Utilizando papel reciclado, estudantes de Lagoa Vermelha (RS) criam embalagem biodegradável para mudas de plantas.
Como uma guerrinha de papel molhado pode ajudar a melhorar o ensino dentro da sala de aula e a preservar o meio ambiente? Os estudantes do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Técnica Agrícola Desidério Finamor, de Lagoa Vermelha (RS), responderam essa pergunta ao criar uma embalagem biodegradável para mudas, misturando o papel descartado com a terra do jardim do colégio.
A partir da brincadeira, os alunos perceberam o quanto o papel se dissolvia e que poderia ter um uso mais interessante. Ao desenvolver uma alternativa sustentável para o transporte das mudas da horta escolar, o grupo colocou em prática o projeto “O uso do papel reciclado para a produção de embalagem de mudas” e foi um dos premiados na segunda edição do Desafio Criativos da Escola. (Clique aqui e veja como foi a premiação do Desafio Criativos da Escola 2016).
Ao contrário das embalagens comuns feitas de plástico, o produto criado pelos jovens se decompõe em até 25 dias e, além de proteger, nutrir e auxiliar o desenvolvimento da planta, pode se tornar fonte de geração de renda para pessoas da comunidade próxima à escola.
Transformando a horta da escola
O projeto dos estudantes, que impactou toda a turma do 3º ano, surgiu a partir de dois problemas: o grande volume de papéis desperdiçados e os resíduos de plástico preto gerado na horta do colégio.
Após realizarem pesquisas com apoio da professora de agroindústria e semiárido, Simone Castelan, surgiu a ideia de misturar o papel descartado a uma pequena quantidade de terra da região – com característica argilosa – para criar as embalagens. Segundo o aluno Mateus Camargo, o material foi o melhor ingrediente encontrado para a elaboração do recipiente de forma que pudesse se decompor em um tempo menor. “O papel favorece muito o desenvolvimento das sementes, porque elas conseguem absorver os nutrientes ao redor [de si mesmas] e o ‘copo’ dá suporte, proteção e auxílio para seu desenvolvimento”, explica Mateus.
Como resultado, as mudas que cresceram nas embalagens criadas pelos jovens demonstraram uma ótima evolução. “Dependendo do clima, em 25 dias ela [a embalagem] se degrada, enquanto o plástico preto leva mais de 100 anos”, destaca o estudante Nycholas Turela. E completa: “com a substituição, conseguimos outros elementos positivos como a melhora do aspecto da planta, seu desenvolvimento e seu enraizamento”.
Para chegar à versão adequada do produto, os jovens colocaram folhas de papel submersas em água até o papel começar a dissolver e, depois, as trituraram com um liquidificador. Em seguida, foi retirado todo o líquido por meio de uma peneira e adicionada uma pequena porção de terra, criando uma “massa” que, moldada, se transformou nos pequenos recipientes para mudas.
Segundo o grupo, todos os “copinhos” são feitos manualmente e podem durar até 45 dias fora da terra se forem preservados longe do sol. Para Mateus, “a embalagem desperta uma mente mais ecológica nas pessoas, tira o plástico de circulação e diminui os custos atribuídos a ele”.
Ei, cuide do planeta!
Para realizar o projeto com sucesso, no entanto, os estudantes tiveram que superar diferentes desafios. Segundo os alunos, a ideia inicial era criar as embalagens somente com papel, mas o material não suportava o substrato utilizado para germinação das sementes. Para solucionar o problema, o grupo teve a ideia de unir outros materiais à receita. “Misturando papel e terra, a gente viu que ficava perfeito”, conta Nycholas.
A partir de testes positivos com o produto, os estudantes desejam levar a criação para além da escola. “O copinho é uma receita e queremos vê-la na mão de todo o mundo”, defende Nycholas. Para Mateus, compartilhar o projeto é também enviar uma mensagem a todas as pessoas: “ei, cuide do planeta!”.
Para a professora Simone, a postura do grupo serve de inspiração para outros estudantes que pretendem transformar suas realidades. “O que mais me encantou foi ver na juventude de hoje a preocupação com o meio ambiente, os meninos não mediram esforços para o projeto chegar onde chegou”.
A iniciativa deixou os estudantes tão animados que, agora, sonham em disseminá-la para que ela se torne uma nova fonte de renda a pessoas da comunidade. Com a criação de baixo custo e de fácil aplicação, as mudas da escola agora são plantadas com o “copinho sustentável” dos estudantes.
Redação: Vanessa Ribeiro
Edição: Gabriel Maia Salgado