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  • meio ambiente e sustentabilidade

Mulungu - CE

Ano de Inscrição: 2018

ODS

14/02/2019 - Por Criativos

Projeto “Backup Intertemporal entre Gerações” criado por estudantes valoriza tradições culturais da pequena Mulungu (CE).

A ficção adora narrativas de viagens no tempo que criam realidades utópicas a partir da alteração de eventos passados. Sete jovens recém-egressos da Escola de Ensino Médio Professor Milton Façanha Abreu, do pequeno município de Mulungu, no interior do Ceará, no entanto, não precisaram inventar uma máquina futurista para voltar ao passado e criar novas dinâmicas sociais em sua comunidade.

Com o Backup Intertemporal entre Gerações, projeto de resgate da cultura e memória por meio da interação ativa entre idosos e crianças, eles foram além: aproximaram gerações, reconstruíram histórias e tradições populares e pautaram o poder público local sobre a garantias de direitos dessas populações. (Clique aqui e veja vídeo dos estudantes sobre o projeto)

“Queríamos trabalhar com crianças, mas quando levantamos dados estatísticos constatamos que parcela significativa dos idosos sofria com a falta de interação social em decorrência do abandono familiar e do esquecimento da sociedade, o que vinha comprometendo a saúde física e mental deles”, conta Vívian Rodrigues, estudante que na época cursava o 3ª ano do ensino médio.

Idosos e estudantes aprendem juntos durante passeio na Rota do Café

Idosos e estudantes aprendem juntos durante passeio na Rota do Café

Os outros estudantes engajados na iniciativa são Carlos Vinícius Magalhães, Antônia Arcelino, Marilha Borges, Gabriel Freire, Flora Rocha e Karine Oliveira, sob a orientação da professora de história Déborah Freire.

A escolha do nome em inglês para cópia de segurança (backup) diz muito sobre o objetivo dos adolescentes, que também mapearam a demanda dos mulunguenses em conhecer mais sobre o passado da cidade , fundada em  1895.

A falta de documentos e arquivos intrigava os cerca de 13 mil moradores a respeito do surgimento da cidade, dos processos de construção e desenvolvimento, além das mudanças que se deram ao longo do tempo.

O que deveria ser apenas uma atividade do Núcleo de Trabalho, Pesquisas e Práticas Sociais (NTPPS) –  matéria interdisciplinar que percorre os três anos de ensino médio na escola estadual –, iniciada em 2017, ganhou força e se consolidou como uma das principais ações sociais de Mulungu.

O grupo estima que ao menos 30 idosos e 45 crianças participaram dos encontros, entrevistas e oficinas no último biênio. “Muitos idosos que sofriam de depressão melhoraram essa condição após participarem do Backup, pois um dos objetivos era reviver a história de Mulungu e restaurar a relação entre gerações, mantendo os mais jovens cientes de nosso passado e dos costumes antigos”, conta o estudante Gabriel Freire.

Idosos e estudantes trocam saberes durante Rota do Café

Idosos e estudantes trocam saberes durante Rota do Café

Como metodologia, os alunos usaram princípios das dinâmicas biocêntricas – abordagem pedagógica criada pelo pensador chileno Rolando Toro Araneda (1924-2010) –, que consiste na colaboração mútua e na troca de conhecimentos e vínculos afetivos, de modo a valorizar a vida em comunidade.

Na prática, aconteceram oficinas de contação de histórias, encontros culinários, brincadeiras, passeios pela cidade, sempre apreciando a troca entre as partes em pé de igualdade.

Na oficina musical, por exemplo, os mais velhos resgatavam cantigas antigas e eram acompanhados pelas crianças ao som de flautas e violão. Histórias tradicionais como das parteiras de Mulungu ou das rezadeiras que eliminavam quebranto também voltaram à tona.

Um dos momentos marcantes foi a visita a pontos turísticos da Rota do Café, a qual Mulungu faz parte. Muitos senhores e senhoras reviveram suas experiências de quando trabalhavam na lavoura ou cozinhavam comidas típicas e compartilharam com os jovens. A valorização da tradição oral é a grande marca do Backup Intertemporal entre Gerações.

“Aprendemos e valorizamos a importância de se ouvir nesses encontros, de se deixar elevar pelos conhecimentos compartilhados, criando empatia e reconhecendo a importância do outro”, ressalta a jovem Vivian, que almeja cursar medicina.

Nessa jornada, um dos maiores desafios foi a primeira aproximação com o público idoso. Para realizá-la, contaram com o apoio da Secretaria de Educação e Cultura, do Conselho Tutelar, do Conselho do Idoso e do CRAS, que ofereceram psicólogos para ajudar a criar estratégias formuladas na tríade: sentir, agir e aprender.

O envolvimento com as crianças também esteve entre as preocupações no aprimoramento do projeto.

“As crianças estão imersas nos meios tecnológicos e às vezes distantes do toque humano. Nas atividades, a gente tentou difundir ideias de solidariedade e senso de pertencimento à comunidade”, diz Vívian.

Resultados e reconhecimento

O projeto obteve reconhecimento público ao conquistar o 1° lugar na Feira de Ciências, na área de humanidades, da Escola Milton Façanha e também o 1° lugar geral na Feira Regional de Ciências e Cultura do Maciço de Baturité (CE), alcançando pontuação máxima entre os jurados.

Jovens apresentam o projeto na escola

Jovens apresentam o projeto na escola

E mais importante: os jovens conseguiram intervir nos processos decisórios de Mulungu, pautando o debate público dos conselhos municipais, sobretudo no que se refere aos diretos à saúde que a população idosa não se sentia contemplada.

As reivindicações apontadas por meio do Backup, então, passaram a ter encaminhamentos, o que não ocorria antes quando os munícipes demandavam individualmente.   

Apesar da conclusão do ensino médio, os estudantes já deixaram como legado o Museu Móvel, que reúne objetos doados pela população; e estão em vias de concluir o livro Reunindo Histórias, com memórias recolhidas pelo povo de Mulungu nesses últimos dois anos.

Contudo, não é o fim do Backup Intertemporal entre Gerações. Os jovens aguardam o início do ano letivo para encontrar novos estudantes do ensino médio para passar o bastão, “que já é um benefício eternizado dentro do município”, resume a professora Déborah.

Redação: Enio Lourenço

Edição: Juliana Gonçalves

Imagens: Divulgação

 

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