Jovens de Reserva do Iguaçu (PR) se juntam a moradores e constroem memorial em comunidade quilombola.
A comunidade quilombola Paiol de Telha, localizada a 15 km de Reserva do Iguaçu (PR), aloja hoje cerca de 80 famílias. Em um ambiente de grandes dificuldades estruturais, em que ainda há casas de lona ou de madeira, por exemplo, homens, mulheres e crianças lutam diariamente não só pelo direito à moradia e à terra, mas também pela valorização da cultura afro-brasileira e quilombola. Com o objetivo de ajudá-los, estudantes do Colégio Estadual Professora Izabel Fonseca da Silveira se juntaram aos moradores da região e estão construindo um memorial resgatando técnicas de construção da própria comunidade.
Alunas e moradoras tiram foto em frente de parede preenchida com barro.
A ideia surgiu a partir de uma provocação da aluna Marta Lima, filha de moradores do local. “Meus pais moram lá e até então eles não tinham tanta visibilidade. Eu achei que esse projeto seria bom para a comunidade ser vista”, destaca a estudante.
A ação, que teve início em julho de 2017, hoje conta com a colaboração de aproximadamente 20 alunos entre o 1º, 2º, e 3º anos do ensino médio. A iniciativa foi batizada como “Aprendendo com o João de Barro”, já que o memorial – em fase de acabamento – está sendo feito com técnica que utiliza o barro, bem como faz essa espécie de passarinho. Como um dos resultados da mobilização dos alunos, o projeto foi um dos finalistas do Desafio Criativos da Escola 2017.
A proposta é que o memorial funcione como uma espécie de museu em que os quilombolas também possam expor os artesanatos que produzem e comercializam. Segundo a educadora que orienta a iniciativa, Sirlene de Oliveira, todas as ações têm sido feitas a partir de pesquisas e de testes realizados pelos alunos. Parte dessa investigação se deu por meio de conversas com os próprios habitantes da Paiol de Telha, que dividiram saberes antigos de seu povo com os alunos e alunas envolvidos na iniciativa.
O grupo, no entanto, enfrenta desafios como a dificuldade de regularização da posse da área para os moradores e as más condições das estradas que dão acesso ao local. “Ainda falta a titulação oficial e a comunidade ainda tem uma rede elétrica irregular, mas nós continuamos indo entre uma e duas vezes [de segunda a sexta-feira], além dos fins de semana”, complementa Marta.
Moradores e estudantes erguem estrutura de memorial da comunidade Paiol de Telha.
Mas como se faz?
Para que o memorial fosse erguido, os estudantes criaram uma estrutura inicial utilizando treliças de bambu e eucalipto amarradas com arame. Em um segundo momento, essa base foi revestida com barro amassado por mãos e pés de alunos e moradores da comunidade. O telhado, que ainda está sendo finalizado, é produzido a partir de placas feitas com caixinhas de leite emendadas umas nas outras, criando, segundo a professora Sirlene, uma “espécie de manta térmica que ajuda a manter o ambiente dentro do memorial fresquinho”.
Para além de ser um local de exposição, os estudantes pretendem também que sejam feitas atividades educativas no espaço. “Queremos convidar pessoas que gostam de ensinar o que sabem para passar o conhecimento para [membros da] comunidade quilombola”, comenta a aluna Marta.
Outro aluno envolvido, Jefferson Ramalho, conta sobre os efeitos do projeto também para o próprio grupo de estudantes: “[com o “Aprendendo com o João de Barro”, eu aprendi a ajudar o próximo. Foi bom para criar mais empatia e ganhar a amizade de pessoas da comunidade”.
Redação: Luiza Geiling Cruz
Edição: Gabriel Salgado
Imagens: Divulgação
