Com o projeto Eco Pyro, alunas maranhenses desenvolveram e construíram um forno movido a energia solar e foram premiadas na última edição do Desafio Criativos da Escola.
O Brasil é o 4º país que mais produz gases poluentes no mundo desde 1850, segundo levantamento histórico de emissões de gás carbônico realizado pela think tank internacional Carbon Brief. Alguns aspectos como a queima de combustível fóssil, a maneira como usamos o solo e o desmatamento são as principais causas da liberação de substâncias tóxicas no meio ambiente, de acordo com o estudo divulgado no final de 2021.
Realidade do dia a dia de famílias por todo o Brasil, o uso de gás de cozinha e a queima da lenha são exemplos de processos que emitem gases poluentes na atmosfera. E no município de Imperatriz (MA) não é diferente: a maioria das casas utiliza tais combustíveis.
Moradora da cidade e sensível à causa ambiental, a aluna Lícia Rebeka Vale, de 17 anos, começou a se questionar sobre como poderia mudar essa situação. Então, mobilizou duas colegas de sala, Maria Alice Araújo e Anna Isabelle Santos, de 16 anos, e pediu a ajuda da educadora Nelma Honorato para encararem juntas o desafio de reduzir as emissões de poluentes.
Nascia, assim, o projeto Eco Pyro, premiado na 7º edição do Desafio Criativos da Escola. As estudantes do Centro de Ensino Dorgival Pinheiro de Souza construíram um forno sustentável movido a energia solar acessível à toda população e que degrada menos o meio ambiente em comparação ao gás de cozinha e à lenha.
Antes de tudo, pesquisar
Para entender melhor a temática, o grupo, primeiro, se jogou na pesquisa de campo. Licia, Maria Alice e Anna entrevistaram 97 moradores do bairro de Nova Imperatriz, com o objetivo de mapear o problema do uso da lenha e do gás de cozinha.
O resultado foi que 83% das pessoas não sabiam que o combustível dos fornos convencionais era prejudicial ao meio ambiente. Além disso, 76,25% não estavam cientes de seus impactos na própria saúde e na da população.
Apesar disso, um outro dado chamou ainda mais a atenção das adolescentes: 94% dos entrevistados afirmaram que, sim, estariam dispostos a usar um produto que degradasse menos o meio ambiente!
Confira abaixo o depoimento em vídeo enviado pelas jovens ao Desafio Criativos da Escola:
Partiu… mão na massa!
Com uma caixa de papelão, alguns materiais reciclados – como folhas de alumínio, pedaços de cartolinas e copos de isopor – e uma ajudinha da Física, as estudantes conseguiram produzir o primeiro protótipo do forno sustentável.
A caixa de papelão, que funcionou como a base do forno, foi coberta por uma tinta preta especial opaca e por um papel alumínio para que a luz do sol fosse absorvida e gerasse calor para esquentar os alimentos.
A estudante Lícia explica que a fonte de energia solar é mais limpa que as demais:
Hoje, nós recebemos mais raios solares do que utilizamos, os quais poderiam, justamente, serem aproveitados. Por isso, escolhemos um modelo de fogão que utiliza a energia solar como combustível para cozinhar alimentos.
Segundo as jovens, após algum tempo de exposição ao sol, a panela começa a esquentar, chegando a 120 graus Celsius. Na avaliação da equipe, o primeiro protótipo já era um sucesso, e, agora, era preciso desenvolver algo ainda mais interessante e completo.
Começava, então, a fase dois do Eco Pyro. O grupo desenvolveu um software capaz de elevar a temperatura do forno e adicionou painéis com células fotovoltaicas, tecnologia que captura a luz solar e a transforma em energia. Somado a isso, as alunas usaram ainda metais de condutividade térmica para fazer a estrutura do objeto. Tudo isso para que o cozimento dos alimentos fosse mais efetivo.
De acordo com Lícia, o eletrodoméstico sustentável tem grande potencial de ajudar a comunidade, principalmente, porque “ele é econômico. O orçamento de produção do modelo foi cerca de 40% do valor dos fornos convencionais, e ainda não agride o meio ambiente, não polui o ar”. Além disso, segundo a jovem, o equipamento ainda aumenta a segurança das casas: diminui a possibilidade de incêndios, visto que não utiliza gás, nem produz fogo.
Juntas para superar os obstáculos
Apesar da motivação, a professora orientadora da iniciativa, Nelma Honorato, conta que o grupo teve que superar dois grandes desafios. “O primeiro foi na hora de desenvolver um protótipo no software, com as dificuldades de mexer com a tecnologia. E o segundo foi na hora de buscar recursos para produzir”. Porém, apesar disso, ela reforça que as alunas lidaram com os problemas buscando juntas as soluções.
Como alternativa, entraram em contato com um professor e alguns estudantes de Física e Engenharia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) que aceitaram ajudar no desenvolvimento do software do segundo protótipo. Além disso, as estudantes conseguiram recursos e patrocínio ao conversar e mostrar o projeto para as indústrias da região.
E elas não vão parar aí.O grupo pretende ir além. A estudante Lícia quer que os fornos sustentáveis do projeto cheguem a cada casa no bairro onde mora. “Meu desejo é fabricá-los e distribuí-los, apresentando-os como uma solução para combater a poluição”.
A professora Nelma ainda acrescenta que seu desejo é que a iniciativa vá para frente e que o forno seja produzido mesmo com outros obstáculos que possam surgir no caminho. “É certo que iremos enfrentar outros problemas, mas acredito que vai dar certo”, defende com esperança.
Estar à frente do Eco Pyro, para as estudantes, é uma experiência que vai além do aprendizado intelectual. Realizar a iniciativa proporciona o desenvolvimento de habilidades socioemocionais a partir do contato com a comunidade e também da liberdade de criarem e aprimorarem suas próprias ideias.
É um trabalho que já está sendo recompensado. Investimos tempo e esforço, e vemos que isso pode realmente ajudar as pessoas de alguma forma
Redação: Nayra Teles
Edição: Gabriel Maia Salgado
Eu queria achar um jeito de ajudar o meio ambiente. Conversei com a minha equipe e descobrimos um objetivo em comum. Então, a gente começou a desenvolver esse projeto maravilhoso e trabalhamos duro para que ele pudesse chegar aonde chegou
conta Lícia sobre a iniciativa