Criativos da Escola | Meu cabelo é um ato político
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Meu cabelo é um ato político

Temas

  • relações étnico-raciais

Maracanaú - CE

Ano de Inscrição: 2018

status Finalista

ODS

29/03/2019 - Por Criativos

Estudantes negras de Maracanaú (CE) se reúnem mensalmente e promovem ações contra o racismo dentro e fora da escola.

O racismo é uma forma de opressão estrutural no Brasil, um dos últimos países a abolir a escravidão no mundo e que ainda se mostra extremamente desigual e preconceituoso em relação à população negra. O ambiente escolar não é alheio a essa realidade, sendo espaço em que – não raramente – ocorrem práticas que reproduzem o racismo, seja envolvendo as crianças, seja envolvendo educadores e demais profissionais da educação.

Foram justamente atos de racismo que motivaram um grupo de meninas negras da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Construindo o Saber, de Maracanaú (CE), a iniciarem o projeto que tem transformado suas realidades e que fez com que fossem selecionadas como finalistas do Desafio Criativos da Escola, em 2018. (Clique aqui e confira os demais projetos finalistas)

Grupo de estudantes confecciona frase dando destaque para a palavra "respeito".

Grupo de estudantes confecciona frase dando destaque para a palavra “respeito”.

Entre as ações das meninas, está a criação de um espetáculo de dança, uma exposição fotográfica, dois livros com relatos das atividades do grupo, rodas de conversa e palestras na escola. O ensaio de fotos, por exemplo, denominado “Florescer”, conta com uma série de 40 retratos de estudantes negros e negras.

“Eu sempre gostei da fotografia, mas tinha muita vergonha de bater foto. Foi bem no começo, bem na época que eu tinha soltado o cabelo. Teve uma exposição de retratos e fizemos tipo um varal com fotos”, conta Emilly Fonseca Mascarenhas, atualmente com 18 anos e estudante do 3º ano do ensino médio.

 

Soltando o cabelo e a voz
Tudo começou em junho de 2015, quando elas se reuniram pela primeira vez para compartilharem histórias de preconceito que haviam sofrido ao longo dos anos. Uma delas contou que teve de se transferir de outra escola após ter sofrido agressões físicas e ter recebido xingamentos que se referiam a seu cabelo crespo.

Apesar da dificuldade em contar histórias de sofrimento, a união das alunas foi crescendo e o projeto tomou corpo. “Na nossa escola, 60% das pessoas são brancas e elas sempre tiveram vozes. A professora Elonalva sempre nos disse: ‘olha, não importa a quantidade, importa nossa força de vontade’. E é isso, nós temos que ir em frente, porque se a gente se calar, acabou, não tem mais saída”, opina Mychelle de Sousa Silva, atualmente com 16 anos e estudante do 2º ano do Ensino Médio.

 

Clique aqui e conheça também os projetos premiados no Desafio Criativos da Escola 2018.

 

Estudantes realizam atividades abertas contra o racismo na escola

Estudantes realizam atividades abertas contra o racismo na escola

Um movimento contínuo e crescente!
Esse e outros relatos geraram uma empatia entre as participantes que decidiram nomear o grupo de “Pessoas cacheadas, crespas e trançadas de Maracanaú”. As reuniões, que no início eram realizadas na pequena sala de informática, cresceram no número de adeptos e se transformaram em eventos mensais, realizados aos sábados no pátio da escola, com média de público de 150 pessoas.

Nos encontros do grupo, a jovem Mychelle tem levado também poesias e diferentes composições artísticas inspiradas em saraus e eventos de slam (batalhas de poesias) que participa. “Aqui onde eu moro o tráfico é muito alto, muito alto. Em cada esquina a gente vê um amigo nosso usando droga ou morrendo. E foi muito difícil pra mim ver essa situação e não falar nada. O projeto foi uma forma de sair dessa zona sem voz”, avalia.

 

Confira também vídeo sobre o projeto “Solta esse Black”, premiado pelo Criativos da Escola em 2016.

 

Saindo da punição para o diálogo

De acordo com a orientadora do projeto, a professora Elonalva Silva Costa, a ideia sempre foi incentivar um trabalho constante e integral contra o racismo: “a gente como educadora passa a perceber e buscar formas de a escola ser um palco de combate ao racismo. Então a gente tem que sair daquela discussão de punir e partir para o diálogo, que é o mais importante. Fazer uma construção coletiva”.

A educadora também explica a importância da questão estética. “Elas partem da questão estética, mas discutem também a questão política. O projeto tem uma blusa com a seguinte frase, bastante simbólica: ‘meu cabelo é um ato político’”, destaca Elonalva.

O projeto pretende agregar cada vez mais pessoas e fomentar outras iniciativas semelhantes. “Muitas ex-alunas se tornaram multiplicadoras das ideias do projeto nas escolas e nos espaços em que atualmente elas ocupam”, relata a professora.

 

Você conhece um projeto protagonizado por crianças e jovens que está transformando a escola e a comunidade?

Fique de olho: as inscrições para o Desafio Criativos da Escola 2019 já estão abertas. Clique aqui e inscreva-se!

 

Redação: Guilherme Weimann

Edição: Gabriel Maia Salgado

Imagens: Emilly Fonseca Mascarenhas

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