O projeto “Consciência, Cor e Arte” ajudou estudantes de Pernambuco a se orgulhar de sua cor, identidade e histórias
No dia 20 de novembro é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra, data marcada pela morte de Zumbi dos Palmares, considerado símbolo da resistência contra a escravidão. Hoje, mais de 300 anos após o seu falecimento, a data ressalta a importância de refletir sobre a posição dos negros na sociedade e a constante luta contra a discriminação racial e desigualdades sociais. Diante da importância da data, o programa Criativos da Escola apresenta sete projetos transformadores de estudantes do ensino fundamental ou médio que promoveram a valorização da cultura negra.
Um desses projetos foi protagonizado por um grupo de alunos estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental ao 2º ano do Ensino Médio da Escola Municipal Milton Pessoa, também integrantes das Associações Quilombolas do Livramento e Águas Claras, de Triunfo (PE). Ao perceberem práticas racistas, a negação da identidade e o desconhecimento das origens negras, os estudantes criou o projeto “Consciência, Cor e Arte”, um dos premiados na 5ª Edição do Desafio Criativos da Escola, de 2019, iniciativa do Instituto Alana.
O projeto teve início quando os professores propuseram aos estudantes que refletissem sobre as práticas discriminatórias cometidas contra as comunidades quilombolas próximas à escola. Logo, constataram práticas que reproduziam o racismo em suas próprias relações interpessoais, como apelidar colegas de “quilombolas” – de forma pejorativa – ou por meio da contação de piadas com elementos preconceituosos.
Para entender como esses hábitos impactavam na vida dos colegas quilombolas, o grupo realizou um questionário com os alunos dessa comunidade. Os resultados mostraram que 80% se utilizava de eufemismos para caracterizar sua cor; 52% afirmava o desejo de alisar o cabelo e 62% desconhecia a história da sua comunidade.
Depois de notarem as consequências na vida dos colegas, os alunos organizaram um cronograma de atividades para valorizar a cultura negra, e produziram dois curtas-metragens – Vozes do Livramento e Na Batida das Águas Claras – que contam com depoimentos de idosos quilombolas.
Para os autores do projeto, o principal legado dessa experiência foi o fortalecimento e empoderamento dos estudantes excluídos, que passaram a se orgulhar de sua cor e identidade, além de se tornarem multiplicadores da história e da cultura negra.
Além dessa iniciativa, o programa lista mais seis casos protagonizados por crianças e jovens que abordam a valorização da cultura afrodescendente e que também foram destaque nas premiações do Desafio Criativos da Escola nos últimos anos. Confira!
Filhos do deserto: um resgate histórico
Alunas do município de Rio do Antônio (BA) perceberam que as casas da comunidade (onde morava a população negra que foi escravizada) estavam em ruínas. Elas decidiram conversar com a vizinhança sobre a manutenção da memória desse período, ajudando a quebrar os preconceitos ainda existentes. Com as histórias recolhidas nessas conversas e em demais pesquisas, descobriram mitos e lendas que foram publicadas por elas em um e-book.
Um grupo de estudantes de Salvador (BA) realizam uma gincana, batizada de “Gincana do Orgulho Negro”, com o intuito de discutir a questão racial e combater o preconceito na comunidade escolar. Os alunos fizeram a divulgação nas salas, decoração da escola, formação das equipes e criação das provas, que envolviam atividades que pudessem despertar a empatia e estimular a reflexão. A Gincana foi um evento social, recreativo e cultural que contou com a participação de muitas famílias e moradores do entorno.
Um grupo de meninas negras do Centro Educacional Antônio Honorato, em Casa Nova (BA), estavam cansadas de ver sua cultura e sua aparência sendo desvalorizadas todos os dias. Isso por que a maior parte da população baiana são de mulheres declaradas pretas ou pardas. Com ações como desfiles, palestras e estudos sobre a história e cultura afro-brasileira, o projeto “Empoderamento da Mulher Negra” transformou a escola em um espaço de reconhecimento da mulher e da cultura afro-brasileira.
Grupo de Dança Quilombo dos Anjos
Uma das principais preocupações dos moradores de Candiba (BA) é criar opções para a juventude, que vive longos períodos ociosos, exposta, por exemplo, ao consumo de álcool e drogas. Assim surgiu o Grupo de Dança Quilombo dos Anjos, que logo atraiu participantes dentro e fora da escola. As apresentações contam com danças tradicionais quilombolas e africanas, mas também com músicas populares contemporâneas que têm suas raízes nos ritmos afro-brasileiros, como forró, axé e funk.
Estudantes das Escolas Estaduais Deputado Joaquim de Figueiredo Correia e Benigna Etelvina, em Iracema (CE), se juntaram para criar um conjunto de materiais de estudo e gincanas para valorizar as culturas negra. Entre esses materiais está um caderno didático, formado por planos de aula que despertam, principalmente, a conscientização sobre a importância do combate ao racismo.
Ciclo de Estudos sobre História e Culturas Afro-Brasileiras
Estudantes de Santa Maria (RS) começaram a se questionar por que os monumentos de Santa Maria enalteciam sempre a figura do homem branco. Assim surgiu o projeto, que busca reivindicar a importância do povo negro e cultivar respeito a sua ancestralidade na região. Organizaram pesquisas, visitas a monumentos históricos e ruas da cidade e conversaram com os moradores negros de Santa Maria; para depois dividir o que aprenderam em palestras realizadas no espaço de convivência da escola, em eventos abertos à comunidade.
Redação: Andréa Xavier
Edição: Jéssica Moreira
Imagens: Divulgação