativas para, depois, expandi-las para essas outras regiões” conta Lívia sobre o futuro da iniciativa.
O educador e orientador Fábio José de Mendonça conta que “era um antigo sonho ver os jovens se mobilizando em prol de impactar a comunidade. No dia a dia, eu vejo como o Levanta Jovem fez com que cada um deles acreditasse em si mesmos”.
E é com essa vontade de fortalecer jovens, por meio do apoio emocional e profissional, que o Levanta Jovem vai continuar trabalhando para mostrar quanta potência juvenil existe no país.
Redação: Nayra Teles
Edição: Helisa Ignácio
Crédito da imagem em destaque: Alicia Peres, 2019
A falta de protagonismo juvenil é uma consequência de outros problemas como a negligência do governo, falta de investimento em programas e projetos focados na juventude. E até as próprias lideranças locais não dão foco nessa questão.
relata Lívia sobre a região onde mora.