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Pontes e Lacerda - MT

Ano de Inscrição: 2018

ODS

20/09/2018 - Por Criativos

Educandos descontroem estereótipos e inovam ao promover conhecimento científico sobre a região do município de Pontes e Lacerda (MT), que faz fronteira com a Bolívia.

A chamada Fronteira Oeste mato-grossense, região que faz divisa com a Bolívia, desfruta de uma rica diversidade, resultado da intersecção da floresta amazônica, do cerrado e do pantanal, com cidades históricas, intensa produção cultural e científica e destacada atividade econômica. No entanto, quando lembrada, o assunto é sempre o mesmo: violência, tráfico de drogas e contrabando de armas. Insatisfeitos com essa narrativa convencional, que prioriza somente o “ilícito”, educandos do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) – Campus Fronteira Oeste, da cidade mato-grossense de Pontes e Lacerda, oferecem um contraponto: o projeto “Entretelas da Fronteira”.

“Queríamos fazer um projeto que mostrasse verdadeiramente nossa cidade e levar para as pessoas tudo o que a Fronteira tem a oferecer. Descobrimos, assim, muitas coisas que nem sabíamos que nossa região tinha”, afirma a educanda do 3º ano do Ensino Médio, Luana Soares.

Estudantes-criam-site-sobre-sua-regiãoOs estudantes realizaram pesquisas sobre a produção científica da região e aplicaram questionários na escola e na comunidade. Munidos de todas essas informações, criaram um site para o projeto, que cataloga e disponibiliza trabalhos do Brasil inteiro sobre o local.

Luana pondera que a Fronteira Oeste tem, claro, seus problemas, porém acredita que o bombardeio midiático, ao noticiar somente pontos negativos, interfere na construção da identidade de quem vive nesse território. Foi necessário, portanto, dar uma “resposta”. “Ao longo dos anos, com a ajuda da mídia, foi-se criando uma imagem negativa da Fronteira Oeste – assim como de todas as outras fronteiras, de forma geral. Com uma inquietação acerca desses estereótipos, nasceu o Entretelas”, complementa ela.

A iniciativa surgiu quando um grupo de estudantes e educadores realizava uma visita técnica em Vila Bela da Santíssima Trindade, cidade fundada em 1752 e que foi a primeira capital do estado. Luana – e seus colegas João Vitor Flauzino e Mariana do Bom Despacho -, encantados com o cenário que vislumbravam, perceberam que, apesar dos inúmeros monumentos históricos e da rica cultura da região, havia pouquíssimas informação na internet. “Pensamos: informações que não estão disponíveis a um clique é como se não existissem”, lembra João Vitor, que também cursa o 3º ano do Ensino Médio.

 

Onças e jacarés
Os três alunos – que foram finalistas da Olímpiada Nacional de História, promovida pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – já haviam notado a grande produção de material sobre a região, porém sem reconhecimento ou divulgação. “Desde o primeiro ano [do Ensino Médio] já viemos nos fortalecendo como equipe e escolhemos esse tema para ajudar a promover o desenvolvimento científico da nossa região”, rememora Luana ao falar sobre o surgimento do projeto depois da viagem à antiga capital do Mato Grosso.

A educadora Manuela da Silva acrescenta que, na fase final das Olímpiadas de História, os alunos sofreram com estereótipos construídos sobre a população que vive em regiões fronteiriças. “Os colegas de outros estados perguntavam: mas como é viver lá com onça; quando vocês tomam banho tem jacaré? São estereótipos entre o negativo e o exótico”, analisa ela.

alunos_e_professores_envolvidos_na_iniciativa_posam_para_a_foto_em_um_ambiente_externo“O que me chamou a atenção mesmo foi como essa forma – estereotipada – de ver a região afeta nossa vida”, conta João Vitor, lembrando que viveu todos seus 17 anos tentando combater estigmas como esses. “Pessoas estavam me impondo pensamentos e perspectivas ruins sobre a minha região. Às vezes, algumas ideias sobre nossa localidade, também se chocavam com a de alguns familiares e falávamos: não é bem assim. Íamos contra a corrente. [E por isso] vimos a necessidade da divulgação científica sobre a Fronteira Oeste”, argumenta o educando.

A educadora Manuela relata que, por isso, os alunos e alunas decidiram criar um novo canal: para formar e, também, para combater a propagação de “desinformações”. Certa vez, conta ela para dimensionar essa necessidade, os alunos analisaram, discursivamente, uma série de reportagens sobre a Fronteira, veiculadas pelo Jornal Nacional, da Rede Globo. O resultado foi aterrador: o conteúdo, transmitido em horário nobre nacional, reforçava esses mesmos estereótipos que os estudantes de Pontes e Lacerda tentavam combater.

“A gente percebe como essas narrativas da mídia – que são reafirmadas pelo senso comum – acabam sobrepondo as narrativas dos trabalhos acadêmicos produzidos pela nossa região”, afiança Manuela.

“Com o site, todos podem acessar e usar a tecnologia para divulgar o projeto e informações sobre a Fronteira Oeste. Já coletamos vários dados, mas nosso produto ainda está em construção e estamos pesquisando mais conteúdo para disponibilizar. É uma forma de dizer: aqui tem turismo, aqui tem riqueza, aqui tem história!”, defende Luana.

Com a implantação do projeto, os alunos realizaram intensa divulgação: boca-a-boca com conhecidos, promoção nas redes sociais, visitas a outras escolas e inscrição em premiações (como, por exemplo, o “Desafio Criativos da Escola”). A iniciativa também foi premiada na Feira Brasileira de Ciência e Engenharia (Febrace), realizada pela Universidade de São Paulo (USP), oportunidade em que o “trio do Entretelas” aproveitou a viagem à São Paulo para suscitar debates sobre as fronteiras brasileiras.

 

Parcerias contra falta de recursos
Apesar de enfrentarem dificuldades para captar recursos, os jovens contornaram esse problema firmando parcerias com outros grupos de pesquisa do campus (a escola técnica mantém contato com os cursos de Ensino Superior do IFMT), outras escolas e a Prefeitura. Inclusive, conta Manuela, há uma parceria em gestação para difundir o projeto na rede pública de ensino. “Os pais dos alunos [que participam do projeto] são professores da educação básica estadual e estão ajudando em tudo que eles precisam”, conta a professora.

estudantes_observando_objetos_sobre_uma_mesaMas o desafio mesmo, de acordo com o grupo, foi vencer o comodismo arraigado na população. “Muitos não viam vantagens em saber mais sobre nossa região, em sair da zona de conforto. Pensavam: é isso aqui mesmo e pronto”, observa Luana. “Mas, também, encontramos muitas pessoas que nos ajudaram no caminho, principalmente o pessoal da escola, ao passar nas salas de aula e realizar rodas de conversa. Inclusive, no próximo evento da escola, fomentaremos o projeto com os outros alunos”, anuncia a jovem.

Apesar de estarem no último ano do Ensino Médio, os estudantes envolvidos na iniciativa almejam que o Entretelas prossiga dando frutos para a escola e para toda a região. O plano é, ainda neste ano, expandir o site, criar jogos para a educação infantil que verse sobre o respeito à Fronteira, confeccionar material didático para o Ensino Médio – com o auxílio de professores do campus – e construir uma política interna para que, assim, outros alunos deem continuidade à iniciativa.

Manuela afirma que “métodos diferentes – indo além dos ‘blábláblás dos livros didáticos’ proporcionam inusitados – e positivos – resultados diferentes”, como as ações do projeto Entretelas da Fronteira.

“O grande desafio sempre é trabalhar para que os alunos sejam autônomos intelectualmente – e nós, professores, somos mediadores desse processo”, constata a educadora. “Mas, não queremos somente formar jovens capacitados intelectualmente e, sim, que sejam cidadãos ativos e críticos da realidade que o cercam. Esses jovens [do projeto] foram autônomos, tiveram a ideia e correram atrás”, conclui ela.

 

 

Você conhece um projeto protagonizado por crianças e jovens que está transformando a escola e a comunidade?

As inscrições para o Desafio Criativos da Escola 2018 vão até o dia 1 de outubro de 2018. Clique aqui, confira o regulamento e inscreva-se!

Redação: Rôney Rodrigues
Edição: Gabriel Maia Salgado
Imagens: Divulgação

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