Criativos da Escola | Estudantes cearenses dão aulas de Libras e tornam escola mais inclusiva
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Estudantes cearenses dão aulas de Libras e tornam escola mais inclusiva

Temas

  • ambiente escolar
  • cidadania e direitos humanos
  • educação
  • inclusão
  • mobilização comunitária
foto de um homem branco dando aula de Libras para muitos alunos

Pacatuba - CE

Ano de Inscrição: 2021

status Premiado

ODS

23/06/2022 - Por Nayra Teles da Silva

Em Pacatuba (CE), alunos assumem papel de professores de Libras para tornar a escola um espaço acessível para pessoas com deficiência auditiva.

Sabe quando você tenta se comunicar com alguém que não fala no seu idioma? É difícil, não é? Esse é o sentimento de milhares de pessoas surdas no Brasil. A Lei nº. 10.436/2002 que reconheceu a Libras (Língua Brasileira de Sinais) como um idioma oficial do país completou 20 anos de vigência esse ano. No artigo 1o do decreto, é dito que “é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados.” 

Apesar disso, boa parte da população ouvinte do país não aprendeu ou teve algum contato mais aprofundado com a língua. Na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) o ensino de Libras não consta como uma matéria obrigatória, mesmo que a necessidade de ampliar esse conhecimento seja de grande importância para inclusão plena de cerca de 9,7 milhões de brasileiros que têm alguma deficiência auditiva. Os dados são de um estudo feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Como a Libras não é ensinada a todos, a comunidade surda tem que passar diariamente por desafios na hora de se comunicar com outras pessoas. E foi depois de presenciar um surdo ser expulso de uma loja, por ter sido mal interpretado e discriminado, que o estudante Breno Silva Bruno decidiu fazer algo para diminuir essas dificuldades.

A educação foi o caminho que ele, Kailany Araújo Batista e outros quatro colegas decidiram seguir para agir no problema. Juntos, os estudantes realizam aulas de Libras na escola EEEP Professora Luiza de Teodoro Vieira, onde são alunos. Kailany conta que o projeto Oficina de Libras “foi criado para mais pessoas terem uma noção maior de como se comunicar e incluir a comunidade surda” A iniciativa foi uma das 50 premiadas na última edição do Desafio Criativos da Escola

Arte com fundo rosa e o print screen em tons de cinza de uma conversa de zoom com 6 adolescentes - 3 meninos e 3 meninas. Todos sorriem para a foto
Integrantes do projeto Oficina de Libras durante uma reunião online
Começos na Pandemia

Na época em que a iniciativa foi implantada, não havia alunos surdos na escola. Por isso,  a fim de entender as experiências das pessoas com deficiência auditiva, os estudantes tiveram conversas com surdos e instituições como a Associação de Pessoas Surdas de Pacatuba e a de Maracanaú, que tinham contato direto com a comunidade na cidade. Depois  de ouvirem os relatos, a vontade de atuar a partir dos conhecimentos que já tinham só aumentou. 

Com as novas eleições para o Grêmio, os alunos viram uma oportunidade de mostrar a ideia do projeto para comunidade escolar e atuar mais ativamente dentro da escola. Então, montaram uma chapa e como umas das propostas o grupo apresentou o curso de Libras, que aconteceria de forma remota devido a limitações impostas pela pandemia. 

Assim que ganharam as eleições, o projeto foi posto em prática. As aulas eram selecionadas por Breno Silva, de 17 anos e  Kailany Araújo, de 16 anos, porque ambos já tinham experiência com a Libras. Kailany, por exemplo, já vinha de uma escola em que a temática de inclusão de surdos era muito trabalhada. “No Fundamental, eu tinha aulas de Libras incluídas no currículo. Eles sempre levavam alguém da comunidade surda para dialogar com a gente quando tinha alguma data especial” conta a jovem.

Os jovens tiveram que encarar a realidade de ensinar durante a pandemia na pele. Nem todos os integrantes e alunos tinham equipamento adequado para participar das oficinas de forma remota. Mesmo assim, o grupo continuou com as aulas que eram divididas em duas turmas, com 12 alunos cada, até o fim do ano. 

O que move os estudantes a darem continuidade à iniciativa é a compreensão de que se todo mundo se comunica com qualidade, a escola se torna uma lugar para todos e todas.

Precisamos dessa inclusão, aprender o básico já é muito. Se eu chego em um local que tem uma pessoa surda e eu consigo me comunicar com ela, isso é muito! Creio que o sentimento de um surdo quando alguém chega nele conseguindo se comunicar, é bom.

exclama Kailany.

A chegada de um novo integrante

Com as voltas às aulas presenciais e seguindo todos os protocolos de prevenção contra   a covid-19, os estudantes começaram uma nova fase em seu projeto. Agora, as aulas acontecem uma vez por semana no laboratório da escola, no horário do almoço. E também com um novo professor.

O aluno João Pedro Ferreira, de 15 anos,  que é surdo,  entrou na escola no começo desse ano e junto com seu intérprete Daldemiro Madeiro, foi recebido com um convite para participar da Oficina de Libras. Com a entrada de João, a organização das oficinas foi alterada para que ele desse aula. “Atualmente, a equipe toda fica na parte de organização e planejamento. Como temos o João, demos prioridade para que ele ensinasse, já que ele possui domínio da língua” conta Breno. O restante dos integrantes se divide no cuidado com o laboratório no dia a dia, onde ocorrem as oficinas, e dá suporte quando há dúvidas sobre o conteúdo e atividades. 

Hoje, o projeto atende cerca de 31 alunos que aprendem muito mais que Libras. Breno conta com alegria sobre a experiência de atuar junto com o João.

Está sendo muito enriquecedora, pois não só os alunos que participam da oficina aprendem, os instrutores também! Dentro desse período que o João se juntou conosco para ensinar na oficina, aprendi algumas gírias e variações de alguns sinais daqui. Coisas como essa só se aprende tendo contato com a cultura surda.

disse o jovem

As aulas são planejadas em grupo e também levam em consideração outros assuntos importantes para a inclusão efetiva da comunidade surda. Por isso, além das matérias de idiomas, os alunos aprendem também sobre formas de como abordar um surdo, termos que são capacitistas e não devem ser usados e outras temáticas. Esses temas também são abordados em palestras oferecidas para toda comunidade escolar.

Libras é para todo mundo!

O aprendizado de Libras vai ficar marcado na formação de estudantes que irão colaborar para que mais espaços sejam, de fato, inclusivos.  “Em um contexto geral, de forma positiva, nossa escola é profissional e possui 3 cursos (informática, logística e enfermagem) e todos passam por período de estágio obrigatório. A maioria é alocada em algum campo de estágio que tem contato direto com pessoas, e havendo o aparecimento de algum surdo, o conhecimento básico de Libras vai ser muito importante, e claro, será um diferencial no currículo” explica Breno. 

Mas, não só por meio dos jovens do futuro que se garante acessibilidade, é preciso atuar  no sistema educacional do presente também. Por isso, o grupo pretende entrar em contato com a Secretaria de Educação da cidade para tentar articular a inclusão de Libras como uma matéria obrigatória nas escolas. Além de criar turmas com níveis avançados do ensino de Libras, já que ainda ensinam apenas o nível básico.

Os planos são expandir. Atualmente não temos tantos alunos quanto queríamos, temos só uma turma. Então, gostaríamos de levar esse projeto para frente. Quem sabe fazer uma parceria com outras escolas que estejam interessadas

Conta Kailany sobre o futuro do projeto

Com a chegada do fim do ano letivo e a saída da maioria dos integrantes da escola, a vontade é  manter a Oficina de Libras ativa pelas mãos de outros alunos e alunas e, assim, continuar agindo por uma educação para todo mundo!

Redação: Nayra Teles
Edição: Helisa Ignácio

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