Apesar da dificuldade de acesso à internet de qualidade, estudantes e educadores buscam alternativas para continuarem pesquisas em projetos.
Como estudantes e educadores podem fundamentar seus planos de ação por meio de pesquisas e de uma investigação confiável? Apesar das dificuldades de acesso à internet e a impossibilidade do trabalho presencial, o Criativos da Escola levantou alternativas e possibilidades a serem consideradas dentro ou fora do contexto de isolamento social
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Para a estudante Maria Jilvani Santos, do projeto Minas na Ciência, de São Miguel das Matas (BA), a realização de pesquisas foi essencial para o projeto se desenvolver. “Por mais que um trabalho seja maravilhoso, ele precisa ter fundamentação teórica, eu preciso saber do meu conteúdo para poder levar para outras pessoas”, conta. Confira como foi o projeto de Maria no vídeo abaixo:
Segundo Maria, o uso de aplicativos pode ser uma alternativa à necessidade de isolamento social: “na parte da pesquisa, [os estudantes podem] montar um grupo nas redes sociais e daí compartilhar links de livros, revistas e alguns sites. Pode montar também um arquivo em grupo na internet em que [os alunos] podem escrever suas ideias e adicionar comentários”. A hoje estudante de engenharia sugere ainda o uso de formulários online para a aplicação de questionários ou de plataformas para conversas em grupo.
A aplicação de questionários foi uma estratégia utilizada, também, pelo grupo da estudante Brena Dantas, do projeto Coletivo Feminista Nísia Floresta, de Senador Pompeu (CE). A pesquisa serviu, segundo ela, para descobrir casos de violência contra mulheres entre as demais alunas e – se fosse feita hoje – poderia ser realizada online e de forma mais ampla. “Embora sem um contato direto com as pessoas, é bem interessante porque você conseguiria atingir pessoas de diferentes idades, de diferentes locais e ficaria uma pesquisa muito mais fidedigna”, aponta Brena. Clique aqui e saiba como foi a iniciativa realizada pela estudante e suas colegas.
Passo a passo para a investigação
O primeiro passo para a pesquisa sobre um tema, segundo a fundadora da Rede Conhecimento Social, Marisa Villi, é definir bem o foco do que se quer descobrir antes de partir para investigação. “A parte mais fundamental de tudo é definir o que a gente chama em pesquisa de ‘pergunta norteadora’. Isso é basicamente dizer: ‘esse é o meu assunto e o que eu quero descobrir com esse assunto é isso aqui’. É uma delimitação”, aponta a pesquisadora.
Com a “pergunta norteadora” em mãos, a estratégia sugerida por Marisa é definir quem seriam as pessoas que podem ajudar a responder a este questionamento. Essas fontes podem ser especialistas, pessoas ou organizações que trabalhem com o tema escolhido ou livros e artigos, por exemplo. As duas formas de consulta podem ser feitas via internet e telefone, sem sair de casa.
Feita essa pesquisa inicial, o segundo passo é pensar em hipóteses. Ou seja, em ideias que podem ou não ser verdadeiras sobre o tema do projeto e que os estudantes queiram verificar na prática, por meio de um questionário.
O erro mais comum nesse processo, segundo a Marisa, é justamente começar pelo final, o que prejudica a análise dos resultados. “Por que não começar com o questionário? O risco que a gente corre é que com o questionário a gente queira atirar para tudo que é lado, sem muito foco para definir quais são as perguntas”, alerta.
O terceiro passo, então, é a realização de entrevistas. E, para este momento, a dica é deixar as pessoas falarem e assumir uma posição observadora, evitando interrupções. Se for possível, a atenção com gestos e a entonação pode fazer diferença. É aconselhável ainda ter cuidado com o contexto, lembrando, por exemplo, que há pessoas de luto e deprimidas na pandemia.
Para formular as perguntas, uma recomendação é utilizar palavras “abertas” como “por quê?” e “como?” que estimulam as pessoas entrevistadas a falarem mais sobre o assunto e não apenas responderem um “sim” ou um “não”. Exemplo: “Por quê este problema ficou tão grave?”, “Como você acha que nós podemos contribuir para mudar esta realidade?” e “Quais são os passos que a gente deve seguir para descobrir mais sobre este assunto?”.
Fake News e criatividade!
Até chegar ao questionário, o processo de pesquisa deve ser bastante cuidadoso e, segundo Marisa, é importante buscar fontes confiáveis e oficiais, evitando conteúdos opinativos e páginas que possam conter fake news.
“Evite usar notícia como referência de dados, porque notícias muitas vezes já contêm uma interpretação sobre os dados. Então é melhor ir o máximo possível atrás de relatórios de fontes oficiais como órgãos de governo, instituições e universidades”, diz a pesquisadora.
Uma das idealizadoras do projeto Missão Galo, de São Gonçalo do Amarante (RN), a jovem Maria Clara Oliveira conta que muitas das informações utilizadas no projeto puderam ser encontradas em fontes oficiais online: “a primeira coisa que a gente fez foi ir para a Internet e extrair o máximo de informação que a gente podia sobre a cultura, sobre [a estátua do] galo, por meio de artigos e de sites do município”. Veja abaixo como o grupo de Maria Clara se mobilizou para investigar, descobrir e espalhar a riqueza cultural da cidade:
Apesar das dificuldades da pandemia, a estudante aponta para a oportunidade de surgirem novas estratégias e possibilidades para o desenvolvimento de pesquisas e projetos: “usar essa criatividade para se adequar talvez traga novos projetos com outras caras e com outras formas de fazer e mudar o mundo”.
De acordo com a estudante do Rio Grande do Norte, Maria Clara, a pesquisa de campo feita pelo grupo envolveu visitas a instituições e locais históricos da cidade, como o museu e a paróquia local. No entanto, ela ressalta que as conversas que teve com o curador do museu e o secretário da cultura do município, por exemplo, poderiam ser feitas de forma virtual, assim como as reuniões de planejamento do grupo.
“No isolamento, acho que a gente procuraria saber quais são os contatos e quais são os meios que a gente conseguiria para conversar com essas pessoas virtualmente. Hoje em dia tem muita ferramenta e a gente passou a usar muito as plataformas de vídeo-chamada”, conta a jovem.
Apoio para a pesquisa
Os educadores e educadoras podem ser grandes aliados para os grupos pesquisarem em sites como Google Acadêmico, Scielo e portais de universidades. Além dos meios de comunicação de órgãos governamentais (como secretarias e ministérios), a fundadora da Rede Conhecimento Social recomenda a busca em sites de organizações de pesquisa como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA).
Independente de onde a informação foi encontrada, uma dica importante, de acordo com a especialista Marisa, é discutir sobre o que foi achado coletivamente e buscar sempre a origem do dado ou da pesquisa que o grupo quer utilizar. Neste sentido, discutir juntos as descobertas que fizeram e seus aprendizados pode ser uma prática valiosa do início ao final do processo de investigação.
Caso os integrantes do projeto ainda tenham dúvidas e curiosidades, educadores e educadoras podem ser parceiros fundamentais para descobrir a respostas de perguntas como “Por que este problema acontece?”, “Quais são suas causas?” e “Para enfrentar um problema quais questões devemos trabalhar?”.
Matéria: Solon Neto
Edição: Gabriel Maia Salgado e Angélica Garcia