Preocupado com acúmulo de lixo em Freguesia do Andirá, grupo coloca a mão na massa e desenvolve ações para educar população local em meio à pandemia.
Já parou pra pensar na quantidade de lixo que a gente produz? Aqui no Brasil, são milhares de toneladas todos os dias. O que não é recolhido ou reciclado vai parar no lugar errado – rios, oceanos, ruas – o que causa diversos problemas. Se a gente quer garantir algum futuro para o meio ambiente e para a humanidade, precisamos mudar essa situação.
“As pessoas não têm consciência de como reutilizar. Então, vão jogando o lixo sem a menor preocupação. Fico pensando em como esse problema pode nos afetar daqui pra frente”, diz a estudante Helem Silva, de 17 anos.
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Com o objetivo de transformar essa realidade, estudantes da Escola Estadual Antônio Belchior Cabral, no município de Barreirinha (AM), criaram o Reutilizar para Conservar, um dos projetos premiados no Desafio Criativos da Escola 2020.
Proteger para poder crescer
“O lixo, aqui na comunidade, tem aumentado cada vez mais, e estamos em um distrito, um lugar pequeno. A gente vê que as cidades não têm mais controle do lixo que produzem. É por isso que precisamos agir agora, para que Freguesia não se torne uma cidade toda suja quando crescer”, conta Helem.
Freguesia do Andirá é um distrito da cidade amazonense de Barreirinha, que fica a 330km da capital, Manaus. Cercada pela floresta e pelo rio Andirá, a região tem águas escuras e uma praia de areia branquinha. A comunidade de cerca 5 mil habitantes tem percebido um crescimento populacional nos últimos tempos.
“Não é só a população que está crescendo muito, o lixo está aumentando também”, comenta a estudante Yasmim Pimentel Gama, de 18 anos. Despertados por esta preocupação, os estudantes resolveram colocar a mão na massa e criaram um projeto para dar um novo rumo para a coleta e reciclagem dos resíduos na região.
Para tudo, existe uma primeira vez
O grupo ficou animado com a ideia de traçar um plano para resolver o acúmulo de lixo, mas se depararam com um desafio: era a primeira vez que organizavam um projeto assim, que vai além das disciplinas e obrigações da escola.
O grupo contou com o apoio dos educadores Alcineia Seixas e Jonailson Xisto, que se surpreenderam com tamanha empolgação: “Fiquei fascinado! Eles trouxeram várias ideias boas, ideias louquinhas. As escolas daqui geralmente têm um ensino muito tradicional, só quadro e livro. Eles desenvolveram tudo muito rápido, principalmente porque nunca tinham participado de um projeto antes”, lembra Jonailson.
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Helem fala com carinho deste início: “Sou aluna da escola desde criança, e nunca fizemos um projeto como esse. É uma coisa diferente, que me deixou tão alegre, tão feliz! Não é difícil como eu pensava, é fácil, e percebi que com isso a gente vai ganhando outros tipos de conhecimento”.
Plantando a semente de uma nova mentalidade
Depois de trocar ideias e planejar, uma das primeiras ações do grupo foi ampliar uma atividade que a comunidade já realiza, que é o mutirão para limpeza da praia. Além de contribuir com a coleta dos resíduos, construíram placas de incentivo e colocaram em pontos estratégicos.
Os estudantes perceberam que não bastaria agir na limpeza com as próprias mãos, seria preciso conscientizar os moradores. Então realizaram entrevistas, conversaram com moradores e catadores, e instigaram todos a mudar o jeito de agir.
“A própria comunidade joga lixo no lugar errado, isso por pura falta de consciência. Nós fazemos um mutirão para recolher o lixo, mas depois de três dias já tá acumulando tudo de novo.”, conta Yasmim. “A principal dificuldade é mudar o próprio hábito”.
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A praia de Freguesia do Andirá só tem uma única lixeira. Percebendo este problema, os estudantes pretendem confeccionar e instalar 100 lixeiras feitas com garrafa pet, que além de reciclar o material, traz uma solução para concentrar os resíduos, deixando mais acessível.
Além disso, o grupo promoveu também um concurso de maquetes com material reciclável, trazendo um outro olhar para o que iria ser descartado.
Em tempos de ensino remoto, que todo mundo fica muito em casa, eles passaram a olhar para dentro de seus lares de outro jeito, dando um novo sentido ao que não iam utilizar.”
O plano dos estudantes inclui a interação com alunos de outras escolas, com o objetivo de trocar vivências e trazer novas inspirações para o projeto. “É uma experiência muito boa trabalhar com pessoas de dentro e de fora da escola. Queremos continuar conscientizando não só alunos e professores, mas a população em geral”, comenta Yasmim.
O trabalho não pode parar
Mesmo com os desafios impostos pela pandemia, que limita encontros presenciais num local em que o acesso à internet é bastante difícil, os estudantes se viram diante de uma certeza: o cuidado com o meio ambiente é urgente e precisa ser contínuo. A ideia agora é seguir e ampliar o projeto Reutilizar para Conservar.
“O objetivo não é finalizar, é sempre continuar. São pequenas ações que marcam os estudantes, e quando eles se emocionam, isso emociona também a gente que é professor”, conta Jonailson. “Só o fato de dar vida a um projeto pela primeira vez já abre um leque extraordinário de possibilidades. Nós percebemos que é possível fazer diferente, inspirar outras pessoas, e que existem outras visões e metodologias dentro da educação”.
A estudante Yasmim concorda que o projeto ajudou a mudar não só a comunidade, mas também a vida dos próprios alunos. “É nesse momento que a gente tem a oportunidade de se expressar, aprender, se desenvolver. Isso é o que dá vontade de participar de outras iniciativas, evoluir”.
E para todos nós, os estudantes deixam uma lição: reciclar, conservar e lidar com a questão do lixo é olhar com carinho e cuidado não só para o futuro, mas para o cotidiano. Afinal, os passos para o amanhã já estão sendo dados agora.
Redação: Marina Finicelli
Edição: Helisa Ignácio
A gente não fazia a mínima ideia de como seria construir um projeto desses. Logo no começo, eu fiquei sem saber o que fazer, mas a gente foi conversando, trocando ideias. Nos unimos, e logo, começamos a entender por onde seguir.”
conta a estudante Cleane Marques, 17 anos.