Estudantes de Bela Vista do Toldo (SC) descobrem os benefícios do bambu para a preservação ambiental e geração de renda.
Estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental de duas escolas da zona rural de Bela Vista do Toldo (SC), região devastada por crimes ambientais no Planalto Norte do estado, encontram no bambu um meio de expressão artística, de resgate das culturas indígena e cabocla, e uma forma de preservar a natureza de maneira sustentável. Por meio do projeto “As linguagens do bambu”, o grupo foi finalista da última edição do Desafio Criativos da Escola.
Ultrapassando os limites da escola, a iniciativa envolveu alunos, seus familiares e a comunidade local. “Eu via o bambu como uma simples planta que não servia para nada. Agora tenho a consciência dos benefícios que pode nos trazer, inclusive seu papel na proteção de nascentes [de rios]”, destaca a aluna Eduarda Babirescki, do Núcleo Escolar Municipal (NEM) Juliana Tomporoski Krull, que participou do projeto aos 14 anos, quando estava cursando o 8° ano do Ensino Fundamental.
“Havia a crença de que as únicas madeiras que trariam benefícios às famílias eram as das multinacionais, que assolam nosso meio ambiente, como o pinus e o eucalipto. Confrontamos essa realidade ao falar de questões ambientais e de uma nova saída, uma madeira que não empobrece nosso solo”, explica a professora orientadora do projeto, Edilaine Corrêa.
O projeto ressignificou, também, a importância da cultura indígena e dos caboclos habitantes da região. Ao pesquisarem contos e lendas sobre a taquara, espécie de bambu nativa, os jovens enxergaram com outros olhos o trabalho desses povos. “Um aluno trouxe um cesto que seu tio lhe ensinou a fazer, retratando uma cultura que está findando. Foi ali que percebi que o projeto estava nascendo”, recorda Edilaine.
Cestos, balaios e peneiras feitas pelos índios serviram de inspiração e estimularam a criatividade dos alunos, que transformaram o bambu gigante – espécie trazida por imigrantes japoneses – em chaveiros, capelinhas, casas para passarinhos, carrinhos de mão, vasos de flores, poços de jardins, entre outras peças artesanais que, quando colocadas à venda, provaram ser uma boa oportunidade de gerar renda extra às famílias.
Outra produção de sucesso foi a dos chás à base de folhas de bambu. Os alunos secaram as folhas em casa, trituraram e colocaram em saquinhos confeccionados por eles mesmos. “Já conhecia o bambu, mas só fui saber de seus inúmeros benefícios dentro do projeto, e que era possível desfrutar dos bens tão valiosos que a natureza nos oferece sem prejudicá-la”, diz a jovem Bianca Massaneiro, do NEM João Pedro Alberti, que confeccionou vasos decorativos e participou da dança com trajes poloneses – segundo ela, a parte que mais gostou.
Na escola João Pedro Alberti, a dança indígena com bambus misturou-se com trajes folclóricos poloneses e ucranianos para simbolizar a miscigenação. Já o NEM Juliana Tomporoski Krull retratou a dança da cabocla “Chica Pelega”, um mito da guerra do Contestado. “As crianças usaram o bambu como símbolo no lugar dos pedaços de madeira com os quais os caboclos se defendiam da tirania dos exércitos e madeireiras multinacionais”, explica a professora Edilaine Correa.
Soluções sustentáveis
Muitos foram os desafios para a realização do projeto, entre eles, o fato de não haver reservas legalizadas para a retirada de bambu gigante. “Perto da escola não há bambuzais, tampouco tínhamos materiais para cortar e fazer a desidratação da planta para o artesanato. Fizemos um estudo aprofundado dos materiais que podiam ser usados, [sendo que] há alguns extremamente perigosos, cortantes e perfurantes”, conta a professora de artes Sandra de Oliveira, que participou do projeto no NEM João Pedro Alberti.
A dificuldade uniu pais e comunidade. E germinou uma ideia. “Foi semeada a plantinha para que as comunidades plantem essa grama e consigam colocar em prática o que aprenderam com nossos alunos”, celebra a professora Edilaine Correa.
Hoje as famílias estão buscando mudas para conseguirem ter acesso à madeira do bambu. “Sabemos o quão difícil é a vida dessas pessoas, que são pequenos agricultores que vivem à procura de soluções que ajudem no orçamento familiar. A vida no campo não engana, é bruta, muitas vezes enfrentada à zero grau e outras a 40ºC. Cada chance que eles têm é pega com toda fibra, é o que define os guerreiros de nossa região”, ressalta a orientadora do projeto.
“Houve muitos momentos emocionantes, cada artesanato concluído, cada coreografia da dança era um motivo de alegria e de nos sentirmos orgulhosos de nós mesmos. Mas o dia em que fiquei mais emocionada foi quando soubemos de que o nosso projeto havia ficado em destaque. Senti que estávamos no caminho certo!”, comemora Eduarda Babirescki.
O projeto “As linguagens do bambu” foi eleito o melhor do município num concurso ambiental coordenado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI).
Redação: Mariana Della Barba
Edição: Gabriel Maia Salgado
Imagens: Divulgação