Alunos de Porteirinha (MG) criam iniciativa de mobilização e conscientização comunitária para revitalizar rio que cruza a cidade.
Foi observando o trajeto de casa até o colégio que a estudante Maria Isabela Araújo, do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Mestre Tomaz Valeriano de Araújo, em Porteirinha (MG), percebeu como o clima semiárido do norte de Minas Gerais prejudicava a vegetação local e deixava o Rio das Lages em situação degradante. Parte do problema, segundo sua análise, vinha da falta de conexão da comunidade com o rio que corta o município. “Havia grandes dificuldades, como a ausência da valorização do rio, questões relacionadas ao abastecimento e perda das matas ciliares”, conta a estudante.
Como diretora de meio-ambiente do grêmio estudantil, Maria Isabela sugeriu aos colegas e professores que pensassem em maneiras de conectar, novamente, a comunidade ao ecossistema que a cerca. Foi dessa inquietação que surgiu o projeto “O rio que queremos”, finalista da última edição do Desafio Criativos da Escola.
O projeto envolve ações variadas, que incluem a conscientização dos moradores da região, com visitas a seus domicílios para falar sobre a importância do rio; bem como o plantio de mudas nativas a partir de parcerias com ONGs locais e com o Instituto Estadual de Florestas (IEF). Além disso, os alunos realizaram visitas ao Rio das Lajes para mapear seus principais problemas, promoveram discussões com a comunidade escolar e a apresentação do projeto para outros colégios. “Procuramos soluções, principalmente, a partir de rodas de conversas com os ribeirinhos. Para estas ocasiões, convidamos agentes como o gerente do Parque Estadual, o diretor de Meio Ambiente da Prefeitura e os produtores de associações”, relata Maria Isabela.
Além disso, a relação da cidade com o rio tornou-se tema de aulas dentro do colégio. “Paralelamente ao projeto, o rio virou assunto em aulas de geografia e motivo de pesquisas de história e sociologia”, comenta o professor de biologia e vice-diretor da escola, Higo Aguiar.
O rio é de todos
Segundo o professor Higo, uma das principais conquistas da busca pelo “rio que queremos” foi mostrar que algo que já estava naturalizado pela população – a falta de preservação do rio – era, na verdade, um problema. “Algo inédito foi que os jovens conseguiram demonstrar para a comunidade que a situação que existia não era normal”, diz.
O estudante Fernando de Almeida, do 3º ano do Ensino Médio, concorda: “temos que voltar os olhares para o meio que a gente vive. Às vezes, nos preocupamos demais com outros lugares e esquecemos de olhar para perto e pensar que, se vai fazer bem para a comunidade, vai fazer bem para mim também”.
No início, as ações do projeto estiveram focadas em uma parte técnica, para descobrir quais os principais problemas do rio: professores e alunos foram a campo para fazer uma avaliação ambiental, catalogar espécies nativas, determinar coordenadas geográficas e verificar quais os principais pontos de poluição.
A partir de então, os estudantes convocaram uma reunião com atores estratégicos do município para relatar os pontos de melhora necessários. “Eles convidaram representantes da associação comunitária, de ONGs, do Instituto Estadual de Florestas e da Polícia Militar. Tivemos a oportunidade de trazer a comunidade para dentro da escola para discutir um problema que é da região”, lembra Higo. Segundo ele, os participantes saíram do encontro com uma agenda das ações que competiam a cada parte envolvida: o IEF disponibilizou mudas nativas e cercamento, as associações locais de moradores disponibilizaram espaços para reuniões com moradores, entre outros.
Plantando uma ideia por vez
Como parte da iniciativa, alunos e professores da escola passaram de casa em casa para conscientizar os moradores da área – muitos deles possuem terrenos que chegam às margens do rio. “Fomos muito bem recebidos nas casas, nos chamavam para entrar, ofereciam café enquanto fazíamos o trabalho de conscientização”, lembra o professor Higo.
Nas visitas, feitas com a intenção de abrir um diálogo franco entre os vizinhos, também eram elaboradas fichas cadastrais daqueles que tinham interesse de fazer o plantio de mudas ou de disseminar a ideia de preservar o rio.
Apesar da colaboração de diversos agentes da comunidade, algumas etapas do projeto ainda enfrentam dificuldades. O plantio das mudas, por exemplo, está atrasado devido à temporada de seca e deve ser retomado em outubro, quando as mudas têm mais chances de sobreviverem na região. Em 2018, o projeto segue em andamento e os alunos planejam, ainda, uma gincana ecológica para ampliar os conhecimentos dos colegas de escola sobre o Rio das Lages.
Você conhece um projeto protagonizado por crianças e jovens que está transformando a escola e a comunidade?
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Redação: Júlia Matravolgyi
Edição: Gabriel Maia Salgado
Imagens: Divulgação