Estudantes de Iguatu (CE) elaboram projeto e conquistam aprovação de lei municipal para valorização e preservação da Caatinga
Oiticica, Ipê, Aroeira, Juazeiro e Pau D’arco. Essas são espécies de plantas típicas do único bioma exclusivamente brasileiro e que já possui mais de 40% de sua área devastada: a caatinga.
Buscando chamar a atenção para o bioma, alunos do 2º ano do ensino médio da Escola Estadual de Educação Profissional Lucas Emmanuel Lima Pinheiro, de Iguatu (CE), criaram um projeto de lei e promoveram intenso debate até que fosse aprovada na Câmara de Vereadores a Lei 2.404/16, que dispõe sobre a obrigatoriedade de fortalecer as políticas de valorização e preservação da caatinga. “O bioma é exclusivamente brasileiro e sua fauna e flora não é encontrada em nenhum outro local do planeta. A caatinga hoje já está mais de 40% devastada e a população não sabe disso”, explica o estudante Moisés de Souza.
Segundo levantamento do Ministério do Meio Ambiente, o desmatamento da caatinga já atinge 46% da área total do bioma.
Diante deste contexto, desde abril de 2015, o grupo de estudantes vem mobilizando toda a comunidade para a proteção do ecossistema por meio do projeto “Cruzando os Sertões da Mata Branca: Educação e Sustentabilidade na Caatinga”, que foi premiado na última edição do Desafio Criativos da Escola (Clique aqui e veja como foi a premiação do Desafio Criativos da Escola 2016).
Defendendo a valorização da caatinga (que em tupi significa Mata Branca), o projeto dos estudantes de Iguatu transformou os jardins da cidade, seu rio e, principalmente, seus habitantes. “Nós também temos a nossa voz, temos o nosso direito de criar leis e de mostrar o que nós, enquanto população e enquanto alunos, defendemos”, incentiva Moisés
Os alunos já convenceram moradores a reflorestarem suas propriedades com a árvore Oiticica, símbolo da cidade, e têm exigido que a Prefeitura priorize as espécies do bioma na arborização de praças, avenidas e prédios públicos. Além disso, junto com representantes da Secretaria de Educação, o grupo tem participado da formação de professores da rede municipal de ensino, reforçando a importância de o bioma ser um tema abordado com seus alunos.
Protagonismo Transformador
Durante uma aula de geografia, a professora Adriana Oliveira se sentiu obrigada a pedir que seus alunos fechassem os livros porque o material abordava o conteúdo de forma superficial. “Criou-se essa dúvida entre a gente: será que só nós não temos [o ensino sobre a caatinga] no nosso livro ou os alunos de outras escolas também não têm?”, lembra o estudante do projeto Dailton Rolim.
Para tirar essa dúvida, o grupo de alunos aplicou um questionário a 189 estudantes de sete escolas estaduais e analisou cinco livros didáticos de geografia utilizados nos colégios de ensino médio da região. O resultado confirmou o desconhecimento sobre o bioma, inclusive nos livros.
Com o objetivo de eles próprios contribuírem com a valorização do ecossistema, os alunos montaram um jardim com plantas nativas da região e realizaram uma ecotrilha para apresentação de espécies típicas a outros estudantes, além de visitarem as Secretarias do Meio Ambiente e de Educação para verificar quais são as ações de conservação da caatinga existentes no município. “Percebemos que tinha uma enorme carência em políticas públicas voltadas a preservação da caatinga”, lembra Moisés. Foi então que os estudantes decidiram elaborar uma lei voltada para a questão.
Além disso, com três reuniões semanais dentro ou fora da sala de aula, o grupo catalogou as plantas típicas do bioma na região, promoveu uma caminhada de conscientização pela cidade e organizou um mutirão para o reflorestamento das margens do Rio Jaguaribe. A partir do projeto “Cruzando os Sertões da Mata Branca: Educação e Sustentabilidade na Caatinga”, os alunos conseguiram alterar a disciplina de geografia da escola, que passou a desenvolver mais atividades sobre a importância da caatinga e de sua preservação.
Próximos passos
Nesta segunda etapa do projeto, os estudantes estão trabalhando na produção de um biofertilizante próprio para a produção agrícola na região e esperam que suas ações ultrapassem os limites do município. “Um dos nossos objetivos é apresentar o projeto na assembleia legislativa do estado para que se crie também uma lei estadual”, conta Moisés.
O grupo pretende, também, aproximar ainda mais suas ações à comunidade. “Esperamos que a galera do primeiro ano comece a ver isso [o bioma caatinga] nos livros. E, queremos transformar o nosso jardim em um viveiro para chamar a atenção das pessoas”, complementa o estudante Igor Rodrigues.
Assista ao vídeo dos alunos do projeto Cruzando os sertões da mata branca:
Veja mais fotos da iniciativa:
Redação: Gabriel Maia Salgado e Vanessa Ribeiro