Educadores de diferentes partes do Brasil refletem sobre os desafios com o uso das ferramentas digitais em suas escolas e cidades
Com o avanço do Coronavírus (Covid-19) no Brasil, educadores e educadoras viram suas rotinas junto aos estudantes ser transformada totalmente. As secretarias municipais e estaduais de educação suspenderam as aulas, como medida de precaução e para evitar a proliferação do vírus.
O contexto exigiu de muitos professores rearranjos e estratégias que não estavam antes previstos, como aulas online e organização de atividades para o tempo de pausa. Mas o país é muito grande e as realidades as mais diversas possíveis, já que o acesso à internet (e, principalmente, a de banda larga), ainda é um grande desafio em todo o território nacional.
Buscando traçar um panorama pelo Brasil, o Criativos da Escola conversou com professores e professoras de diferentes regiões, que já foram premiadas nas últimas edições do Desafio Criativos da Escola. Ainda na última semana, por exemplo, professores da rede estadual do Rio de Janeiro tentaram se organizar às pressas para pensar caminhos para continuar as aulas, com a possibilidade da realização de atividades por meio do ambiente digital.
Os desafios do acesso à internet
Para a educadora do estado, Inês Petereit, essa é uma saída ainda muito questionada entre os docentes. “Para além da exclusão digital, pesam também as disfunções familiares e o impacto sobre a criação de uma rotina de estudo”, conta. Segundo a pesquisa TIC Domicílios, de agosto de 2019, 52% da população brasileira das classes D e E não têm acesso à internet em casa.
Para a colega de profissão que atua na capital carioca, Pâmela Souza, ainda tem sido um desafio utilizar as ferramentas digitais. “Estou completamente perdida e tentando aprender a usar ferramentas online para as aulas”, conta a educadora, que diz que a prefeitura irá oferecer um curso nas próximas semanas. “A ideia é tentar amenizar o prejuízo entre as crianças em meio a um cenário apocalíptico. É uma ilusão pensar que no cenário de desigualdade que vivemos a maioria dos alunos consegue acessar as informações online”, complementa.
A alguns quilômetros dali, mas ainda no sudeste, em Itabira, Minas Gerais, a professora Kele Frossard relata que entra em quarentena no próximo 1º de abril e concorda: “apesar de parecer que a internet seja universal, sabemos que o número de alunos sem acesso, com acesso muito limitado ou sem acesso a um aparelho eletrônico que possibilite realizar as atividades é grande. E isso fez com que não optássemos por isso, para não deixar um grande número de alunos excluídos”.
Kele conta, ainda, que mesmo os alunos que possuem os equipamentos, muitas vezes o dividem com outras pessoas da residência ou também têm dificuldade de visualização, por conta de dificuldades ou deficiências ligadas à visão.
Subindo para Rio do Antônio, na Bahia, a educadora Eloísa Martins compartilha que, agora, é um momento permeado pelo medo de alunos e de professores. Na região, algumas atividades estão sendo realizadas e enviadas pelos alunos via e-mail. “O melhor é ficar em casa nesse momento. Sabemos que é complicado, pois envolve um sentimento de medo. Espero que passe logo”, diz Eloísa.
Ainda na região nordeste, em Santana do Cariri, Ceará, alguns estudantes da Escola Estadual Adrião do Vale Nuvens estão realizando atividades e demais orientações por meio dos grupos de WhatsApp. “A orientação é que os alunos que não tenham acesso sejam auxiliados por seus colegas mais próximos, principalmente aqueles que residem na zona rural. Até o momento, não tivemos informações com problemas relativos ao acesso”, relata o professor Moaci Junior.
Na ponta sul do país, nos municípios de Sapiranga e Nova Hartz, no Rio Grande do Sul, a professora Denize Groff conta que as dificuldades de acesso à internet se repetem na região. “Estamos realizando atividades impressas para realizar à distância. Há muitas famílias sem acesso à internet em Nova Hartz”.
Já em Sapiranga, a educadora pediu aos estudantes que realizem leituras e pesquisas sobre seus projetos científicos. As escolas também irão enviar algumas atividades por meio do WhatsApp, com grupos divididos por turmas.
Indo para a região norte, em Barreirinhas, no Amazonas, o professor Jonailson Xisto conta que as aulas também foram pausadas em pelo menos quinze dias, mas que, por enquanto, a cidade se mantém tranquila. “Aqui vivemos em uma cidade pequena em que tudo está parado até que esse problema se resolva. Todos estão em casa se prevenindo”.
Os direitos das crianças e adolescentes
Em um período permeado de incertezas, muitas organizações estão se unindo para oferecer, ao menos, alguns caminhos para a crise que se apresenta. Exemplo disso é a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que lançou guias de proteção e educação de crianças e adolescentes diante da pandemia. Os guias falam sobre os mais diversos temas, como os riscos do trabalho infantil, alimentação escolar , violência e abuso sexual, entre outros.
Educação em Quarentena
Em esforço conjunto para conter o avanço do novo Coronavírus (Covid-19) pelo Brasil, tanto redes estaduais quanto municipais têm adotado medidas de suspensão de aulas, trazendo mudanças para milhares de estudantes e suas famílias. Para monitorar a situação, o Centro de Referências em Educação Integral lançou o mapa interativo “Educação em Quarentena”, onde você pode acessar a situação das redes estaduais e municipais pelo país.
Aulas online
O site Porvir listou uma série de cursos online que podem ajudar educadores a pensar alternativas nesse período. São aulas sobre os mais diversos assuntos, passando por aprendizagem ativa, ensino e gestão da aprendizagem e cidadania digital.
Ajuda para uso da tecnologia
Com os desafios diante do uso de ferramentas digitais, as professoras e professores lançaram o SOS 30 Minutos, onde disponibilizam, por meio da plataforma Calendly, mentorias para ajudar os colegas com diversos horários disponíveis.
Redação: Jéssica Moreira
Edição: Gabriel Maia Salgado
Imagens: USP/Creative Commons