Com muita disposição, os alunos da Dezenove de Abril recuperaram o orgulho pela escola e anularam ações de depredação no ambiente escolar
A comunidade na qual a EMEF Dezenove de Abril está inserida, na periferia de Caxias do Sul (RS), carece de equipamentos públicos e opções de lazer e convívio social. A escola é o único local para vivências em comunidade, mas estava enfrentando problemas internos e externos. Os alunos da EMEF Dezenove de Abril resolveram encarar uma missão: revitalizar o espaço escolar e aproximá-lo da comunidade.
Enquanto algumas famílias têm uma boa condição financeira na comunidade, muitas outras habitam áreas irregulares e vivem em condições bastante vulneráveis. Segundo os alunos da Dezenove, como a escola é conhecida, esse contexto de diferenças gerava conflitos entre os estudantes e o sentimento de desunião entre os moradores só aumentava.
Um dos poucos espaços existentes para a prática de atividades esportivas e recreativas atualmente é a quadra de esportes da escola, utilizada pelos alunos e também pela comunidade aos finais de semana. Entretanto, o espaço encontrava-se em uma situação precária, abandonado e sem a estrutura adequada para a prática de esportes. “A nossa escola era alvo de depredações, por parte de estranhos e até mesmo alguns ex-alunos, à noite e nos finais de semana. Eles furavam a cerca, pichavam, destruíam portas e tudo mais”, conta Ashley Passos da Luz, aluna do 9º ano. Na quadra esportiva também faltavam equipamentos como goleiras, tabelas de basquete e marcações no chão. Para que o problema fosse solucionado, era preciso o envolvimento de todos da escola.
Juntos em ação
Ao serem questionados sobre os problemas que estavam enfrentando, os alunos expressaram a ideia de revitalização da quadra esportiva – espaço utilizado por todos. Diante desse contexto, a turma teve a ideia de propor uma ação coletiva, envolvendo alunos, professores e a comunidade. “A gente encontrava um monte de coisas estragadas quando chegávamos na escola. Dava tristeza. Ai nasceu o Projeto ‘Eu amo a Dezenove’”, explica Ashley. O intuito era claro: incentivar o amor e o cuidado pelo ambiente escolar.
Com o apoio dos professores e da equipe diretiva, o grupo buscou parcerias para colocar o projeto em prática. A comunidade se mobilizou junto com a direção e organizaram um almoço e festas para ajudar na arrecadação de fundos para a revitalização. Os alunos também buscaram apoio com um artista plástico local e professores de arte para o patrocínio com as tintas.
A pintura da quadra e organização de materiais arrecadados foram orientadas pelo professor de Educação Física Rudimar Reali. Os jovens fizeram toda a marcação e pintura, além de terem participado de ações na escola com o objetivo de conseguir fundos para equipar a quadra. “Para pintar a quadra, o professor Rudi vinha nos finais de tarde e convocava os alunos para ajudar. Foi bem legal”, conta Vinicius Zdruikosk, do 8º ano. O momento da grafitagem do espaço com o envolvimento de toda a comunidade foi, para ele, o mais marcante: “Até os pichadores ficaram olhando [a grafitagem]. Tudo ficou mais bonito a partir daquele dia. Os atos de pichação acabaram”, conta.
Existe amor na Dezenove
“Depois que a quadra e a área coberta foram revitalizadas a gente passou a gostar muito mais da escola. A comunidade participa mais. Tudo ficou melhor”, conta Daiéli do Couto, aluna do 8º ano. Não foi só o comportamento dos alunos que melhorou, mas também a relação com a comunidade. “Hoje os alunos sentem-se pertencentes ao local, cuidando e conscientizando a comunidade para o cuidado e preservação do espaço, já que a quadra fica aberta para os moradores utilizarem quando a escola está fechada”, conta o professor Rudimar. Clauber Ferreira, do 8° ano, apoia a ideia: “Os professores sempre falam de pertencimento. A escola cuida da gente e agora a gente cuida da escola”.
Segundo Ashley, eles estão se divertindo muito mais cuidando do espaço escolar, mesmo nas situações inusitadas.“Um dia estávamos ajudando o professor Rudi a desmontar os brinquedos infláveis que ele trouxe para a Festa das Crianças. Fui esvaziar um deles e me atirei. Só que ele murchou imediatamente e fui de cara pro chão. Todos riram e eu também”, relata.
Agora, com a quadra revitalizada, os estudantes estão organizando campeonatos durante o recreio, a partir de um cronograma de jogos envolvendo todos os alunos do turno da manhã da escola. O professor de Educação Física continua participando, apitando os jogos durante o intervalo. Os esportes são aprendidos na aula e os times são montados e, durante os intervalos, são organizados os campeonatos e premiações. “Adoro participar dos campeonatos. Até medalha a gente recebe”, conta Lohrana Rodrigues Fernandes, aluna do 8º ano. Alguns acontecem também aos finais de semana e o público se mantém ativo. Segundo Leonardo Lisboa, do 9º ano, os alunos estão muito mais cuidadosos com a escola, se respeitam mais e o índice de agressões físicas diminuiu: “Todos estão bem mais calmos nos recreios. A gente fica assistindo aos jogos e torcendo”.
“Antes a escola era mais feia e abandonada. Agora ela está bonita e as pessoas cuidam bem mais dela”, conta Natanael dos Santos, do 8° ano. Tanto orgulho resultou em um banner, criado pelos próprios alunos, com os dizeres “Eu Amo a Dezenove” (em uma referência ao nome da escola), fixado na entrada do prédio. O projeto terá continuidade em 2016, e pretende desenvolver novas ações para fortalecer o vínculo entre os alunos e os moradores.
Redação: Vanessa Ribeiro
Edição: Marianne Estermann
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