Criativos da Escola | Estudantes criam documentário sobre periferias e retomam autoestima
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Estudantes criam documentário sobre periferias e retomam autoestima

Temas

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  • educação
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  • mobilização comunitária
  • relações étnico-raciais
Foto de uma pessoa branca segurando um celular que filma uma mulher negra

Campinas - SP

Ano de Inscrição: 2020

status Premiado

ODS

26/08/2021 - Por Helisa Ignácio

Ao contar história da formação das favelas de Campinas (SP), jovens percebem como a informação pode mudar a forma como enxergam a si mesmos.

Você sabe o que é estigma? Segundo o dicionário, a palavra significa cicatriz, marca na pele. Quando falamos em estigma social, tem a ver com o julgamento negativo que as pessoas recebem só por estarem em condições ou lugares marginalizados pela sociedade, tendo suas capacidades ignoradas.

Durante uma conversa na Escola Estadual Francisco Glicério, em Campinas-SP, estudantes se viram diante de uma questão que parecia simples, mas que provocou uma grande mudança de perspectiva: como surgiram as favelas? A indagação se transformou no projeto Campinas das Quebradas, premiado na última edição do Desafio Criativos da Escola, e também envolveu alunos da Escola Estadual Aníbal de Freitas.

“A gente percebeu que descobrir como foram formadas as favelas é descobrir a origem de grande parte da população de Campinas. É uma história muito rica, que tem a ver com conquista, escravidão, desigualdade, luta por uma terra pra viver”, conta o estudante Júlio Thiago Fortes, de 16 anos. 

Um plano de luz, câmera e ação

Da vontade de reconhecer e divulgar as valiosas narrativas do povo da periferia e de sua formação, surgiu o projeto Campinas das Quebradas. O objetivo do grupo é entrevistar moradores e lideranças locais, produzir um vídeo-documentário e exibi-lo dentro e fora da escola. 

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“As quebradas merecem que a gente conte suas histórias de força, de luta. Contar essas histórias que a gente ainda não conhece, histórias muitas vezes esquecidas, pode fazer o povo levantar a cabeça e enxergar que tem muita coisa para se orgulhar”, conta o educador Yan Caramel.

Rompendo as barreiras do estigma

A troca de ideias entre os alunos fez com que eles percebessem que o valor da periferia é apagado pelo preconceito e pela falta de informação, fazendo com que muita gente se sinta mal por pertencer a estes territórios.

A maioria das pessoas que eu conheço, meus amigos, eu também, moramos em quebrada. E muita gente tem vergonha de falar, sabe? O que me motiva é inspirar as pessoas a não sentirem vergonha do lugar de onde vieram.”

afirma a estudante Janine Fernandes, de 15 anos.

O educador Yan concorda: “A juventude tem uma autoestima muito baixa porque a periferia está sempre relacionada ao estigma da pobreza e da falta. As pessoas não conhecem as histórias incríveis que estão nas origens desses bairros. São histórias de força e de luta por sobrevivência, justiça e igualdade”.

Histórias incríveis, conhecimentos diversos

O projeto Campinas das Quebradas ainda está em fase de desenvolvimento, mas os primeiros passos já trouxeram importantes mudanças de mentalidade. É o que conta a estudante Janine, ao recordar um momento que a marcou bastante. 

“Eu comecei a lembrar de lugares que passei e pessoas que conheci. Gente que cozinha, costura, pratica bem um esporte. São talentos em potencial, muitas vezes ignorados”. Para Janine, o conhecimento vai além das disciplinas escolares.

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“A escola não fica só entre as suas paredes. Quando a gente volta pra casa, tem contato com várias pessoas e continua aprendendo. Conhecimento não depende só de diploma, é mais que português, matemática, geografia. Construir uma casa, fazer uma roupa, praticar bem um esporte, essas também são formas de sabedoria”.

Informação acessível, valor reconhecido

Júlio Thiago conta que se emocionou quando começou a desbravar a história das comunidades. “O que mais me tocou foi a possibilidade de ter esse conhecimento. Grande parte da minha vida eu vivi em comunidade e é por isso saber como elas foram surgindo, as questões históricas e tudo mais, é o que mais me atrai”.

Entender a formação da periferia, assim como a realidade das pessoas que habitam este espaço, é entender como vive a maioria dos brasileiros. Entretanto, isso não é o que geralmente aparece nos noticiários ou até na internet.

“Quando a gente fala de informação, precisa lembrar de que ela não chega do mesmo jeito pra todo mundo, e muitas vezes nem chega.”, afirma Janine. É por isso que a ideia de divulgar os dados colhidos se faz ainda mais importante para provocar o empoderamento destas populações. 

“A informação dá a consciência do que se pode cobrar do governo. Se as pessoas da favela ficam sabendo que têm direitos e deveres mínimos como todo cidadão, elas não só podem como devem cobrar investimento para melhorias no bairro, como asfalto, iluminação, ponto de ônibus”, completa a estudante.

Acesso à informação é uma forma de poder

Os estudantes perceberam que romper as barreiras do estigma social, enxergando o valor das narrativas de luta, de força e de conquista da moradia, é fundamental para que eles possam transformar e ressignificar suas próprias vidas.

“O que mais me motiva é o simples fato de a gente querer passar informação para as pessoas, porque informação é poder. A gente dar esse poder de conhecer a própria história para as pessoas que moram em comunidade pode mudar a realidade delas.”

conta Júlio

O grupo tem planos para o futuro. Junto com a elaboração do documentário, o grupo pretende ampliar a iniciativa e levar o projeto para além dos muros da escola. “Estamos em uma fase de limitações, mas com a melhora da pandemia o plano é fazer uma campanha de conscientização, visitar e ampliar o projeto para dentro de uma quebrada de Campinas”, planeja Janine.

As inscrições para o Desafio Criativos da Escola 2021 estão abertas. Se você está realizando um projeto de impacto social, não perca tempo. Clique aqui e inscreva-se até 04 de outubro!

Redação: Marina Finicelli
Edição: Helisa Ignácio

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