Jovens de comunidade remanescente de quilombo e ribeirinha, em Cachoeira (BA), produzem vídeos e resgatam identidade cultural da comunidade.
Dar voz à comunidade ribeirinha do quilombo Boqueirão, em São Francisco do Paraguaçu, distrito de Cachoeira (BA): esse foi o resultado do projeto “Educomciência: produzindo vídeos científicos para e com o público jovem”. A partir de atividades realizadas por projeto de extensão da Universidade Federal da Bahia (UFBA), os estudantes envolvidos na iniciativa foram finalistas do Desafio Criativos da Escola 2017.
Com a participação de crianças e adolescentes da região, o projeto contou com o apoio da Associação dos Remanescentes de Quilombo que cedeu o espaço para oficina de vídeo, os encontros do grupo, a festa de confraternização e a mostra final. Por meio de imagens captadas com celulares e tablets, os integrantes do grupo colocam em foco não só os problemas sociais da região, mas também a riqueza das tradições culturais da comunidade.
Empenho e superação
Apesar do reconhecimento na premiação do ano passado, as ações da iniciativas começaram ainda em 2013. No início, segundo a professora e educomunicadora Mariana Sebastião, a maior dificuldade para a realização do projeto era o alto índice de analfabetismo funcional: “mesmo estudantes do Ensino Médio não sabiam ler, nem escrever, nem falar corretamente. Como é necessário produzir um roteiro do filme, foi um grande desafio para a equipe ajudá-los nesta construção”.
A partir do trabalho realizado, os integrantes do projeto foram divididos em seis grupos, desenvolveram roteiros, 
decidiram o tipo de vídeo (filme ou animação), se usariam fantoches ou desenhos e quais seriam os cenários. Num segundo momento, luz, câmera, ação: partiram para a gravação, tarefa tão desafiadora quanto a edição de todo material.
Morador da comunidade, o jovem Antônio Sanches, 14 anos, fez parte da equipe que produziu o vídeo Caçadores de Aratu (espécie de caranguejo): “a gente foi no mangue pra ver o catado deles. Usamos bota, luva, [mas no fim] conseguimos só um quarto do que eles pegaram. O catado do Aratu é muito importante aqui na cidade, porque a gente se alimenta deles”.
Já o estudante Davi Cerqueira, 16 anos, do 3º ano Ensino Médio, participou da oficina de vídeo sobre uma escolinha de futebol. “A gravação foi bem difícil, porque demora muito, dá nervosismo. Mas [o importante é que] ficou massa!”, elogia. Ao final, as produções foram exibidas para a comunidade e houve debate sobre os assuntos abordados.
Educação e comunicação
Utilizando técnicas da área da educomunicação, o projeto incentivou o protagonismo dos alunos, proporcionando que eles escolhessem as temáticas dos vídeos, de acordo com o contexto sócio-econômico-cultural das comunidades onde estão inseridos. Dentre eles: igualdade de gênero, racismo, identidade quilombola, cultura popular, sustento econômico local, trabalho infantil e compartilhamento de recursos.
“A educomunicação é o campo que une as áreas da educação e comunicação com o objetivo de ampliar as possibilidades de expressão e propiciar às novas gerações o acesso à comunicação e à tecnologia, colocando-as a serviço do bem comum e da prática da cidadania. Nosso embasamento são as correntes teóricas do educomunicador Mário Kaplún e de Paulo Freire”, esclarece a Profª. Drª. Rejane Lira, da UFBA, responsável pelo projeto.
Para que fosse realizado, no entanto, foi necessário superar algumas dificuldades. Segundo Mariana Sebastião, “algumas cenas tiveram que ser repetidas várias vezes para que as falas, na linguagem local, saíssem compreensíveis. A solução encontrada foi legendar”. Com o passar dos meses, porém, houve uma melhora considerável na performance dos protagonistas. “Recentemente construímos um vídeo-livro com eles, que estavam 
muito mais à vontade em frente às câmeras e na construção dos textos”, complementa.
Como outras consequências positivas da ação, o projeto “Educomciência: produzindo vídeos científicos para e com o público jovem” apresentou alguns de seus vídeos no 8º Encontro de Jovens Cientistas na UFBA, em novembro de 2017. “Inclusive com um vídeo premiado com menção honrosa”, orgulha-se a professora Mariana. Além disso, os alunos produziram, ainda, conteúdos para duas edições do Jornal Salinha Verde e para a WebRádio Jovens Cientistas. (Clique aqui e confira o material).
Clique e veja também alguns vídeos produzidos pelos alunos:
Você conhece um projeto protagonizado por crianças e jovens que está transformando a escola e a comunidade?
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Redação: Mariana Della Barba
Edição: Gabriel Maia Salgado
Imagens: Divulgação
