Estudantes criam Cineclube para incentivar produções audiovisuais e debates em escola de São Vicente de Férrer (PE)
Quais os materiais necessários para produzir um filme transformador? Com a câmera do próprio celular e muita criatividade, os estudantes do Educandário Tércio Ferreira, de São Vicente de Férrer (PE), estão aproximando os seus colegas do cinema a partir da criação de mini documentários.
A iniciativa dos alunos deu origem ao projeto “Mostra Audiovisual – Cine Clube”, que procura disseminar a importância do cinema nacional e criar debates no ambiente escolar sobre temas relevantes a partir da perspectiva dos jovens. “O projeto é importante porque ele também resgata a memória cultural da nossa cidade”, defende a aluna Ana Luísa Borges.
Realizado pela primeira vez em maio de 2016 pelos alunos do 8º e 9º ano do ensino fundamental, o primeiro evento fez sucesso e acabou se tornando uma prática anual. Palestras, exibição de filmes nacionais, música e concurso de documentários estão na programação da atividade, que ocorre no próprio colégio.
Filmes e transformação
A ideia de criar o cineclube surgiu a partir de uma visita à biblioteca, que fica no centro histórico da cidade, onde funcionava o único cinema do município, o Cine – Theatro São Vicente. Segundo o orientador do projeto e professor de história Carlos Cavalcanti, o local está desativado desde a década de 1970. “Ficamos curiosos para saber as causas do abandono daquela estrutura tão grande. Quando chegamos na sala de aula, começamos a questionar por que não temos mais cinema aqui”, relata a estudante Ana Luísa Oliveira.
“Para ter acesso à filmes precisamos ir para a capital que fica a duas, três horas daqui. Muitos alunos nunca estiveram em um cinema de verdade”, conta o professor Carlos. Para entender o impacto cultural que o extinto Cine – Theatro São Vicente provocou sobre os moradores da cidade, como espaço de entretenimento e de informação, durante o período em que estava aberto, os alunos decidiram fazer entrevistas. Durante a pesquisa, Ana Luísa descobriu também parte da história de sua própria família. “A minha mãe conheceu o meu pai no cinema, como não tinha tanta tecnologia na época, o lugar era um ponto de encontro daqui da cidade”, contou.
Inspirados pelas entrevistas e coleta de fotos sobre a história local, os estudantes decidiram criar os seus próprios filmes trazendo temáticas, como bullying, racismo e trabalho infantil e aproximando os jovens de diferentes turmas da escola da prática do cinema. “Para montar as produções, a gente se organizou em várias equipes, de roteiro, de atuação, de filmagem e fomos trocando de função conforme as necessidades”, explica o aluno Pablo Cavalcanti. E completa: “não temos equipamentos apropriados para filmagem, o maior impacto foi perceber que com pouco recurso conseguimos alcançar nossos objetivos”.
Após a iniciativa dos estudantes, a escola adotou a prática de exibir filmes para as turmas do ensino fundamental. “Os alunos se apoiaram na lei 13.006 que torna a exibição de filmes de produção nacional obrigatória nas escolas de ensino básico por, no mínimo, duas horas mensais”, contou o professor Carlos. Segundo o educador, as tarefas do cineclube são divididas entre diversas turmas que, organizam o lugar, regulam o som, fazem a divulgação e promovem os debates.
Próximos passos
“O maior desafio é criar o roteiro, meu grupo falou sobre racismo, tivemos que pesquisar muito e realmente nos aprofundar no tema”, conta Ana Luisa. O desafio foi vivenciado por elas e seus colegas durante o processo de elaboração do filme para o primeiro cineclube da escola.
Segundo o professor Carlos, os grupos já estão empenhados na elaboração da mostra audiovisual deste ano, prevista para setembro. “O tema desta vez será corrupção e os alunos vão continuar produzindo os filmes dentro das possibilidades de mídia que tiverem e abordarão os assuntos dentro da ótica deles”, explicou.
Além do concurso de mini documentários produzidos pelos alunos, também está previsto na programação a exibição de filmes nacionais, debates para aprofundar os temas e atrações musicais. “No ano passado, as pessoas gostaram muito do evento, para este ano, a expectativa é ainda maior”, conclui Pablo.
Confira o vídeo produzido pelos estudantes sobre o trabalho infantil:
Redação: Vanessa Ribeiro
Edição: Laura Leal
Imagens: Divulgação
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