Estudantes de Cascavel (CE) criam cordel, estimulam valorização da cultura local e espalham arte e conhecimento a moradores da cidade
Você conhece a história de seu bairro ou comunidade? Em Cascavel (CE), por exemplo, 86% dos moradores não sabiam a origem do nome da própria cidade, segundo pesquisa realizada em 2014 por estudantes da Escola de Ensino Médio Ronaldo Caminha Barbosa. Buscando chamar a atenção para o patrimônio histórico-cultural do município, um grupo de alunos criou um cordel contando lendas, tradições e manifestações culturais de Cascavel.
Para espalhar o material chamado de “Cascavel em Cordel”, os integrantes do grupo já imprimiram mais de 15 mil exemplares e distribuíram para crianças, adolescentes, adultos e idosos da cidade. Os jovens também montaram um site com as informações pesquisadas e em parceria com os educadores, elaboraram um plano disciplinar para abordar o tema nas aulas, e que já foi replicado em outras 20 escolas do município. Com o trabalho de divulgação feito pelos alunos, o desconhecimento sobre as informações da cidade caiu para 17%. O projeto foi um dos premiados no Desafio Criativos da Escola em 2016. (Clique aqui e veja como foi a premiação do Desafio Criativos da Escola 2016).
“Nosso projeto valorizou muito nossa comunidade, nós aprendemos com as pessoas, mas também ensinamos”, conta a aluna Maiara Gadelha. Para disseminar a iniciativa “Entre versos e rimas: história e cultura local”, o grupo conseguiu parcerias com alunos de outras escolas, professores, representantes da Secretaria municipal de educação, moradores, gestores escolares, historiadores e memorialistas locais.
Conhecendo a história de Cascavel
Os estudantes que iniciaram o projeto no 1º ano do ensino médio, em 2014, contam que seu surgimento ocorreu após turistas perguntarem sobre a origem do nome da cidade. Na ocasião, nem os estudantes, nem os professores e nem mesmo representantes da Prefeitura sabiam explicar de onde surgiu o nome de Cascavel. “Várias perguntas ficaram martelando na nossa cabeça e nós queríamos respostas. Então, começamos a investigar porque as pessoas não sabiam a história de Cascavel”, lembra a aluna Débora Pessoa.
Em campo, o grande número de moradores que não sabia a história do local (mais de 80%) surpreendeu os estudantes. O grupo, então, se perguntou que tipo de material seria didático e atrativo para as pessoas poderem reconhecer sua própria cultura. “Não podíamos esquecer de nenhuma faixa etária, porque todos vivem e constroem juntos a nossa história”, explica Débora. A partir daí, surgiu a ideia de retratar Cascavel por meio da literatura de cordel, gênero popular escrito frequentemente de forma rimada originária do nordeste do país.
Para a elaboração do cordel, os nove integrantes do grupo realizaram revisões bibliográficas, conversas com historiadores e memorialistas locais, além de entrevistas em escolas e no centro histórico do município. De acordo com Débora, “o projeto foi ficando forte com a participação das pessoas e a vontade que elas tinham de conhecer a história da nossa comunidade”.
Próximos passos
Entre os desafios enfrentados pelo grupo, o de maior destaque foi a discriminação de alguns cascavelenses com a própria cultura. “As pessoas têm mania de admirar o que vem de fora, mas não consideram que até nossas gírias são importantes. As pessoas têm preconceito, mas a gente tenta valorizar [a cultura local], porque nossos costumes e nossa tradição são significativos para nosso aprendizado e nossa consciência critica”, opina Débora.
Apesar de muitos dos alunos que deram início ao projeto em 2014 estarem saindo da escola, o grupo permanece mobilizado para incentivar outros jovens a adotarem a iniciativa. Segundo o educador e um dos orientadores da iniciativa Augusto Santos, as transformações vão continuar acontecendo mesmo com a ida de alguns dos estudantes para o ensino superior: “os alunos que criaram [o projeto] vão continuar participando porque ele não é da escola, mas é mais do que isso, é um caso de amor. Não tem como dissociar”.
Hoje, o intuito dos estudantes é inspirar outras pessoas para que a iniciativa vá além do município. “Não queremos que só as pessoas de Cascavel conheçam a história do local, mas que também outras possam conhecer as [histórias] dos lugares em que vivem”, conclui a estudante Beatriz Sousa.
Redação: Vanessa Ribeiro
Edição: Gabriel Maia Salgado