Alunas montam dessalinizador e melhoram qualidade de água consumida em comunidade de Poções (BA). Desafio agora é financiamento para expandir projeto a famílias.
Garrafas PET, canos, papel celofane e potes de plástico. Esses são alguns dos ingredientes necessários para reproduzir o dessalinizador montado pelas alunas Ingrid Meira, Júlia Lima e Franciele Nunes, do Colégio Estadual Eurides Santana, de Poções (BA). Com o objetivo de contribuir para melhorar a água e a condição de vida da população da comunidade Lagoa da Pedra, na zona rural da cidade, as estudantes do 2º do ensino médio utilizaram materiais recicláveis e deram vida ao projeto que, hoje, ajuda na limpeza da água utilizada por três famílias da região.
“A nossa motivação é ajudar a transformar alguma coisa na vida das pessoas. Alguém com baixa renda tem muita dificuldade de conseguir um dessalinizador caro e com o nosso fica mais fácil para limparem a água e evitarem doenças como o cálculo renal, a hipertensão e terem diarreia”, exemplifica a estudante Ingrid Meira, de 16 anos, citando que neste ano estão aprimorando o projeto apresentado durante a Feira de Ciências e Matemática da Bahia (Feciba) em 2015.
Após participarem da Feciba, as estudantes tentaram patentear o protótipo criado, mas bateram de frente com a dificuldade financeira: “patentear fica muito caro, mas pretendemos criar uma ONG para distribuir nossos dessalinizadores para as regiões da cidade que têm problema com a água salobra”. “Estamos trocando as garrafas PET por canos de PVC de cinco polegadas, de material reciclável. E a UESB [Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia] está nos ajudando com testes de qualidade da água antes e depois de passar pelo dessalinizador”, explica Ingrid, ao falar sobre as próximas ações do grupo.
O objetivo das estudantes agora é comprovar os benefícios do projeto que, segundo a aluna Júlia Lima, de 16 anos, já tem contribuído para a melhoria da saúde das crianças e dos animais das famílias impactadas. “A gente quer comprovar que ele [o dessalinizador] funciona bem cientificamente para conseguir patrocínio e distribuir para mais famílias”, afirma a aluna. Além do dessalinizador, Júlia conta, também, que elaboraram um manual de instruções e um vídeo sobre como o instrumento deve ser utilizado.
Além de adaptar o dessalinizador para filtrar uma maior quantidade de água, a proposta para esta segunda fase do projeto Transformando Águas é diminuir a quantidade de resíduos gerados. “Pretendemos aumentar a eficiência e diminuir a quantidade de água que sobra do processo e que fica como rejeito, com mais sal”, aponta Ingrid.
Transformando e transformadas
De acordo com a professora orientadora das estudantes, Roberta Pereira, o projeto tem transformado as alunas, ensinando-as a “colocar em prática atitudes e habilidades para alcançar objetivos e tomar decisões com responsabilidade”. “Elas se tornaram mais criativas, desenvolveram espírito inovador, colaborativo e estão abertas a novas ideias”, relata a docente.
Além disso, Roberta descreve como a experiência tem impactado sua prática pedagógica: “orientar um trabalho sobre algo que se tem pouco conhecimento não é fácil, mas ao mesmo tempo se coloca como um grande desafio. Tive que pesquisar muito sobre o tema para verificar as informações que as alunas traziam e o melhor de tudo é que elas estão dando continuidade ao projeto”.
Para Roberta, a construção do dessalinizador mostra que o papel da escola vai além do que está previsto em livros didáticos, podendo estar relacionado a “uma série de competências e habilidades que precisam ser desenvolvidas, também por meio de projeto de pesquisas”. “O mundo atual é complexo demais. Ele abre espaço, mas cobra que os estudantes sejam protagonistas de seu próprio desenvolvimento e de suas comunidades”, avaliou a professora.
Redação: Gabriel Maia Salgado
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