Estudantes adubam plantas com papel e descobrem alternativa para coleta seletiva e escassez de água em Guanambi (BA)
Feito a partir da fibra de celulose retirada da madeira, o papel pode se transformar em adubo e contribuir com o crescimento de diferentes tipos de planta. Esta foi a descoberta de três estudantes do Colégio Estadual Governador Luiz Viana Filho, em Guanambi (BA), ao realizarem o projeto “Reutilização de livros antigos como adubo para o plantio”.
“Foi muito emocionante principalmente quando a gente viu que o feijão deu a primeira vagem. E é muito importante, porque não só o meio ambiente é ajudado com isso, mas também as pessoas que vão consumir”, destaca a aluna Jéssica da Silva Santos. Segundo ela, o projeto surgiu ao observarem que livros antigos das escolas não tinham um destino correto com a falta de coleta seletiva na cidade. “Um dos meninos do nosso grupo que morava na roça sempre falava que precisavam de adubo e que muita gente adoecia por não usar o material e o equipamento adequado”, complementa Jéssica que, ano passado, estava no 3º ano do ensino médio.
Localizada no sudoeste baiano, Guanambi enfrenta também desafios em relação ao fornecimento de água para a manutenção de sua agropecuária. “Os alunos que fizeram o projeto moram na zona rural da cidade e suas famílias sobrevivem da agricultura. Eles ficaram super animados quando viram os resultados porque a planta ficava úmida por muito mais tempo”, contextualiza a professora Débora Andrade Paes, orientadora do projeto que foi apresentado na Feira de Ciências e Matemática da Bahia (Feciba), em 2015.
Apesar dos resultados positivos, Jéssica afirma que foi necessário fazer diferentes tentativas para que o papel servisse como adubo e não sufocasse as sementes: “a gente tinha que acompanhar todos os dias e aprendemos na prática. Na primeira tentativa, colocamos muito papel que sufocou o milho e não germinou. Aí fomos adequando”.
O registro de todo o processo, segundo a professora, é a base para o aluno fazer comparações e chegar à conclusão. “É importante até mesmo para depois comprovarem o que fizeram por meio dos registros fotográficos e de relatos escritos, mostrando quais foram os problemas enfrentados”, comenta.
Para Jéssica, um dos principais desafios foi superar o medo de a planta ser atacada por fungos e insetos. “A gente experimentou uma planta com e outra sem o adubo de papel. A que estava sem o papel teve fungo, formiga e bactérias nas folhas. Mas a que estava com o adubo não, porque a celulose do papel inibe o crescimento dos fungos e não deixa formigas e lagartas chegarem na planta”, explica.
Protagonismo
O projeto “Reutilização de livros antigos como adubo para o plantio” surgiu a partir da ideia dos alunos que realizaram pesquisas sobre o tema e desenvolveram experiências a partir da orientação da professora Débora. Para ela, o projeto deu certo por ter contado com o protagonismo e o envolvimento intenso dos estudantes. “Quando a ideia parte do aluno, ele se interessa muito mais em fazer as coisas darem certo e tendem a ver o projeto como algo deles”, valoriza a professora. E reconhece: “uma coisa que fez diferença para mim é que normalmente a gente rotula os alunos, mas vejo que não é bem assim. Temos muitos que são interessados, querem aprender e, às vezes, apenas precisam ser orientados e motivados”.
Como dica para outros estudantes, Jéssica destaca a necessidade de não se desistir nas primeiras dificuldades. “Não é fácil e não recebemos o apoio de todo mundo. Mas tem que meter a cara mesmo, pensar que estamos ajudando também as futuras gerações e entrar no projeto de corpo e alma”, reforça a aluna.
Redação: Gabriel Maia Salgado