Estudantes criaram um grupo para mediar os conflitos e desafios na escola. Com o diálogo, zeraram o número de ocorrências no ambiente escolar.
No Colégio Estadual Professor Hermes Miranda do Val, de Simões Filho (BA), alguns alunos estavam sendo acusados de roubar material escolar (canetas, lápis etc.). O estudante Anderson Santos, de 19 anos, sensibilizado com a situação, perguntou à vice-diretora, Simone Bocaiúva, se poderia ajudar a resolver o problema, conversando com os colegas que estavam sendo apontados como culpados. Certo tempo depois, voltou do papo emocionado, com mais de trinta canetas de volta e uma ideia: formar um grupo para ouvir e dialogar com os alunos.
O episódio ocasionou a criação do GAC (Grupo de Apoio e Conselhos), que se tornou uma espécie de mediador escolar, formado pelos próprios alunos. Desde então, os conflitos da escola são resolvidos com o apoio da equipe, formando um elo de confiança entre a direção e os estudantes.
O GAC conta com cinco jovens no núcleo do projeto e mais quatro de apoio, que colaboram na resolução dos problemas da escola. Eles organizam mesas redondas para que os jovens conversem entre si e exerçam o protagonismo ao buscarem maneiras próprias de solucionar desafios.
Trata-se um projeto realizado por alunos e com alunos. Semanalmente há reuniões do grupo, que conquista cada vez mais a confiança dos outros colegas. Ao contarem suas histórias nas rodas de conversa, eles exercitam a empatia uns com os outros. O grupo também acolhe casos específicos fora dos períodos de reuniões. Em uma das conversas para resolução de conflito, por exemplo, os jovens descobriram que um dos casos de roubo na escola só havia acontecido por uma situação precária enfrentada por um dos jovens: falta de dinheiro até para comer. A descoberta desse fato fez com que os alunos lidassem com a situação a partir de um olhar diferente. Bianca Andrade, 18 anos, membro do GAC, conta a missão do grupo dentro e fora do ambiente escolar. “A gente só quer ajudar e transformar o mundo apesar dos pesares, diz”. A mudança deu certo, os roubos na escola pararam de acontecer. Segundo o professor Carlos Roberto, que também apoia as ações do GAC, o grupo trabalha com amor, por esse motivo obtêm positivos resultados.
O grupo, no inicio de sua atuação, enfrentou diversos problemas de aceitação por parte de colegas que não acreditavam que a ideia pudesse funcionar, devido aos diversos problemas de estrutura. “No começo do GAC, fomos muito julgados, muitos falaram para a gente que não íamos conseguir”, explica Bianca. “As vezes, tivemos que ir com a cabeça baixa em relação aos alunos que julgavam muito nosso grupo e mesmo assim, sempre levantamos”, completa Wesley Santana, 18 anos, também membro da equipe. Com o passar do tempo, o GAC mostrou eficácia nas ações. Atualmente os jovens são conhecidos por toda a escola como referência. “Hoje em dia a gente entra no colégio e todo mundo aceita a gente de braços abertos”, conta Bianca.
O aluno Anderson, que deu início às atividades do GAC, antes era conhecido pelo seu histórico de problemas na escola. Depois do início do projeto, ele se tornou um exemplo de protagonismo. Em novembro de 2014, aliás, Anderson foi para um encontro do movimento estudantil no Distrito Federal, financiado com uma “vaquinha” que os colegas realizaram para que ele pudesse viajar.
Alguns alunos já procuram os membros do grupo de forma espontânea para pedir conselhos. Grande parte da primeira equipe atuante se formou no final de 2015 e saíram da escola, mas Anderson afirma: “O GAC não para”. Desde o final do ano outros alunos já assumem o posto para dar continuidade ao projeto. “A mudança de comportamento foi notável, eles amadureceram. Estão mais críticos e reflexivos, a escola os respeita”, conta Simone.
Conheça a equipe representante do Colégio Estadual Professor Hermes Miranda do Val:
Esse projeto foi um dos vencedores do Desafio Criativos da Escola de 2015. Confira o vídeo de apresentação:
Você conhece um projeto protagonizado por crianças e jovens que está transformando a escola e a comunidade?
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