Contribuindo com o combate ao analfabetismo, estudantes de três Marias (MG) visitam casas e ensinam adultos a ler e a escrever
Com o apoio de suas professoras, cinco estudantes do 9º ano do ensino fundamental da Escola Estadual Carlos Alexandre de Oliveira, de Andrequicé, distrito de Três Marias (MG), montaram aulas de alfabetização de adultos e passaram a visitar as casas de moradores da comunidade para ensiná-los a ler e escrever. “Nos dividimos em grupos e nos organizamos para dar aulas de uma hora por dia, por três dias na semana”, conta o estudante Thaylon Vieira.
“A gente trabalha com processos silábicos, com o alfabeto, com o nome da pessoa e se ela aprendeu a escrever”, explica a estudante Lívia dos Reis. Segundo a aluna, foi possível perceber os efeitos do projeto “Ensinando e Aprendendo” logo nas primeiras aulas: “muitos desde o ínicio já ficam mais independentes e confiantes e passam a ser mais participativos na vida escolar do filho ou neto”.
O projeto foi um dos 11 premiados do Desafio Criativos da Escola 2016, sendo o de maior destaque entre os inscritos de 17 municípios onde atua o Instituto Votorantim e, desta forma, o selecionado na categoria Parceria Votorantim pela Educação. (Clique aqui e confira como foi a premiação e a vivência do Desafio Criativos da Escola 2016).
Fazendo a diferença
A partir do convite das professoras Sônia Campos e Cristina Bastos para que os alunos refletissem sobre os problemas da comunidade no início de 2016, os estudantes foram a campo e o analfabetismo de adultos e idosos foi o que lhes chamou mais atenção. Após verem uma senhora analfabeta sendo discriminada em um ponto de ônibus, o grupo decidiu contribuir com a mudança deste cenário. Se, para eles, a escrita e a leitura eram tão fundamentais para ampliar sua visão de mundo, como outras pessoas não poderiam ter essa mesma oportunidade?
Em um primeiro momento, os alunos e alunas andaram pela comunidade e entrevistaram cerca de 70 moradores. Logo, descobriram que existia uma grande quantidade de pessoas do distrito que não sabia ler e escrever. “A gente está no século 21. Por que ainda há pessoas analfabetas?”, questiona Lívia. Desde então, os estudantes decidiram que eles próprios podiam começar a dar aulas.
Segundo o grupo, a fala dos seus “novos” alunos revelou que o analfabetismo era motivo de vergonha na comunidade, e que todos tinham muita vontade de aprender a ler e escrever. “Muitas dessas pessoas tiveram que parar de estudar para ajudar em casa ou trabalhar na roça já que o distrito de Andrequicé é afastado da cidade”, explica Lívia.
Os estudantes pretendem continuar com as ações do projeto, mas agora também cobrando dos órgãos governamentais que ofereçam não só a alfabetização, mas toda a educação básica aos adultos e idosos de Andrequicé. “A gente quer que eles tenham professores, que tenham currículo, que façam todas as séries que têm direito”, conclui Lívia.
Assista ao vídeo dos alunos do projeto Ensinando e aprendendo:
Aprendizados entre gerações
A ação do grupo tem contribuído de forma marcante não só para os adultos e idosos da comunidade, mas também para os jovens que estão à frente da iniciativa. “Para mim nao tem nada mais prazeroso do que o sorriso das pessoas ao escrever seu próprio nome pela primeira vez”, relata Lívia.
Apesar da motivação dos estudantes, a falta de um espaço físico destinado às aulas foi o maior desafio enfrentado pelo grupo durante a elaboração do projeto. Como alternativa, os jovens decidiram oferecê-las nas próprias casas dos adultos e idosos da comunidade e, segundo Lívia, foram muito bem recepcionados. “Antes da gente chegar eles já estavam lá com os caderninhos nas mãos esperando a gente, ou seja, eles estavam esperando muito mais do que a gente”.
Neste convívio, o projeto foi além da alfabetização e fez com que houvesse uma aprendizagem não só dos adultos e idosos, mas também dos “alunos educadores”. Para a professora orientadora do projeto, Cristina Bastos, “o principal ganho para os alunos tem sido a convivência com pessoas mais velhas, a solidariedade, a troca de experiências e a valorização do ser humano”.
Veja mais fotos da iniciativa:
Redação: Vanessa Ribeiro
Edição: Gabriel Maia Salgado